terça-feira, 11 de outubro de 2022

Resenha: Nad Sylvan – The Bride Said No (2017)


Artist: Nad Sylvan
Disco: The Bride Says No
Data de lançamento: 26 de Maio  de 2017
Selo: InsideOut Music
Tempo total: 60:03
Disponível em: CD, LP & Digital

A curta vinheta “Bridesmaids” pode levar a crer que ‘The Bride Said No’, novo disco de Nad Sylvan, será uma continuidade de todos os seus trabalhos anteriores, fortemente calcados no som característico do Genesis nos anos 70. Mas quando entram a base de guitarra e a bateria pesada da faixa seguinte, “The Quartermaster”, fica nítido que o trabalho flerta com uma paleta sonora bem mais ampla.

Até então, Sylvan sempre foi visto como herdeiro da sonoridade típica do Genesis, a começar por seu timbre vocal que foi apontado por vários críticos como uma mescla das vozes de Peter Gabriel e Phil Collins juntas. Não é apenas a voz que situa Nad tão próximo do universo do quinteto britânico: seu nível de adoração pelo Genesis o levou a batizar seu primeiro projeto de destaque no universo progressivo como Unifaun – cujo nome alude a um neologismo retirado dos primeiros versos de “Dancing In The Moonlight Knight”, clássica faixa de abertura de ‘Selling England By The Pound’.

A qualidade instrumental e vocal do Unifaun projetaram Nad a ponto de Steve Hackett vê-lo como uma ótima escolha para seu projeto ‘Genesis Revisited II’ – o que resultou em um convite para que o músico suíço cantasse no disco e fosse o vocalista principal da bem sucedida turnê.
Em 2015, já na banda de Hackett, Sylvan lançou um impressionante disco conceitual, ‘Courting The Widow’, que narrava uma história de vampiros passada no século XVII.

Em ‘The Bride Said No’, Nad pela primeira vez ousa na busca de um estilo próprio, o que significa se afastar mais do forte DNA genesiano de seus discos anteriores. O que não implica em uma ruptura total na carreira, pois, apesar das mudanças sonoras, existe uma continuidade temática com o disco anterior de 2015. “Não tive originalmente a ideia de continuar com essa história no novo álbum”, diz Nad, “mas o que aconteceu foi que revisei uma música que comecei a escrever em 1989, chamada “The Bride Said No”. Mantive algumas das ideias iniciais para os versos e também esse título, mas o resto da música é novo em folha. No entanto, o título em si me fez pensar que faria sentido se isso fosse usado em relação ao personagem vampírico de ‘Courting The Widow’. E a coisa toda se desenvolveu a partir daí”.

No aspecto sonoro é que houve o desejo de ruptura, como explica o próprio Nad: “Musicalmente, a gravação anterior estava muito localizada na década de 1970, e ainda é possível ouvir um pouco disso aqui. Mas esse novo disco tem um som muito mais moderno e diversificado. Na verdade, eu diria que está mais perto do teatro musical do que qualquer outra coisa”.
De fato, algumas faixas como “What Have You Done” lembram ‘Courting The Widow’, mas no geral outras nuances foram acrescentadas, com toques de prog metal, pop, e momentos bem dramáticos. Vale lembrar que, além de compor o material e ser o vocalista principal, Nad tocou boa parte das guitarras, teclados, violões e arranjos. Ao longo da resenha, menciono diretamente músicos importante desse disco, mas vale ressaltar aqui outros nomes como Roine Stolt e Jonas Reingold (The Flower Kings), Nick D’Virgilio e Doane Perry.

Cada uma das faixas tem peculiaridades que merecem ser discutidas. “The Quartermaster” é mais pesada e épica, enquanto “When The Music Dies” (apesar de seus sete minutos) tem uma pegada comercial bem acentuada, lembrando de longe o Genesis pop da fase ‘We Can’t Dance’.
“Esta (“When the Music Dies”) é um tributo a todos os grandes da música que perdemos ano passado. Tem tambores de bateria muito pesados, enquanto o baixista Tony Levin entrega um magnífico Chapman Stick distorcido. Eu escuto o que fizemos, e eu sei que tem um verdadeiro potencial de crossover. Não é só esse apelo aos adeptos do progressivo, mas também algo para uma multidão mais nova. Essa faixa poderia ser facilmente um grande sucesso!”

“The White Crown” é um pequeno épico, que inicia com um som suave de cravo logo entrecortado pelas guitarras potentes. O arranjo como um todo é cheio de altos e baixos muito ressaltados, intensificando a letra que narra o enlouquecimento do vampiro. Para ressaltar esse dado, o vocal de Nad assume um tom bastante teatral ao longo dessa faixa.
Como ele mesmo diz, “há uma pitada de um estilo meio ‘musical da Broadway’ aí. Tentei incorporar mais do meu lado emocional na música.”
O caráter conceitual e as mudanças de arranjo e andamento certamente deixam essa faixa confortável no rótulo de rock progressivo, mas, ainda assim, de acordo com Nad “introduzi também elementos de funk, rock pesado e música sinfônica teatral”.

A emotiva e longa balada “What Have You Done” é inevitavelmente um ponto alto do disco, e os motivos vão além da beleza de sua melodia e arranjo. Uma curiosa história ajuda a explicar do que se trata: de acordo com Nad, o líder da banda inglesa Camel, Andy Latimer, deveria ter sido o responsável pelos solos. Nad o convidou pensando em como sua guitarra “calorosa” combinaria com o que a faixa necessita. Contudo, Andy adoeceu, o que levou Nad a convidar o guitarrista Guthrie Govan (Steven Wilson/Lifesigns), mas este indicou na última hora que talvez não poderia comparecer. Nad então chamou Steve Hackett, que estava por perto e poderia representar um “plano B” interessante. O ex-Genesis compareceu ao estúdio, só que, na hora de gravar, Govan também apareceu. A solução encontrada foi combinar os solos dos dois guitarristas, fazendo contrastar seus estilos, e o resultado resultou magnífico. Importante mencionar também os duetos de Nad com a cantora suíça Jade Ell.

“Crime Of Passion” é uma das duas faixas de ‘The Bride Said No’ que não foram produzidas por Nad, mas por Anders Wollbeck, escritor e produtor suíço (a outra faixa é a já comentada “When the Music Dies”). Trata-se de uma canção intensa, com um refrão forte, e uma interpretação marcante de Sylvan. “A French Kiss In An Italian Cafe” é um belo contraponto para vir em seguida, pois compensa em sutileza o que a faixa anterior apresentava de peso. Tanto o vocal quanto a música em si lembram um pouco a carreira solo de Fish (ex-Marillion). Vale mencionar que o solo de saxofone ficou por conta da australiana Sheona Urquhart, que também fez backing vocals em várias faixas de ‘The Bride Said No’.

A faixa seguinte, de doze minutos, tem o mesmo nome do disco, e é possível interpretá-la como um resumo memorável de todas as qualidades do trabalho. Estão aqui as sonoridades antiga e nova de Nad Sylvan, sintetizadas e bem arranjadas em um tema marcante. “The Bride Said No” começa suave, oscilando entre os vocais de Nad e de Tania Doko (cantora conhecida pela música “Buses & Trains”, lançada pelo duo australiano Bachelor Girl em 1998). Entre as partes cantadas, um solo de guitarra de intensidades a la Tony Banks, e muitas alterações de dinâmicas, mas ainda prezando por certa delicadeza. Mais para o fim, o épico ganha intensidade, conduzido pelos vocais intensos de Tania e pelas orquestrações que anunciam o veredito da noiva: como o título já entregara desde o início, ela diz “não”.

Contudo, desculpem o clichê, mas seremos tolos se não dissermos um “sim” para este excelente disco. Nad Sylvan cada vez mais confirma que vai muito além de ter um timbre de voz interessante e uma presença de palco inusitada. Trata-se de um artista original, ótimo compositor e instrumentista, que tem contribuído bastante para injetar doses de inspiração no progressivo do século XXI. Quem gostava dos intensos flertes “genesianos” do músico suíço em seus discos anteriores talvez se decepcione com as mudanças de sonoridade. Ainda assim, as características essenciais do que Sylvan faz permanecem, aliadas à qualidade e o requinte que é comum em suas produções.

—————————————-

FICHA TÉCNICA:
Artista: Nad Sylvan
Ano: 2017
Álbum: The Bride Said No
Gênero: Rock Progressivo
País: England
Integrantes: Nad Sylvan (voz, teclados, guitarra, produtor), Tania Doko (vocais), Jonas Reingold (bass), Tony Levin (bass, Chapman Stick), Doane Perry (drums), Nick D’Virgilio (drums, percussion), Guthrie Govan (guitar), Roine Stolt (guitar), Steve Hackett (guitar), Anders Wollbeck (keyboards), Jade Ell (vocais), Sheona Urquhart (vocais), Alfons Karabuda (waterphone).

MÚSICAS:
1. Bridesmaids 1:14
2. The Quartermaster 5:38
3. When The Music Dies 7:00
4. The White Crown 6:16
5. What Have You Done 8:29
6. Crime Of Passion (Vampirate’s Anthem) 6:01
7. A French Kiss In An Italian Cafe 6:00
8. The Bride Said No 19:25


Sem comentários:

Enviar um comentário

Destaque

Maximillian – Maximillian (1969)

  MAXIMILLIAN foi formada por músicos de Nova York, que lançaram apenas este único álbum em 1969. Liderados pelo guitarrista Mojack Maximill...