sábado, 8 de outubro de 2022

Resenha: Renaissance Ao Vivo Palácio Das Artes – BH (28/05/2017)


Belo Horizonte recebeu o show de despedida do Renaissance que, pela primeira vez, passou por território brasileiro. Teatro lotado e ingressos esgotados há mais de um mês da data marcada. BH foi a primeira cidade brasileira a vender todas as entradas dentre as quatro escolhidas para a tour intitulada de Songs For All Our Times.
Com o passar dos anos, o Palácio das Artes se tornou palco de grandes espetáculos envolvendo alguns nomes no que se diz respeito aos medalhões do Rock Progressivo. Por lá já assistimos majestosas apresentações de bandas como PFM, Focus, Jon Anderson, Alan Parsons Project, Jethro Tull, Rick Wakeman, dentre outros.
Sempre fui muito segura quanto a acústica do Palácio, raramente decepcionam. Novamente, optei por assistir ao show no piso superior do teatro e dessa vez o som não chegou como deveria. O baixo soava um tanto grave em alguns momentos, chegando a prejudicar a audição vinda dos teclados. O violão chegou bem fraco no começo mas foi ajustado no decorrer da apresentação. Certamente, quem estava no nível do palco pôde desfrutar de um som mais limpo.

Vale lembrar que Annie Haslam passou por aqui em duas ocasiões onde, creio ter feito dueto nesse mesmo teatro, com dois grandes nomes da música mineira, Marcus Viana e Flávio Venturini em diferentes anos.

Como sempre, pelo menos por essas terras, o Rock Progressivo tende a agregar as mais diferentes gerações. Nesse show em particular, havia um número considerável de crianças, jovens sempre munidos de seus LPs, senhores de variadas idades acompanhados de suas esposas e filhos e, principalmente, há também aqueles que, assim como eu, costumam ir a certos shows sozinhos e para a minha surpresa, sentado ao meu lado esquerdo, um senhor que era a sósia perfeita do Fish (Marillion). Também marcaram presença na plateia alguns intelectuais da música mineira – já citados- nessa noite que seguramente entra para a lista dos mais grandiosos shows ocorridos em BH.

Setlist impecável, muito bem selecionado e mais voltado para uma seleção de faixas mais acústicas, onde não se exigia em quase nada o uso da guitarra elétrica, sendo esta lindamente substituída por belos arranjos de violão do simpático e muito competente Mark Lambert.
A banda também contava com dois excelentes tecladistas americanos que foram os coadjuvantes de luxo a acompanhar a angelical voz de Haslam no decorrer do show. As principais passagens de piano digital ficaram por conta do compositor de trilhas, Rave Tesar, que vem acompanhando o Renaissance desde o começo desta década.Tesar, além possuir uma formação nitidamente mais clássica e ser extremamente técnico, se encaixou perfeitamente a proposta da banda que sempre teve o rótulo de ser a mais lírica do gênero progressivo.

Já no outro lado do palco, estava o já conhecido Tom Brislin, que já é nome conhecido e também acompanhou o YES de forma espetacular em 2009, tendo seu nome creditado ao excelente disco ao vivo,  YES Symphonic.
Brislin tomou conta dos sintetizadores também digitais, hora destilando toda uma técnica em solos impecáveis, hora acompanhando as lindas passagens de piano executadas por Tesar. Jovem tecladista ao qual muito me impressionou pelo bom gosto na escolha dos mais variados timbres que chegaram bem perto aos originais dos anos 70, com poucas variações.

A banda foi muito bem conduzida pelo sério e muito técnico baterista Charles Descarfino, que se rendeu a magia do Rock Progressivo, deixando em hiato seus projetos direcionados as artes cênicas. Profissional muito competente e diversificado, conseguindo tocar qualquer gênero musical sem perder sua nítida virtuosidade. Descarfino chegou a participar do disco acústico do Renaissancegravado em 2000 na Filadélfia.

A sequência na execução das faixas foi muito bem elaborada ao meu ver. “Prologue” abriu o show com sua característica semi instrumental, onde Annie Haslam fazia ali uma espécie de aquecimento vocal, dando apenas uma pequena amostra ao que viria pela frente.

Logo em seguida vieram dois clássicos essenciais em deslumbrantes versões. “Carpet of the Sun” e “Ocean Gipsy” foram bem marcantes. A primeira, por ser um dos muitos clássicos, contou com a introdução vinda do violão de Lambert, entrelaçando seus acordes ao belo piano de Rave Tesar, algo que foi bonito demais de se ver logo no começo do espetáculo. A segunda muito me emocionou por ser uma das mais lindas composições da banda, vinda de um disco que é indispensável a qualquer admirador do gênero progressivo. Versão impecável onde todos os instrumentos se completavam em total entrosamento, de forma a conduzir a voz de Annie Haslam com extrema delicadeza e sofisticação.

“Grandine Il Vento”“Simphony of Light” e “The Mystic and The Muse” foram as faixas selecionadas para representar o último álbum de estúdio lançado em 2013, logo após a morte do guitarrista Michael Dunford, único remanescente após a era Jane Relf.  Dunford e Haslam chegaram a compôr juntos o disco e ainda contaram com participações especiais de Ian Anderson e do saudoso John Wetton.
Sinceramente, não é um trabalho em estúdio ao qual me chamou muito a atenção, algumas faixas são lindas, e outras melancólicas demais porém, a execução ao vivo me trouxe uma perspectiva bem diferente.

“Let It Grow” foi outro clássico que contagiou o teatro, seguido pela execução de “Mother Russia” que pagou o ingresso. Grandiosa composição, onde ambos tecladistas foram, de certa forma, desafiados a  substituir uma orquestra sem lesar os instrumentos de base. Trata-se de uma linda obra, construída em torno de uma das melodias mais sedutoras e bem trabalhadas do Rock Progressivo em geral.

“Sounds of the Sea” e “A Song For All Seasons” praticamente encerravam a grandiosidade daquele belo espetáculo. Esta última também merece destaque por seus belos arranjos, variadas atmosferas sincronizadas a voz angelical das tão famosas 5 oitavas de Annie Haslam.

bis ficou por conta de uma agradável homenagem ao Brasil em forma de Bossa Nova, com a releitura de “Quiet Nights of Quiet Stars (Corcovado)”, composta por Tom Jobim e imortalizada na voz de Frank Sinatra. A versão em inglês foi originalmente gravada em 1967 como parte do álbum “Francis Albert Sinatra & Antônio Carlos Jobim”. A versão executada pelo Renaissance agradou e muito a todos os presentes.

“Ashes are Burning” foi o encerramento mais emblemático que já pude ver de perto. A banda teve momentos de descontração e envolveu o público com solos muito bem elaborados pelo baixista americano Leo Traversa, sem desviar a coerência de sua execução. Em meio a esses solos a cinco cordas, saíram alguns pequenos trechos de músicas do Clube da Esquina. Creio que as duas primeiras tenham sido ‘Ponta de Areia’ e ‘Vera Cruz’, ambas de autoria de Milton Nascimento. As outras, não consegui identificar.
Esse cara já passou diversas vezes pelo Brasil tocando ao lado de músicos como o próprio Milton, Toninho Horta, Ivan Lins, citando apenas alguns.
O solo poderoso de sintetizadores executado por Brislin foi apenas uma pequena amostra do que esse menino é capaz.

Tive a honra de agradecer pessoalmente a Mark Lambert e Annie Haslam pelo memorável espetáculo que ficará guardado nas melhores recordações da grande maioria dos presentes. O que presenciamos na noite do último domingo, foi nada menos do que uma verdadeira aula de progressivo sinfônico.

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