Unindo esperança e desesperança em forma de um indie eletrônico experimental, Daniel Pandeló Corrêa se juntou ao produtor musical Hugo Noguchi em seu primeiro trabalho puramente musical: o EP Em Glória ou em Ruína.
Fazendo um registro da sensação de saber que o amanhã vai ser ruim, mas que a dor vai passar, tão comum no Brasil atual, o lançamento está disponível em todas as plataformas de música.
Pela primeira vez, o autor se assume artista. Deixa de lado o lançamento de um livro de poesias para acompanhar o álbum, explicitando a necessidade de consumir esses versos na forma como foram compostos: um fluxo de palavras acompanhadas de riffs e beats, de uma ambiência que soma à urgência das estrofes.
Em Glória ou Em Ruína faz uma conexão com os últimos lançamentos de Daniel, voltados para o spoken word poético, porém avançando sua estética em sintonia com a produção musical afiada de Noguchi.
“Comecei a escrever coisas que estão nesses 10 minutos em 2015, no início do processo do golpe e de uma guinada do país rumo a um obscurantismo que me deixava completamente desesperançoso. Mas algo aconteceu no começo de 2020: nasceu minha filha, a Flora. Várias coisas deste EP foram escritas com ela dormindo no meu colo de madrugada, chorando, pensando se foi um erro ter colocado uma criança nesse mundo de merda. Mas uma coisa aprendi com ela: por mais que fosse difícil a noite, a manhã sempre vinha. Esse é o mote por trás desse projeto: trazer coisas muito ruins, mas com uma esperança lá no fim do túnel. Não sabemos como vai ser o amanhã há alguns anos, estamos acumulando calos e cicatrizes, mas vai passar. Em glória ou em ruína, nós vamos chegar ao fim”, conta Daniel.
O projeto se junta ao EP Invocações e ao disco Voando Reto num Muro de Tijolos como amostras de um novo direcionamento na carreira de Daniel, que vem sendo construída desde 2006, quando lançou a estreia Bucolidade Urbana aos 16 anos.
De lá para cá, Daniel Pandeló Corrêa vem transitando entre a poesia, a composição musical, o conto e a novela – desde então, já lançou também o cordel Nadastar (2007) e Tristes camelos (2009).
Em Bucolidade Urbana, ele reuniu contos e poemas publicados em seu blog entre 2003 e 2006. São pequenas tragédias urbanas, de encontros e desencontros, alegrias e tristezas, com as nuances do olhar adolescente sobre uma realidade desigual.
Já em Nadastar, cria um nordeste mítico em um interior qualquer para contar a história de amor entre uma mulher e uma televisão. Por fim, Tristes camelos é uma novela sobre obsessões sob o ponto de vista de um homem que não consegue lidar com um amor fracassado.
Em Invocações (2020), o artista recorre a preces pouco usuais em reflexões sobre espaços urbanos por onde passou, do Brasil à Europa, em uma busca por algo transcendental do passado que pudesse guiar para o futuro.
E Voando Reto Num Muro de Tijolos (2020) é uma viagem por memórias e traumas acompanhando um narrador que busca respostas sobre o que é. Seja evidenciando casos de racismo ou vergonhas, o projeto traz um desespero de algo que queria ser dito há muito tempo, unindo influências que vão do indie ao samba, passando pela música latina.
Agora, para Em Glória ou em Ruína, ele traz um pouco da estética experimental unida ao spoken word que o produtor Hugo Noguchi tem feito em seu projeto solo, como por exemplo no álbum Humaniora, de 2021.
“Eu admiro muito o trabalho do Hugo em todas suas facetas, seja nas bandas que ele fez parte ou nos projetos que ele produz e em sua postura política. Foi uma escolha de sonho trabalhar com ele. Ele pegou notas feitas em áudio no meu celular, como desabafos, editou e transformou em basicamente um som eletrônico em formato live set, pensado para ser ouvido tudo de uma vez só, com uma mistura de verborragia e carinho”, conta Daniel.
Com produção musical, mixagem e masterização de Hugo Noguchi e arte de Victoria Groppo, Em Glória ou em Ruína está disponível em todas as plataformas de música. Toda a obra literária de Daniel Pandeló Corrêa está disponível para download gratuito em seu site oficial.
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