sábado, 5 de novembro de 2022

POEMAS CANTADOS DE SÉRGIO GODINHO

Não Me Beijes Por Engano

Sérgio Godinho

 

Coisas...!

O acaso às vezes faz cada coisa...

coisa que se diz do destino

ousas

repousar em mim, felino, o olhar

eu, que hoje nem vinha a este bar

fazes com os dedos um olá furtivo

e logo num caudal revivo

palavras antigas de um ano


Não me beijes por engano

não me causes maior dano

do que aquele que causaste

no dia em que aproximaste

os teus lábios do meu peito

e num momento perfeito

de paz e de assombração

tocaste o meu coração


Tocas

com os dedos mensageiros no corpo

chego-te em controle remoto

voto

em ficar por mais um século assim

bebericando do teu gin

tens já o olhar afogueado e pardo

ardido no vento em que ardo

pousado na brisa em que plano


Não me beijes por engano...etc.


Faço que dormito pra te olhar do meu canto

conheço-te os canto à casa

faz a

tua jura de quem casa comigo

e êxtases novos te predigo

mas não estás só nem mal acompanhada

e talvez que até mais bem amada

aplausos e corra-se o pano


Não me beijes por engano...etc


Não Respire

Sérgio Godinho

 

Tudo na vida nos diz

Que é num momento fugaz

O tempo de um raio-x

Que a gente quer ser feliz

Vai ser capaz?


Vai ser capaz de sair?

Vai ser capaz de aguentar?

Por todo o ser no parar

E nisso enfim emergir

Vir respirar!


Não respire!

Pode respirar

Não respire!

Pode respirar

Não respire!

Pode respirar

Não respire!

Pode respirar

Pode respirar

Não respire

Pode respirar


Ando sobre brasas

Desço a ladeira

Com o trocado certo

Dentro da algibeira


É um dia que morre

E outro que nasce

Se encontrar o homem

O negócio faz-se


Este bairro ao vento

É meu desamigo

Quero mais eu quero mais

Eu bato ao postigo


Tremo e treme o vento

Quero de novo

O falcão que pousa

No meu braço o seu ovo


Não respire!

Pode respirar

Não respire!

Pode respirar

Não respire!

Pode respirar

Pode respirar

Não respire

Pode respirar

Pode respirar

Não respire

Pode respirar


Ando sobre rodas

Subo à cidade

Giro na rotunda

Do Marquês de Sade


Esquartejou os Távoras

E os Jesuítas

Desenhou prás casas

As ruas malditas


Liberdade é nome

Só de avenida

Longe fica o rio

Da impossível partida


Um barco trancado

Na minha veia

E braços como aranhas

Enredadas na teia


Não respire!

Pode respirar

Não respire!

Pode respirar

Não respire!

Pode respirar

Pode respirar

Não respire

Pode respirar

Pode respirar

Não respire

Pode respirar


Vou deitado em pregos

Eu vou de maca

E é na sala branca

Que chega a ressaca


Na sala castanha

Chega a polícia

Preso reincidente

Já não é notícia


Grito que me perco

Ninguém me acode

Quem já me matou

Também que não se incomode


Sou só carne e osso

Belo dueto

Vou doar à pátria

O coração e o esqueleto


Não respire!

Pode respirar

Não respire!

Pode respirar

Não respire!

Pode respirar

Não respire!

Pode respirar

Pode respirar

Não respire

Pode respirar

Pode respirar

Não respire

Pode respirar

Pode respirar

Não respire

Pode respirar


Tudo na vida nos diz

Que é num momento fugaz

O tempo de um raio-x

Que a gente quer ser feliz

Vai ser capaz?


Vai ser capaz de sair?

Vai ser capaz de aguentar?

Pode tudo o ser no parar

E nisso enfim emergir

Vir respirar!

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