Não Me Beijes Por Engano
Sérgio Godinho
Coisas...!
O acaso às vezes faz cada coisa...
coisa que se diz do destino
ousas
repousar em mim, felino, o olhar
eu, que hoje nem vinha a este bar
fazes com os dedos um olá furtivo
e logo num caudal revivo
palavras antigas de um ano
Não me beijes por engano
não me causes maior dano
do que aquele que causaste
no dia em que aproximaste
os teus lábios do meu peito
e num momento perfeito
de paz e de assombração
tocaste o meu coração
Tocas
com os dedos mensageiros no corpo
chego-te em controle remoto
voto
em ficar por mais um século assim
bebericando do teu gin
tens já o olhar afogueado e pardo
ardido no vento em que ardo
pousado na brisa em que plano
Não me beijes por engano...etc.
Faço que dormito pra te olhar do meu canto
conheço-te os canto à casa
faz a
tua jura de quem casa comigo
e êxtases novos te predigo
mas não estás só nem mal acompanhada
e talvez que até mais bem amada
aplausos e corra-se o pano
Não me beijes por engano...etc
Não Respire
Sérgio Godinho
Tudo na vida nos diz
Que é num momento fugaz
O tempo de um raio-x
Que a gente quer ser feliz
Vai ser capaz?
Vai ser capaz de sair?
Vai ser capaz de aguentar?
Por todo o ser no parar
E nisso enfim emergir
Vir respirar!
Não respire!
Pode respirar
Não respire!
Pode respirar
Não respire!
Pode respirar
Não respire!
Pode respirar
Pode respirar
Não respire
Pode respirar
Ando sobre brasas
Desço a ladeira
Com o trocado certo
Dentro da algibeira
É um dia que morre
E outro que nasce
Se encontrar o homem
O negócio faz-se
Este bairro ao vento
É meu desamigo
Quero mais eu quero mais
Eu bato ao postigo
Tremo e treme o vento
Quero de novo
O falcão que pousa
No meu braço o seu ovo
Não respire!
Pode respirar
Não respire!
Pode respirar
Não respire!
Pode respirar
Pode respirar
Não respire
Pode respirar
Pode respirar
Não respire
Pode respirar
Ando sobre rodas
Subo à cidade
Giro na rotunda
Do Marquês de Sade
Esquartejou os Távoras
E os Jesuítas
Desenhou prás casas
As ruas malditas
Liberdade é nome
Só de avenida
Longe fica o rio
Da impossível partida
Um barco trancado
Na minha veia
E braços como aranhas
Enredadas na teia
Não respire!
Pode respirar
Não respire!
Pode respirar
Não respire!
Pode respirar
Pode respirar
Não respire
Pode respirar
Pode respirar
Não respire
Pode respirar
Vou deitado em pregos
Eu vou de maca
E é na sala branca
Que chega a ressaca
Na sala castanha
Chega a polícia
Preso reincidente
Já não é notícia
Grito que me perco
Ninguém me acode
Quem já me matou
Também que não se incomode
Sou só carne e osso
Belo dueto
Vou doar à pátria
O coração e o esqueleto
Não respire!
Pode respirar
Não respire!
Pode respirar
Não respire!
Pode respirar
Não respire!
Pode respirar
Pode respirar
Não respire
Pode respirar
Pode respirar
Não respire
Pode respirar
Pode respirar
Não respire
Pode respirar
Tudo na vida nos diz
Que é num momento fugaz
O tempo de um raio-x
Que a gente quer ser feliz
Vai ser capaz?
Vai ser capaz de sair?
Vai ser capaz de aguentar?
Pode tudo o ser no parar
E nisso enfim emergir
Vir respirar!

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