No disco mais adulto dos Red Hot Chili Peppers, o ingrediente mágico acaba por se tornar evidente: o fim da vergonha de John Frusciante em mostrar todo o seu arsenal de truques.
Foi em 1991 que os solos de guitarra ficaram fora de moda. O lamento foi feito, à época, por Kirk Hammet, o senhor da guitarra dos Metallica que nesse ano lançavam o álbum preto e assistiam, ainda que confortavelmente entre os campeões de vendas, aos Nirvana a mudar as regras do jogo. Os anos 90 revelar-se-iam uma década em que das guitarras se queria atitude, muita distorção e pouco exibicionismo. Mesmo que o arranque tenha sido antes, foi em 1991 que os Red Hot Chili Peppers chegaram ao mainstream, com Blood Sugar Sex Magik, foi com essas regras que John Frusciante jogou. Pelo menos, até 2006, o auge do sucesso comercial, ano a que chegaram embalados de dois anos de digressão mundial.
O embalo vinha de By The Way, na verdade até do antecessor Californication, quando pararam para compor música nova e, com Rick Rubin para a produção, traçar o plano: uma trilogia de discos. No final, acabaria por sair Stadium Arcadium, disco duplo de 28 canções, a deixar outras dez no forno para lançar nos anos seguintes. A maior revolução, contudo, não estaria no formato ou na dimensão do disco, o maior salto foi audível no disco que se tornaria no primeiro número um da banda nos Estados Unidos, merecedor de quatro Grammys. E de onde nasceu?
Se por um lado, ao longo dos anos, Kiedis e Flea reconheceram que o disco nascera de uma banda mais alinhada, audível, passados quinze anos do seu lançamento, é o salto de Frusciante, o ingrediente nem por isso secreto dos melhores discos da banda. Sem vergonha de mostrar o virtuosismo que sempre teve nos dedos, com voz suficientemente pesada entre companheiros de banda para contrariar Flea, sempre defensor da faceta mais punk da banda, em Stadium Arcadium é da guitarra que saltam as maiores diferenças para a restante discografia.
Há funk pesado (“She’s Only 18”), também o há mais saltitante (“Hump de Bump”), mas é em canções como “We Believe” ou “Strip my Mind” que melhor se nota que Stadium Arcadium é, provavelmente, o disco mais adulto até então da banda, agora segura e apta para mostrar toda a musicalidade que só os mais atentos lhe tinham descoberto. Dúvidas? É de ouvir “Hard to Concentrate”, do baixo que se faz discreto, às réplicas da guitarra de Frusciante .
Se Blood Sugar Sex Magik (1991) os apresentou ao mundo e se Californication (1999) lhes abriu a porta do novo século, foi Stadium Arcadium que tornou claro que nada acontece por acidente. É verdade que o funk dos Red Hot Chili Peppers é único, que o peso das suas canções nunca lhes rouba a melodia, que Kiedis sempre cantou como poucos e que Flea nunca aparece longe do topo nas listas reservadas aos melhores baixistas da música mainstream. Não é menos verdade que Frusciante sempre foi melhor e maior do que o crédito recebido. Basta carregar no play para ficar sem dúvidas.
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