A cantora canadense de origem colombiana Lido Pimienta vem fazendo barulho na cena independente há um bom tempo, desde que sua estreia “La Papessa” (2016) venceu o Polaris Music Prize, a mais alta honraria da música canadense. Mas, só com o lançamento de seu álbum mais recente fui apresentado à sua sonoridade única, e que foi uma grata surpresa. Com seu resgate das da música latina misturado com uma roupagem Pop, “Miss Colombia” é o nosso assunto de hoje.
É interessante notar que, nesses quatro anos desde a estreia de Lido, o cenário global para a música latina (termo essencialmente genérico) sofreu um boom gigantesco, com o sucesso avassalador do Reggaeton e artistas como a espanhola Rosalía e sua sensacional mistura de música flamenca com o Pop. E, mesmo nesse cenário, ela ainda transcende qualquer estereótipo. Um elemento-chave para essa sonoridade tão única é o resgate que a cantora faz de suas raízes indígenas e da vastidão cultural da Colômbia, de estilos como a Cúmbia e o Bullerengue, ao mesmo tempo que trabalha com todas as sutilezas da produção característica de um disco Pop. A força multifacetada dessa identidade já se faz presente na capa, colorida e com um certo teor religioso, e transborda em cada uma das 11 faixas.
“Para Transcribir (SOL)” joga os holofotes na plasticidade à la Björk de sua voz, até a explosão de “Eso Que Tu Haces”, com sua simbiose da percussão marcante com sintetizadores, além de um refrão absurdamente pegajoso. A parceria com a também colombiana Li Saumet em “Nada” segue nesse ponto de equilíbrio perfeito, na que é a canção mais cativante do disco. Uma certa influência do Hip Hop na produção fica evidente nos baixos pesadíssimos da atmosférica “No Pude”.
Mas a partir de “Quiero Que Me Salves”, o álbum dá uma guinada às tradições colombianas. Desde seu prelúdio, um relato histórico de Rafael Cassiani Cassiani, líder do Sexteto Tabala que é responsável pela instrumentação da música, que é uma das coisas mais fortes que ouvi nesse ano. Uma jam session latina de primeira e que transborda identidade cultural e um teor de protesto. A mesma comunhão presente na faixa reaparece no encerramento “Para Transcribir (LUNA)” que repete o motivo da abertura, mas dessa vez com várias vozes que ressaltam a força de seu discurso.
A luta de uma mulher através da arte, “Miss Colombia” é um disco necessário, vívido e de uma sonoridade única!
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