Jubilee é um disco que deu gozo a fazer, com singles pop doces, refrões cativantes e uma sonoridade que tanto pede uma pista de dança como uma longa viagem noturna de carro.
Há uma certa tendência para associar a palavra jubileu a grandes festas dadas em honra da família real inglesa. De facto, o jubileu serve para celebrar a passagem do tempo e marcar de forma solene um aniversário importante e o início de uma nova era. O Jubilee de Japanese Breakfast quer ter exactamente este propósito. Os dois primeiros álbuns da carreira discográfica de Michelle Zauner, Psychopomp de 2016 e Soft Sounds From Another Planet, de 2017, gravitam ambos em torno da morte da sua mãe, da dor e do luto. Com Jubilee, Zauner procurou romper com essa tendência e entregar-se à criação de um álbum sobre a alegria e sobre reaprender a senti-la, ao mesmo tempo que reencontra também o prazer de criar, anunciando assim, com pompa e circunstância, uma nova era no seu reinado.
Lançado em junho de 2021, Jubilee é um disco pop que constrói, através de detalhes elétricos e ocasionais apontamentos de cordas ou de saxofones, uma textura sonora envolvente, que tanto pede uma pista de dança, como uma longa viagem noturna de carro. Cada canção tem a sua sonoridade e respetiva influência, desde singles pop dançantes e cheios de luz até, por exemplo “Slide Tacke”, dominada pela batida de uma drum machine ou “Posing in Bondage” que podia ser uma canção dos XX. O fio condutor é voz doce de Zauner e a tal alegria que está a (tentar) sentir.
É, portanto, um álbum coeso, em que o conjunto faz sentido, ainda que as partes não encaixem na perfeição à primeira vista. Por exemplo, muitas das canções de Jubilee falam de relações, umas mais felizes e bem-sucedidas do que outras, como é o caso do amor adolescente condenado de “Kokomo, IN”, ou “In Hell”, talvez a única canção verdadeiramente triste do disco. Pelo contrário, “Posing in Bondage” é um lamento solitário desejoso da estabilidade (ou da “bondage”) da monogamia e em “Posing for Cars”, balada (quase) acústica que encerra o disco, temos Zauner a cantar apaixonadamente sobre a beleza do amor que duas pessoas podem partilhar.
Impossível não destacar também o lado mais colorido e luminoso deste 3º trabalho de Japanese Breakfast. “Paprika”, canção com nome de filme (Paprika [2006] de Satoshi Konque), abre o disco e dá na perfeição o mote para o que se seguirá. Sintetizadores que soam quase a acordes de um órgão de igreja transformam-se numa alegre canção pop onde, num ritmo bem marcado, Zauner reflete sobre o seu amor pela música, que parece começar agora a apreciar, bem como o que significa ter uma audiência e sentir o seu apoio (“Projеcting your visions to strangers who feel it, who listen to linger on еvery word. Oh, it’s a rush”). O refrão é enérgico e deixa transparecer a recém encontrada alegria de que fala Zauner. A faixa seguinte, “Be Sweet”, foi a primeira a ser avançada em antecipação do novo álbum e não foge à fórmula da canção anterior. “Be Sweet” é mais uma bela canção pop com um baixo gingão, guitarras brilhantes e coros leves e bem-dispostos. É quase irresistível não entoar alegremente “Be sweet to me, baby I wanna believe in you, I wanna believе in something”. Finalmente, “Savage Good Boy”, que surge já na segunda metade do álbum, é uma divertida sátira daquelas pessoas que acumulam tanto dinheiro que acabam a racionalizar compras estapafúrdias como bunkers (ou mesmo viagens ao espaço para se divertirem).
Jubilee é um disco que sentimos que deu gozo fazer, musicalmente rico e variado, com refrões fortes e com letras que revelam não só uma grande profundidade emocional como também uma bonita capacidade de criar personagens interessantes e de contar histórias. A história da música já nos ensinou que um grande desgosto é o motor perfeito para grandes canções, mas é de saudar este trabalho em que Michelle Zauner se serviu precisamente do que vem depois do desgosto para fazer um dos mais interessantes discos deste ano.
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