O intervalo entre o primeiro disco (“El Toro!”) e esse “Entre a Piscina e o Trampolim” é de quase uma década, a formação do quarteto brasilense mudou um bocado, mas pode acreditar que a Suíte Super Luxo está de volta, com todas as suas histórias, rocks, voltas e revoltas. Sim, há mudanças na formação, mas o guitarrista/vocalista Luc Albano segue no comando, como compositor da grande maioria das músicas, o que já se percebe ao reconhecer sua voz característica e nas letras que seguramente sobram no contexto intramuros do rock nacional, com boa métrica e encaixe precioso. Em meia horinha de boas canções, onde até o título é omitido em um verso de “Estrelar”, que abre o disco, o grupo retoma a trajetória iniciada com muita propriedade.
Acontece que, só de escutar as primeiras músicas desse novo trabalho, se sucede um incontrolável desejo de colocar na vitrola justamente o anterior, e aí há que se abrir um parêntese. Porque “El Toro!” é um disco extraordinário que mais parece uma coletânea de grandes sucessos de uma banda das mais experientes, não uma estreia no mercado independente. Da primeira até - ao menos – a sétima faixa está-se diante de hits incontestáveis, músicas colantes que atropelam o ouvinte sem dó. Um apanhado de rocks fortes, contemporâneos e com letras bem sacadas que se transformou, agora, olhando de longe, em um verdadeiro oásis juvenil numa época dominada pela incurável febre emepebista cabeçuda desencadeada pelo Los Hermanos. Um coletivo dramático melancólico retratista da juventude emoldurada pelo próprio rock em si.
Diante disso, o olhar para esse novo álbum, de uma banda que se imaginava extinta, não deixa de ser um motivo de grande expectativa, muito embora seja consenso a impossibilidade da criação de outra pérola como “El Toro!”. Senão vejamos. Mantêm-se as citações aos anos 60 e ao rock mais dançante dos 80, mas não vale à pena perseguir referências quando, no fundo, no fundo, a Suíte não parece com nada e remete a tudo, como o bom rock tem que ser. Luc Albano também não perde a mão quando o assunto é contar boas histórias, de um jeito incomum em se tratando de rock. O sujeito se vale de uma riqueza vocabular para destrinchar crônicas espertas, mas cujo entendimento é simples, e nem precisa ser assim. Ou seja, estamos diante de uma banda peculiar.
“Cara no Chão”, por exemplo, candidata a hit do álbum, tem um pé no rock de raiz/sessentista com uma guitarra solante na cola de cada um dos versos e um refrãozaço de pirar o mais contido dos malucos da pista. Ela forma a trinca que é o momento mais que especial do CD, com “Favas”, peça aliterante de fazer inveja a Gil e Gessinger de muito bom gosto. Musicalmente minimalista, realça uma discreta guitarrinha funk e remete direto à sonoridade do Pixies em seus melhores momentos. O complemento vem com a deliciosa melodia de “Nada Que Não vire”, que cola nos cornos do ouvinte antes mesmo de a música se desenrolar. Vamos e venhamos, qual álbum de rock feito no Brasil tem uma artilharia dessas logo na primeira parte?
Sim, o disco se reveza em momentos melhores e piores, mas o patamar é bem alto, embora dessa vez a produção não contribua tanto para o conjunto da obra, como acontecia em “El Toro!”; a comparação, que já soa enfadonha, é inevitável. “Gíria das Pernas (Preciso Me Mexer)” é outra que se salienta, com um riff totalmente Kinks e mais um refrão daqueles, pra não ficar deprê. “Jasmim”, de início lúdico, aposta na renovação dos relacionamentos e tem um corinho (a segunda voz é praxe) kitsch à Skank dos mais interessantes, e o grupo investe em certo exagero aliterático já no título da atraente “Fotografia Verborrágica Quilométrica”, outra feita para sacodir o salão. Se não supera a si próprio, e não parecia possível, a Suíte Super Luxo volta à tona com um belo disco. Que não desapareça por tanto tempo dessa vez, porque é disso que o rock precisa.
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