30 de novembro de 2017.
O dia mais triste do Rock português.
Foi precisamente há cinco anos que o país viu o sol da tarde transformar-se no escuro da noite, embalado por uma notícia – que lá no fundo sabíamos que chegaria – mas que ainda não estávamos preparados para ouvir.
“Morreu Zé Pedro”.
Todos os telejornais abriram da mesma maneira, mas nem assim nos parecia verdade…. Foi preciso ouvir as palavras mágicas que se seguiam ao seu nome, como que se do seu próprio apelido se tratasse, para termos a certeza absoluta daquilo que estávamos a ouvir.
“… guitarrista dos Xutos e Pontapés”.
Só assim conseguimos acreditar.
Morreu esse Zé Pedro.
O “nosso” Zé Pedro.
Muitos dias passaram desde esse fim de tarde.
E se ao princípio nos parecia algo impossível, a verdade é que com o correr do tempo, as trevas começaram a abrir e o sol voltou a brilhar.
Tal como ele nos tinha prometido.
Mas não foi um deserto nada fácil de atravessar. Os Xutos que o digam…
Após assistirem ao fim da morte lenta do seu homem do leme os Xutos tremeram. Depois do choque sofreram. Caíram e choraram. Durante o tempo que precisaram. Até que sararam as feridas, limparam as lágrimas e se levantaram.
A 13 de Janeiro, com todo o simbolismo que essa data acarreta, os Xutos voltaram.
A primeira prova de fogo foi retomar as gravações do “Duro”. Um disco que já vinha sendo idealizado desde 2014 quando saiu o seu par “Puro”. Ouvir as guitarras gravadas sem ver as mãos de onde elas saíram. Nunca o nome de um disco foi tão acidentalmente acertado… E como se terminar o “Duro” não fosse já um gigante ato de coragem, ainda o apresentaram ao vivo, em Lisboa e no Porto, com uma força e uma resiliência, que apesar de já lhes serem características, ainda nos conseguiram surpreender.
Luto feito seguiram-se as homenagens.
Que começaram no ano seguinte, no Rock in Rio (where else?) com aquele que foi, sem margem para dúvidas, o concerto mais difícil e mais emocionante que os Xutos alguma vez deram no parque da Bela Vista. E quem é que vai esquecer o melhor encore de todos os tempos? Até o céu chorou! O que não conseguiu demover ninguém… Nem o público, nem a multidão que inundou o Palco Mundo, se atreveram a arredar pé. Ficaram todos, orgulhosamente encharcados, até ao fim para se despedirem do seu ídolo cantando “A Casinha” com mais alma e coração que nunca. Memorável.
Mas por muito comovente que esse regresso a casa tenha sido, a mais bela das homenagens – por ser a mais genuína e fiel de todas – aconteceu cerca de um mês depois noutro festival. “Who The F*ck Is Zé Pedro?” foi um concerto de homenagem, daqueles que só se veem lá fora (até nisso ele tinha de ser o primeiro: rockstar do princípio ao fim!), que abriu a 24ª edição do Super Bock Super Rock. Um espetáculo muito especial, no qual familiares e amigos músicos (admiradores e admirados) vindos dos vários cantos do país, fizeram o “Altice Arena” viajar pela vida musical de Zé Pedro. Tal como ele, o público foi a “Mont-de-Marsan” à boleia dos Clash, voltou a Lisboa com os Xutos, e por lá ficou uns bons anos a saborear êxito atrás de êxito, abriu e fechou as portas do “Johnny Guitar” ao som do “Palma’s Gang”, até que se deixou assaltar pelos “Ladrões do Tempo”. Uma última oportunidade de partilhar (ainda que indiretamente) com o público aquela que sempre foi a sua grande paixão. O presente perfeito.
Falando em presentes, e saltando um pouco fora dos concertos, foram também vários os artistas que quiseram, ao longo dos últimos anos, oferecer ao Zé Pedro uma homenagem mais pessoal, dedicando-lhe músicas da sua autoria. Alguns exemplos dessas canções são a “És do Mundo” do amigo João Pedro Pais (tocada no SBSR), a “Geshe” do “sobrinho” Fred, e a “The Egyptian Magician” dos companheiros Dead Combo.
Mas nem só de música vive o Homem. Também vive de filmes! E pelos filmes terem tido, outrora, um papel tão importante na vida do guitarrista lisboeta, a homenagem que se seguiu teve um sabor extra especial. “Zé Pedro Rock ‘n’ Roll” sai prá rua em 2019 pelas mãos de Diogo Varela Silva. Um documentário que conta a história do Zé Pedro através de testemunhos daqueles que a viveram com ele: desde a sua vasta família à esposa Cristina, da sua banda sempre aos seus dois supergrupos, nunca esquecendo os muitos (mas mesmo muitos!) amigos que fez pelo caminho. Um documentário que se tem fartado de ganhar prémios tanto por cá como lá fora.
Tudo isto para ilustrar apenas um bocadinho do imenso amor que este país ainda guarda por Zé Pedro. (Sim, porque a lista continuava… E incluía um avião!)
Foi com ele que o aprendemos!
Esse amor que ele deixava por onde quer que passasse. Continua espalhado por aí. Embora já não da mesma maneira, mas continua por aí. E é muito parecido com o seu profeta…. Está em todos os concertos! Dos Xutos. Dos seus amigos. Dos Metallica (hell yeah!). Esteve no regresso dos “Da Weasel”, na terceira vida dos “Ornatos” e ainda está na ressaca da reunião do Palma’s Gang.
Atrevo-me até a cometer a heresia de me apropriar das palavras daquele que dá nome ao Gang para adivinhar que enquanto houver estrada para andar esse amor vai continuar.
Porque (a seguir ao sorriso) esse era o seu maior legado!
O amor.
Pelo Rock n’ Roll.
Pela amizade.
Pela vida.
Há cinco anos disseram-nos que tinha morrido uma lenda.
A nossa lenda preferida.
Só se esqueceram de um pequeno pormenor…
As lendas não morrem.
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