Um álbum essencial da folk britânica, rico e intrincado, obra de um artesão de nome Bert.
Bert Jansch é um nome hoje em dia praticamente esquecido, mas num certo momento do tempo, circa 1965, houve quem o visse como o Dylan inglês. A sua proficiência na guitarra a tal o levava, a sua inventividade no dedilhar, a criação do folk barroco em conjunto com John Renbourn são carimbos que ninguém devia olvidar. E ainda aqui não tinha começado a trabalhar com os Pentagle, onde incorporou o formato jazz nas suas canções. No entanto, em 1979, tudo isto já era passado longíquo, e editar um álbum conceptual, cujo tema principal é ornitologia (especialmente focado em pássaros de água) não foi, como devem imaginar, algo que lhe trouxe fama e fortuna. Por essa altura Jansch já só era tido em conta por alguns melómanos e jornalistas que o continuaram a acompanhar, chegando mesmo a ter dificuldades em marcar concertos. Felizmente o teste do tempo manteve-o “vivo”. Artistas actuais como Nils Frahm e Artur Russell muito lhe devem.
Avocet tem a reputação de ser um dos álbuns mais bem conseguidos de Jansch, mas também um dos mais difíceis, o que me parece injusto – longe de ser difícil de ouvir, existe uma beleza contida na sua continuidade e fluxo do início ao fim, uma qualidade bem adequada aos pássaros aquáticos de seus títulos e aos quais Jansch dedica este disco. É um álbum para se perder, mas não necessariamente um que se consiga encontrar uma saída que não o encantamento. Logo a canção de abertura, homónima do álbum demora 18 minutos a passarinhar na nossa cabeça, andando às voltas sem encontrar um poiso fixo onde colocar o seu ninho.
A subtileza que reina nesta obra, totalmente instrumental e cheia de recantos luminosos, é a sua grande mais valia, juntando as influências que lhe passaram pelas mãos ao longo dos anos, o já falado folk e jazz, mas também os blues e a música clássica. Deixem-no ir saindo das vossas colunas numa tarde fria mas solarenga de Inverno e testarão as minhas palavras.
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