Depois de alcançarem o sucesso com “Six Underground”, os Sneaker Pimps livraram-se da vocalista e decidiram começar de novo. Resultado? Um disco negro, sujo e brilhante.
Em 1999, os Sneaker Pimps iam para o seu segundo disco, depois do sucesso de Becoming X e à boleia da voz de Kelli Dayton e as canções “Six Underground” e “Spin Spin Sugar”, mas no segundo álbum é Chris Corner, o guitarrista (e depois a solo IAMX) que toma conta das vozes.
O que Kelli tinha de polido tem Corner de atmosférico e sentido. Esta vulnerabilidade vocal é muito mais interessante e colorida, em tons escuros obviamente, que puxa comparações a Radiohead, Massive Attack, Tricky e claro, Portishead. Suicàdio comercial, chamaram-lhe na altura alguns cràticos. Eu chamo-lhe visão artàstica. Normalmente até andam de mãos dadas. A fugir dos toques de pop e rock e a apostar num som mais sujo, quer afastar-se o mais possàvel da fama e da acessibilidade sonora do seu antecessor.
Um dos melhores álbuns da altura, podemos dizer que Splinter peca por não ter um single óbvio durante os seus 56 minutos de duração. Arranca com o excelente “Half-Life”, onde o baixo e as cordas de sintetizador se destacam e o perfeito trip-hop do disco anterior se torna mais sujo. E o melhor é que sabemos imediatamente onde este disco se situa. Em “Lightning Field”, por exemplo, a guitarra acústica e sem efeitos desponta no meio da bateria processada, porque afinal de contas estamos no final dos anos 90 e a guitarra acústica está quase sempre presente. Temos também a mais veloz “Superbug”, que recorda Placebo com guitarras distorcidas, e não será por acaso que estas bandas fizeram tournée juntas, com passagem inclusivamente por Portugal.
Os temas da dúvida e do existencialismo são recorrentes, como em “Destroying Angel”, onde o narrador se confessa destroçado ”I know it doesn’t pay to be this hurt/Falling off the morning getting worse” mas são também pessoais, no sentido àntimo da palavra, como em “Empathy”, canção lenta, com contrabaixo, guitarra acústica e sem refrão, ou ambas, como em Ten To Twenty. ”Too easy not to share/Too Vain for Secret/ThereÂ’s fear enough in there/A taste of need in someones cure”.
No geral, entende-se que este disco mal recebido pela cràtica, ou pelo menos aquela que esperava algo mais fácil no ouvido, foi o ponto de partida para os Sneaker Pimps. Becoming X podia ter sido feito por outra banda completamente distinta, mas a partir deste Splinter a banda torna-se mais escura e melodicamente muito mais interessante, ao desbravar um próprio caminho que precede Bloodsport.
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