domingo, 29 de janeiro de 2023

Resenha Touch The Mystery Álbum de Modern-Rock Ensemble 2016


Resenha

Touch The Mystery

Álbum de Modern-Rock Ensemble

2016

CD/LP

O grupo ucraniano Modern-Rock Ensemble pode ter lançado o seu primeiro disco em 2016, mas tem muita história antes disso para que Vladimir Gorashchenko finalmente lançasse seu trabalho musical, liberando sua destreza poética, habilidades instrumentais e de maestro autodidata de produção. Na verdade, essa banda tem raízes nos anos 80. O primeiro projeto começou como Modern-Rock Ensemble Putnik de 1985 a 1989, com duas versões distintas surgindo, mas em 1990, Gorashchenko foi obrigado a cuidar de sua mãe doente e de outros assuntos familiares, colocando assim seus empreendimentos musicais em espera por um longo período de tempo. Como qualquer músico, que é apaixonado por aquela chama duradoura de criatividade, a chama nunca verdadeiramente é extinta e, como resultado, as ideias e técnicas simplesmente se acumularam ao longo dos anos até que, finalmente, depois de mais de uma década e meia do Século 21, o primeiro álbum da banda, Touch The Mystery, finalmente viu a luz do dia. 

Quando falamos da Modern-Rock Ensemble, estamos falando de uma música de difícil atribuição e extremamente particular dentro do universo progressivo, porém, uma coisa é certa, fãs de diferentes vertentes do gênero terão algo para tirar proveito sempre que escutá-la. Touch The Mystery é um disco que entrega uma verdadeira mistura de sons, proporcionando ao ouvinte uma complexa, mas gratificante experiência. É possível perceber claramente que Vladimir possui uma grande herança musical, trazendo em seu som coisas de art-rock, jazz-rock, space rock, rock sinfônico e música étnica. Para ajudá-lo no projeto, o músico convidou um grande número de músicos ucranianos (incluindo o mestre Antony Kalugin, nome ucraniano mais influente dentro do rock progressivo - de jazz e rock, além de um quarteto de cordas.  

A música apresentada aqui é de um estilo muito eminente, bastante influenciada por um grande número de gêneros que são moldados em conjunto com uma enorme habilidade. Ainda que eu considere que as guitarras poderiam ser um pouco mais ousadas e nítidas, não tem como desvalorizar o belo trabalho que é feito durante todo o disco. A produção é bastante profunda e encorpada, com cada um dos instrumentos tocando suas partes individuais de forma bem interessante e podendo ser ouvidos perfeitamente – se estiver com um bom fone de ouvido então, a experiência fica mágica. Falando dos instrumentos, guitarra – mesmo com o “defeito” que citei -, baixo, bateria, teclados, saxofone, cordas, enfim, tudo está passando o tempo inteiro por transformações e culminações de sons melódicos extremamente agradáveis. Tudo é entregue o tempo todo com bastante emoção.  

“Meditations” inicia o disco por meio de uma citara com uma espécie de redemoinho ao fundo, além de uns vocais bastante graves – que vai se estabelecer durante toda a canção. Possui algumas claras influências da música indiana. É uma música que reside no modo suave e sutilmente sofisticado com explosões ocasionais de guitarras amplificadas e regalias voltadas para o rock e para efeito de contraste. A peça acaba se transformando lentamente de partes ambientais, filosóficas e suaves para duas culminações fortes e poderosas de uma forma muito bem fluida e coerente. “What Will Happen To My Country?”, com pouco mais de 3 minutos, é a primeira das duas faixas curtas do disco. É uma música instrumental muito linda, tocada apenas por teclado, baixo e uma bateria eletrônica.  

“Touch The Mystery”, além de ser a faixa título, com os seus quase 20 minutos, também é a maior do disco. Cheia de passagens belíssimas, várias mudanças de andamento e inúmeras atmosferas criadas principalmente pelo quarteto de cordas. É o tipo de música que não é apenas progressiva, mas se encontra no patamar das obras desafiadoras. No próprio site de Vladimir Gorashchenko, há escrito que “Touch The Mystery” se trata de sua “biografia musical”. Devido ao excesso de instrumentos, é muito interessante perceber a maneira como eles vão entrando na música e acrescentando sempre uma nova textura e nuance.  Há alguns solos de sintetizadores que são efervescentes. Por volta dos 8:28 entra um interlúdio de extrema beleza em que a música fica bastante espacial e assim segue até 12:35. Em “Touch The Mystery” a banda entrega uma clara essência de rock progressivo sinfônico, enquanto acertam em cheio na fusão de rock, jazz e música clássica, fazendo tudo fluir de forma bastante natural do começo ao fim. “My Angels” é a outra peça curta do disco com os seus pouco mais de 3 minutos, uma música que Vladimir dedicou à sua esposa e sua filha. Um número muito bonito e tranquilo, onde o piano é o instrumento central. 

“Swamp” é a peça que encerra o disco e você pode sentir que ela soa um pouco diferente das demais, porém, isso é normal, afinal, se trata de uma versão ao vivo da música gravada em 1989. Possui a primeira parte bastante experimental até que o trabalho de violino cria atmosferas profundas e as cordas quando necessário cobrem a composição maravilhosamente. Vale destacar também, que a música entrega momentos de puro jazz-rock e até alguns ritmos latinos. Imagino que assistir ao vivo uma banda tocando uma música dessa categoria e de forma impecável deve ser uma experiência incrível.  

Antes de qualquer coisa, devo admitir que Touch The Mystery não se trata de um disco muito fácil, logo, se você não é familiarizado com a música progressiva e quer se aventurar por esse meio, acho que este disco seria um pouco demais. A variedade de estilos é impressionante, criando um disco de rock progressivo cheio de originalidade. Um álbum sofisticado que é o produto de várias décadas de criação. 

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