quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Resenha X Álbum de Spock's Beard 2010

 

Resenha

X

Álbum de Spock's Beard

2010

CD/LP

Devo admitir que após a saída de Neal Morse, fiquei preocupado com os rumos que a banda tomaria – embora soubesse que ainda existia muito talento ali presente. Então que, com o lançamento de Feel Euphoria, a banda de pouquíssimos erros parecia dar a sua primeira derrapagem que seria realmente sentida pelos fãs mais exigentes, algo que se repetiria ainda em seus dois próximos discos (Octane de 2005 e Spock’s Beard de 2006), onde, embora ainda haja qualidade, passa longe do brilho de outrora. Eu na época, já andava meio desanimado com qualquer lançamento do grupo, tinha em mente que a Spock’s Beard estava fadada a se tornar uma banda de passado glorioso, porém, de presente de lançamentos mornos após o outro. Até que, ao ler algumas críticas de X, percebi que a eles pareciam finalmente ter lançado algo novamente algo digno de um dos nomes mais representativos da era moderna do rock progressivo.  

X é um disco de musicalidade muito robusta e eclética, principalmente devido ao uso de bastante teclados sinfônicos combinados com outros elementos que vão desde a união de sons mais leves e estereotipados vindos do neo-progressivo até estruturas mais complexas e composições longas que carrega o espírito 70’s do gênero. A música encontrada aqui é bastante ampla, passando por temas obscuros, harmonias calmas, ataques de guitarra, teclados e riffs superinteressantes, além de uma cozinha sempre bastante sólida e variável. Algumas influências que podem ser percebidas são Genesis, Gentle Giant, Yes, um pouco de Pink Floyd e até mesmo Focus.  

“Edge Of The In-Between" já entrega um excelente começo de álbum. Sintetizadores que lideram a direção de uma música que logo em seus primeiros segundos se mostra muito melódica. Tudo soa tão familiar, mas ao mesmo tempo cheio de frescor e vibrações positivas. Alan Morse e Ryo Okumoto já parecem querer deixar algo claro, não pretendem fazer solos de guitarra e teclado de forma aleatória no meio das músicas, eles querem que façam sentido e mesclem bem com partes das músicas de maneira agradável. “Kamikaze”, com pouco mais de 4 minutos, é a faixa mais curta do disco. Um número instrumental bastante divertido. Apesar de todos tocarem muito bem na peça, certamente se trata de uma vitrine para Okumoto que despeja criatividade em algumas linhas até mesmo alucinantes nas teclas.  

“The Emperor's Clothes” inicia por meio de um belo violão antes que a banda toda entre junta em uma sonoridade sinfônica - com direito a até mesmo o uso de trompa. Os coros do excelente refrão lembram um pouco o Gentle Gianti, porém, feito de uma maneira mais melódica. A peça também entrega um ótimo solo de bateria seguido perfeitamente de um solo de piano, criando um dos melhores interlúdios de todo o disco. “From The Darkness”, passando dos 16 minutos, é o primeiro épico do disco. A banda mostra um enorme domínio técnico e que faz com que tudo flua muito bem do começo ao fim. É uma peça bastante melódica e rítmica que possui excelentes solos e uma instrumentação ótima, além de vocais muito bons. A interação sólida com que guitarra, baixo, teclado e bateria trabalham lembra o Yes – embora, obviamente, soando mais pesado. 

“The Quiet House“, começa por meio de uma batida seca e um baixo poderoso. Há uma boa variação de riffs pesados e sons mais limpos de guitarra. Assim como as faixas anteriores, possui mudança de andamento e estilo e uma ótima instrumentação, além de uma ambientação que causa uma sensação bastante agradável e até um pouco “assustadora” em alguns pontos. “The Man Behind The Curtain” começa dando a sensação de que estaremos diante da peça mais pesada do disco, mas não demora para que ocorra uma transição e a música salte para dentro de uma atmosfera muito mais leve. Possui vocais agradáveis e ótimas passagens instrumentais, além de um refrão do tipo que gruda facilmente na cabeça. 

“Jaws Of Heaven” é o outro épico do disco, também passando dos 16 minutos, é a peça que encerra X. Não é apenas a melhor música do disco, mas a considero certamente uma das 5 melhores composições de todo o catálogo da banda. Uma mistura perfeita entre o rock progressivo sinfônico e uma sonoridade mais pesada. Um dos grandes trunfos da música é que mesmo quando ela parece vagar de uma forma em que achamos que poderá haver até mesmo uma perda no senso de direção, sempre tudo volta para os trilhos brilhantemente, eles sabem exatamente o que estão fazendo. Possui no geral uma vibração bastante sombria. Perto dos 9:20 a música silencia e vai permanecendo assim, seguindo com uma sonoridade serena que vai ganhando cada vez mais robustez até o momento em que a peça explode em uma sonoridade sinfônica incrível e que repete o tema do início. Alan Morse ainda entrega um solo de guitarra cheio de sentimento que funciona como a cereja do bolo em toda pompa instrumental criada pela banda. Um final de disco arrepiante.  

X é indiscutivelmente um dos melhores álbuns lançados pela banda. Possui melodias impressionantes, composições deslumbrantes e uma produção cristalina. Um típico disco de rock progressivo sinfônico moderno com muitos elementos da era de ouro do gênero.    

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