domingo, 29 de janeiro de 2023

Review: Oasis – Familiar to Millions (2000)


O Oasis foi a maior banda da década de 1990. O Nirvana mudou o jogo com Nevermind (1991), mas teve a carreira abreviada pela morte abrupta de Kurt Cobain. O Metallica conquistou o mundo com o Black Album, mas seus passos seguintes não tiveram tanto impacto. O Pantera revolucionou o metal com álbuns fabulosos, porém sua popularidade ficou restrita ao público que ama o som pesado. Ninguém foi tão universal quanto a banda dos irmãos Gallagher. A rivalidade com o Blur só fez sentido no mercado inglês, porque no mundo todo ninguém chegou perto. Puxados por seu segundo álbum, (What’s the Story) Morning Glory? (1995), que vendeu mais de 18 milhões de cópias, a banda superou a marca de 70 milhões de discos em todo o mundo.

Familiar to Millions, álbum duplo ao vivo lançado em 13 de novembro de 2000, captura o Oasis no auge, com todas as suas qualidades e excessos. Gravado no maior palco inglês, o lendário Wembley Stadium, com um público de quase 100 mil pessoas à sua frente, é o registro de um momento único na trajetória da maior banda inglesa das últimas décadas. O tracklist apresenta dezoito faixas registradas durante a turnê do quarto álbum do grupo, Standing on the Shoulder of Giants (2000). Além dos irmãos Liam e Noel Gallagher, a banda contava na época com o guitarrista Gem Archer, o baixista Andy Bell e o baterista Alan White, além do apoio de Zeb Jameson nos teclados. A produção, assinada pela dupla Mark Stent e Paul Stacey, entrega timbre pesados e uma densidade que tornam o som do Oasis ainda mais grandioso, fato sustentado pela imensa participação do público e pela performance cirúrgica dos músicos, notadamente a dupla de irmãos, que se revezam no comando do público e da banda.

O álbum foi lançado em seis formatos diferentes: CD duplo, LP triplo, K7 duplo, minidisc duplo, VHS e DVD, além de uma versão em CD simples disponibilizada em 2001 e contendo apenas treze músicas consideradas as “highlights” do concerto. Cada uma dessas versões tem cores diferentes na capa: o CD simples vem com a capa violeta, o CD duplo é vermelho, o vinil triplo tem a capa cinza, a fita-cassete é amarela, o minidisc é verde e os formatos de vídeo (VHS e DVD) possuem capas azul e vermelho.

A primeira parte do show dá destaque para canções do então recém-lançado Standing on the Shoulder of Giants, com versões competentíssimas de “Go Let It Loud”, “Who Feels Love?” e “Gas Panic!”. O magistral Be Here Now (1997) é representado com apenas uma faixa, a balada arrasa-quarteirão “Stand By Me”, cantada a plenos pulmões pelo público presente em Wembley. O filé do concerto, no entanto, está em músicas vindas dos dois primeiros discos do quinteto. “Supersonic” é à prova do tempo e mostra porque o primeiro álbum da banda, Definitely Maybe (1994), é um dos melhores discos de estreia de todos os tempos – “Shakermaker”, “Step Out”, “Cigarettes & Alcohol”, a balada “Live Forever” e “Rock 'n' Roll Star” só reafirmam essa percepção e demonstram a força de um debut pra lá de marcante.

As canções de (What’s the Story) Morning Glory? se comportam como os hits planetários que são. “Roll With It” é uma paulada típica do rock inglês, com linhas vocais pra lá de grudentas e performance cirúrgica. “Acquiesce”, lado B do single “Some Might Say” (uma das ausências mais sentidas no tracklist) e principal single da compilação The Masterplan (1998), é um dos pontos altos do show. A dupla “Wonderwall” e “Don’t Look Back in Anger” provocam reações condizentes a dois dos maiores hits dos anos 1990, provocando no público a catarse coletiva e a comoção desmedida esperadas. E “Champagne Supernova”, obra-prima de Noel, ganha ares épicos ao vivo. As versões para dois hinos do rock, “Hey Hey, My My (Into the Black)” de Neil Young e “Helter Skelter” dos Beatles, além da citação ao riff de “Whole Lotta Love” do Led Zeppelin no final de “Cigarettes & Alcohol”, demonstram como o Oasis se colocava no mesmo nível das lendas que os influenciaram.

Durante muito tempo, Familiar to Millions permaneceu como o único álbum ao vivo do Oasis e é apontado com justiça como um dos grandes discos da banda inglesa. Apenas recentemente, com o lançamento de Knebworth 1996 (2021), ganhou companhia. Familiar to Millions se inscreve, sem muito esforço, na lista de melhores discos ao vivo de todos os tempos e eterniza um momento mágico na carreira do Oasis, quando a relação sempre conturbada e explosiva entre os irmãos Gallagher ainda não havia implodido a banda e decretado o seu fim.


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