segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

The National – Alligator (2005)


 

Alligator é o último limar de arestas ao som dos National antes da merecida consagração que a ele se seguiu.

Será que é desta que nos ligam alguma coisa? Dois álbuns e um EP depois e nada. Algumas críticas bonitas mas continuamos a tocar para salas vazias enquanto os Interpol, que ensaiam ao nosso lado, já fazem capas de revistas. Dizem que à terceira é de vez não é? E o pior é que o álbum está bom! Não é que os outros não fossem bons mas este está melhor, mais limpo, mais certeiro, parece que finalmente percebemos para onde queremos ir com isto. O Bryce e o Aaron soam cada vez melhor e a bateria do Bryan está incansável. Quase que me arriscaria a dizer que encontrámos a nossa identidade, quem temos de ser, uma matriz estável sobre a qual trabalhar mas… Se calhar devia era ter-me deixado ficar pelos anúncios, o trabalho corporativo não era assim tão mau, ao menos era certo. Merda, quem é que aos 30 anos larga tudo para ir ser uma estrela de Rock? Só porque ver os Strokes ao vivo te deixou com saudades da banda da faculdade, deve ser uma espécie de crise de meia idade adiantada.

Ou é isso que tu queres? Essa cena rock de seres um poeta atormentado e incompreendido que faz referências literárias que mais ninguém percebe ao Gata em Telhado de Zinco Quente do Tennessee Williams e que acha que é melhor que toda a gente? Afinal, ninguém ir aos concertos é só mais uma coisinha para te lamuriares como fazes com tudo o resto nesses poemas tão sorumbáticos e profundos que deixam toda a gente desconfortável. E os vocalistas não costumam ser carismáticos? Menos tímidos? No mínimo conseguir encarar a audiência (por pouca que seja) sem ter de se encharcar em vinho para conseguir cantar a merda de canções que escreveram?

(E se for? Se os outros podem porque é que eu não posso?)

A questão é que as canções seriam escritas de qualquer forma, é a única maneira de fazer algum sentido do turbilhão de ansiedade e de autocomiseração que é a cave do meu cérebro. E escrever sempre sai mais barato que psicoterapia. Falar dos amigos, da família, de Nova Iorque, da juventude, da sua inocência e esperança e do facto de as sentir cada vez mais distantes, da bebida, da Karen! A Karen… A culpa é do raio das melodias que eles escrevem que me lixam o humor. Só queria desaparecer no meio de uma sala cheia, deixem-me sozinho, não me ouçam, peço desculpa por tudo.

A merda é que ao mesmo tempo tenho esta necessidade doentia de me mostrar, qual parada, de gritar aos sete ventos a minha vulnerabilidade. É que cantar tudo isto é uma catarse do outro mundo. Exorcizar demónios no meio de um crescente de barulho elétrico é melhor que qualquer combinação de álcool e/ou drogas que alguma vez experimentei. E se assim é, se tenho de fazer isto para me manter são, então só queria, só queríamos, ter alguém a ouvir. Porque há esperança e todas estas merdas deprimentes são precisamente aquelas que hão de nos salvar: a família, os amigos, Nova Iorque, a música, as guitarras brilhantes, os ritmos fortes, os violinos que às vezes se imiscuem nas canções, os refrões explosivos de alegria e tristeza juntas, a Karen!

Acho que é isso que estamos a criar com a banda, uma bela celebração coletiva da nossa humanidade para dançar, chorar, saltar ou gritar. E se não for desta paciência, há de ser um dia. Não posso aceitar que estamos sozinhos. Ao menos temos as criticas bonitas. Entretanto tem de haver esperança, afinal “We’re the heirs to the glimmering world”.


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CAPAS DE DISCOS - 1959 The Buddy Holly Story

  LP EUA - Coral Records - CRL 57279. Contracapa. Disco, lado 1. Disco, lado 2. Marca os lados 1 e 2.