quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

The Strokes – Room On Fire (2003)

 

Ainda que ensombrado pelo sucesso de Is This It, Room On Fire é um disco incontornável, repleto de canções maiores do que a vida que ombreiam facilmente com os tops de qualquer lista das melhores canções do Indie Rock.

Desde tempos imemoráveis que, após uma estreia incendiária e bem sucedida, tanto junto dos fãs como dos críticos, o segundo álbum põe um desafio interessante a qualquer banda. Para alguns será uma oportunidade de amadurecer o trabalho começado, crescer musicalmente e, quiçá, gravar com um orçamento mais confortável. Para outros será o momento de se reinventarem e de explorarem novos territórios, eventualmente piscando o olho ao mainstream e ao sucesso comercial. Independentemente do caminho escolhido,  o que é certo é que as expectativas são altas e que o segundo álbum pode ser um fiel indicador do futuro de uma banda.

Ora foi exatamente perante este desafio que os Strokes se viram colocados em 2003. A fasquia era elevadíssima para os cinco miúdos de Nova Iorque que deram por si a serem apelidados de salvadores do rock’n’roll com pouco mais que vinte anos, graças aos seu estrondoso álbum de estreia Is This It, de 2001. Já aí no centro de um furacão mediático que haveria de dar origem à grande maioria das melhores bandas do início do novo milénio, punha-se a questão de o que fazer a seguir.

A escolha foi claramente a de resistir à tentação de mexer numa fórmula vencedora. Sem grandes pretensões messiânicas de liderar o futuro da música, Room on Fire sai em Outubro de 2003 e é um disco curto e direto ao assunto, cheio de canções rápidas que parecem ter sido gravadas todas num só take, tal é a energia vital que carregam. Julian Casablancas, com a voz  disfarçada por detrás de microfones cheios de efeitos, canta-nos sobre relações falhadas enquanto as guitarras brilhantes de Albert Hammond Jr. e Nick Valensi, e o baixo certeiro de Nikolai Fraiture não nos deixam ficar quietos. Estão cá todos os elementos que nos fizeram gostar de Is This It, ou melhor dizendo, é um disco de Strokes. Para continuar a não fugir à tradição, chamaram os amigos do álbum anterior para ajudar: a produção ficou mais uma vez a cargo de Gordon Raphael (após uma tentativa falhada de colaboração com Nigel Godrich, produtor dos Radiohead), e Roman Coppola realizou o videoclip de “12:51”, o primeiro single do novo disco, à semelhança do que já tinha feito no passado. Não será por acaso que Room On Fire foi declarado pela crítica como o gémeo idêntico de Is This It. Resta saber se isso se trata de uma coisa má.

A verdade é que é ingrata a posição de Room On Fire nos anais da história. Tirado do contexto da discografia de Casablancas e companhia, estamos perante um grande álbum, coeso sem nunca ser aborrecido, recheado de clássicos instantâneos. Um verdadeiro exemplo de como uma banda pode encontrar a sua sonoridade e aprimorá-la. Onde “Whatever Happened” se lamenta (“I wanna be forgotten and I don’t wanna be reminded”), “Reptilia” ou “12:51” são explosivas e dançáveis. Seguem-se “You Talk Way Too Much”, “Between Love and Hate” , a decadente “Meet Me In The Bathroom”, que deu o nome ao livro de Lizzy Goodman sobre a cena musical em Nova Iorque nestes anos e “The End Has no End”, todas exemplos de como Casablancas consegue expurgar na música as suas dores de crescimento e ainda assim fazer boas malhas catchy.

Room On Fire é, portanto, um disco incontornável, pelo menos para alguém que o descobriu, como eu, na sua adolescência (uns anos passados desde o seu lançamento) e ali encontrou um novo mundo musical que fez a vida fazer um pouco mais sentido. Pode não ter tido o mesmo sucesso junto da crítica que Is This It mas não deixa de ser um álbum repleto de canções maiores do que a vida que ombreiam facilmente com os tops de qualquer lista das melhores canções do Indie Rock. Acima de tudo, é um álbum que cimentou definitivamente o estatuto dos Strokes enquanto realeza da música e que nunca deixará de entusiasmar uma pista de dança onde seja posto a rodar.

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