terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

10 discos essenciais: synthpop

 


Até meados dos anos 1970, os sintetizadores eram instrumentos que estava fora do alcance dos "pobres mortais". Esses "brinquedinhos" eram caríssimos, e apenas os grandes astros do rock e da música pop faziam uso deles. No rock progressivo, os sintetizadores eram praticamente instrumentos obrigatórios, e bandas como Pink Floyd, Yes e Emerson Lake & Palmer se destacaram no uso desses instrumentos. Mas na música pop, artistas como Stevie Wonder, também utilizaram os recursos dos sintetizadores nos seus trabalhos.

Porém, no final dos anos 1970, com o avanço da tecnologia, os sintetizadores se tornaram mais compactos e mais baratos. Além disso, se tornaram mais práticos e fáceis de serem tocados, trazendo recursos que permitiam programar sequências, notas, um andamento inteiro de uma música. Era praticamente uma banda num só instrumento, e a preços acessíveis.

Isso fez com que na Inglaterra, uma molecada ávida, adquirisse esses instrumentos eletrônicos, e com o lema do "faça-você-mesmo" tomado emprestado do punk rock, partiu com a cara e a coragem para fazer suas próprias músicas e formar suas próprias bandas, ainda que tivesse o mínimo de conhecimento musical possível.

Sob a influência de Kraftwerk, David Bowie (fase Low) e do músico e produtor Giorgio Moroder, uma nova geração de cantores e bandas surgia praticando uma música pop eletrônica simples, ritmo dançante, refrãos "chicletes" e forte apelo comercial. Batizada a princípio de tecnopop, o synthpop (abreviação de synthetizer pop) surgia no esplendor do pós-punk por volta de 1979 quando houve um desdobramento para novas vertentes musicais após a explosão punk. O synthpop era uma delas. Gary Numan, The Human League, Depeche Mode, Soft Cell, Ultravox, Yazoo entre outros fizeram parte dessa primeira geração do synthpop.

Tendo a década de 1980 como o seu período áureo, o synthpop resistiu ao tempo. O seu principal legado foi popularizar os sintetizadores (assim como o rock fez com a guitarra elétrica) e influenciou as mais diversas tendências da música pop eletrônica, como a house music, o electro, EBM, o techno e outras tantas vertentes.


The Man Machine (EMI, 1978), Kraftwerk. O quarteto alemão de Düsseldorf vinha do elogiadíssimo álbum Trans-Europe Express (1977), quando lançou em 1978, The Man Machine, um trabalho onde a banda abordou temas como glamour decadente e a robotização da sociedade. A capa foi inspirada nos trabalhos do artista plástico e designer gráfico russo El Lissitzky (1890-1941), um dos mais importantes nomes da vanguarda da arte russa de meados do século XX. Foi a partir de The Man Machine que o Kraftwerk passou a usar nas suas apresentações, manequins iguais aos integrantes da banda, que programados, executavam movimentos como se tivessem tocando os instrumentos.  Em The Man Machine, o Kraftwerk explora ritmos mais dançantes, vozes robóticas e batidas percussivas repetitivas com um apelo pop como se pode notar em faixas como "The Model", "The Robots", "Spacelab" ou a faixa-título. Pioneiro da sonoridade eletrônica e de temáticas futuristas dentro da música pop, o Kraftwerk se tornaria através de The Man Machine uma das principais influências para artistas de synthpop com Gary Numan, New Order, Depeche Mode, The Human League entre outros.  
   

The Pleasure Principle (Beggars Banquet, 1979), Gary Numan. The Pleasure Principle  é o álbum de estreia da carreira solo de Gary Numan, o primeiro astro do synthpop a fazer sucesso. A capa mostra Numan de terno com uma postura "robótica" e um olhar frio, remetendo ao Kraftwerk. Aliás, a banda alemã é uma das referências sonoras no álbum, assim como também é perceptível influências de Low, álbum de David Bowie de 1977. O synthpop presente em The Pleasure Principle é amparado nas camadas de sintetizadores que criam toda uma atmosfera sonora futurista e em alguns momentos sombria, combinadas com o baixo e a bateria emprestadas do rock. "Engineers", "Films", "Metal" e "Airlane" são faixas que merecem destaque. Contudo é "Cars" e os seus riffs marcantes e futuristas de sintetizadores, o grande hit do álbum e o maior sucesso da carreira de Numan. 


Dare ( Virgin Records, 1981), The Human League. Terceiro álbum do Human League,
Dare representa o momento de reestruturação na banda inglesa com a chegada de novos membros (principalmente as vocalistas Joanne Catherall e Susan Ann Suley) e de sua reorientação musical, deixando o experimentalismo eletrônico dos dois primeiros álbuns e indo em direção a uma sonoridade pop mais dançante e comercial. Trazendo musicas com temas que giram em torno de amor, paixão e ciúme, Dare foi o álbum de maior sucesso do Human League. Alcançou o 1º lugar da parada inglesa de álbuns e emplacou os hits "The Sound Of The Crowd", "Love Action" e "Open Your Heart". Porém, "Don't You Want Me" é o grande hit do álbum e o maior da carreira do Human League, que invadiu as rádios e as pistas de dança em todo o mundo naquele começo dos anos 1980.


Non-Stop Erotic Cabaret (Vertigo, 1981), Soft Cell. Um formato que se tornou uma tradição entre os grupos de synthpop foi a dupla: um vocalista e um tecladista. Uma das primeiras duplas a despontar no synthpop foi o duo inglês Soft Cell, formado pelo vocalista Marc Almond e o tecladista Dave Ball. Non-Stop Erotic Cabaret, álbum de estreia da dupla, aborda temas que giram em torno de sexo, luxúria, pornografia, homossexualidade e a vida noturna. A música do Soft Cell ficou marcado pelo som simples e cheio de efeitos do sintetizador pilotado por Ball e pelos vocais afetados e teatralizados de Marc Almond. Para o álbum, o Soft Cell regravou "Tainted Love", um hit de Gloria Jones de 1964, que ganhou uma versão synthpop e acabou se tornando o maior sucesso da carreira da dupla. "Bedsitter", "Sex Dwarf" e "Entertain Me" são outras faixas que merecem algum destaque.


Upstairs At Eric´s (Mute Records, 1982), Yazoo. Logo após deixar o Depeche Mode no final de 1981, o tecladista Vince Clark juntou-se à cantora Alison Moyet e com com ela formou a dupla Yazoo, em 1982. O som da dupla ficou marcado pelo pop eletrônico dos sintetizadores de Clark e a voz potente de Moyet. A dupla teve uma duração breve: dois anos e dois álbuns. O primeiro álbum, Upstairs At Eric´s, é quem traz o maior sucesso do duo inglês, "Don't Go", 3º lugar na parada britânica. Na edição norte-americana do álbum, foi incluída "Situation", outro grande hit do Yazoo, mas que fora lançada na Inglaterra apenas como lado B do single de "Only You", esta presente também  Upstairs At Eric´s. Com o fim da dupla em 1983, Moyet saiu em carreira solo, enquanto Clark partiu para a formação de outros grupos, sendo o mais bem sucedido o Erasure, duo que ele formou com o cantor Andy Bell em 1985, e que alcançou um enorme sucesso entre o final dos anos 1980 e começo dos anos 1990.


Songs FromThe Big Chair ( Mercury, 1985), Tears For Fears. O synthpop já havia deixado de ser uma "exclusividade" da cena alternativa europeia desde que Dare, do Human League, havia estourado em 1981 puxado pelo megahit planetário "Don't You Want Me". Mas com Songs FromThe Big Chair, segundo álbum do duo inglês Tears For Fears, o gênero eletrônico alcançou níveis de popularidade mais elevados, alcançando outros nichos de público. Em Songs FromThe Big Chair, o Tears For Fears fez uma perfeita combinação de camadas sonoras de sintetizadores com riffs de guitarra e uma bateria poderosa. O álbum alcançou o 1º lugar na Billboard 200, nos Estados Unidos e 2º lugar no Reino Unido. As faixas "Shout", "Everybody Wants To Rule The World" e "Head Over Heels" tornaram-se grandes hits e impulsionaram as vendas de Songs FromThe Big Chair que chegou à marca de 9 milhões de cópias vendidas, colocando o Tears For Fears entre os nomes mais populares do cenário pop mundial dos anos 1980. Para a promoção do álbum, foi montada uma gigantesca turnê internacional que durou até o final de 1986.


Introspective (EMI, 1988), Pet Shop Boys. Após os dois primeiros elogiados álbuns, os Pet Shop Boys alcançaram popularidade mundial com o terceiro álbum, Introspective, quer vendeu mais de 4,5 milhões de cópias. Introspective apresenta seis longas faixas, mas que no entanto, teve quatro dessas faixas lançadas como singles mais curtas destinadas ao rádio, e também em versões remix para as pistas.  "It's Alright", "Left To Me Own Devices", "Domino Dancing" e "Always On My Mind" foram os grandes hits do álbum. "Always On My Mind" é uma regravação de um antigo sucesso de Elvis Presley, que no álbum foi remixada com uma outra faixa, o acid house "In My House". Antes de lançarem Introspective, os Pet Shop boys haviam lançado no final de 1987, um single de "Always On My Mind" após participarem de um especial de TV em homenagem a Elvis. E foi a versão do single, mais curta do que a do álbum, que fez sucesso mundial e foi 1º lugar na Billboard Hot 100, nos Estados Unidos.


Technique (Factory, 1989), New Order. A temporada que o New Order passou em
Ibiza, em 1988, gravando material para um novo álbum acabou exercendo uma grande influência no som da banda. O grupo inglês esteve em contado com a cena de acid house de Ibiza, Espanha, que fervilhava naquele momento. A conclusão das gravações do álbum na Inglaterra. Embora em algumas faixas o estilo que consagrou a banda de Manchester se mantenha, em outras, percebe-se que o New Order incorporou referências do acid house em seu som como se pode notar em "Fine Time", "Mr. Disco" e no grande hit do álbum, "Round And Round". Technique foi o primeiro álbum do New Order a alcançar o 1º lugar da parada do Reino Unido.


Violator (Mute, 1990), Depeche Mode. Com o álbum Music For The Masses, de 1987, o Depeche Mode conquistou o mercado norte-americano e por tabela, o resto do planeta. Já naquele álbum, a banda inglesa demonstrava um processo de transformação, se distanciando do pop eletrônico alegrinho do começo da carreira e seguindo em direção para uma sonoridade mais madura e um tanto quanto sombria. Essa nova orientação se tornaria mais evidente no álbum seguinte, Violator, lançado em 1990. Tal mudança de rota musical consolidada em Violator não afetou a popularidade conquistada pela banda com Music For The Masses. Ao contrário, foi a consagração do Depeche Mode. Violator teve um ótimo desempenho comercial ( 2º lugar na para de álbuns do Reino Unido e 7º no dos Estados Unidos), levando a banda a uma grande turnê mundial, passando pelos Estados Unidos, Canadá, Europa e Japão.
"Personal Jesus"e "Policy Of Truth" fizeram sucesso, mas nada comparável à popularidade planetária de "Enjoy The Silence", a principal faixa de Violator.


Sound Of Silver (DFA Records, 2007), LCD Soundsystem. Formada em 2002, em Nova York, Estados Unidos, a LCD Soundsystem é uma das mais aclamadas bandas da música pop deste começo de século XXI. LCD Soundsystem é uma prova de que o synthpop continua vivo e e ainda exerce influência na música pop contemporânea. Liderada pelo músico e produtor James Murphy, a banda norte-americana faz um combinado musical de pop eletrônico, rock, pós-punk e house music. Sound Of Silver resume muito bem a proposta do LCD Soundsystem que fica na fronteira entre o rock alternativo e o pop eletrônico, dando ênfase aos sintetizadores e às guitarras. Se "Get Innocuous" traz referências de Kraftwerk e David Bowie (fase Low ), "North American Scum" mostra a veia roqueira da banda, enquanto que "All My Friends", "Someone Great" e "Sound Of Silver" são puro synthpop.         


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