Os Kiss, tão acostumado com espetáculos gigantescos, teve um dos melhores momentos de sua carreira quando se despiu e fez um show acústico para o quadro “MTV Unplugged”, resultando no álbum “Kiss Unplugged”.
O Kiss, tão acostumado com espetáculos gigantescos, teve um dos melhores momentos de sua carreira quando se despiu e fez um show acústico para o quadro “MTV Unplugged”. O registro da lendária apresentação foi lançado há exatos 25 anos, em 12 de março de 1996, como o álbum ao vivo “Kiss Unplugged”.
Não houve fã que não entrasse em êxtase com esse show. Não só pelo primor técnico e pela cuidadosa escolha de repertório, como, também (e claro), pelas participações do guitarrista Ace Frehley e do baterista Peter Criss, integrantes da formação original que deixaram a banda no início da década de 80.
Nostalgia
No início da década de 90, com a morte do baterista Eric Carr e a chegada do substituto Eric Singer, o Kiss parece ter começado a olhar para suas raízes com mais carinho. Além de ter voltado a praticar um hard rock mais pesado e direto no álbum “Revenge” (1992), o grupo passou a integrar mais músicas de seu período clássico, dos anos 70, nos shows – o trabalho ao vivo “Alive III” (1993) retrata isso bem.
O sentimento nostálgico se aprofundou nos projetos seguintes. Primeiro, em 1994, eles produziram um tributo a eles próprios (típico desses caras), intitulado “Kiss My Ass: Classic Kiss Regrooved”. Os covers, tocados por nomes que vão de Lenny Kravitz a Anthrax, abrangem apenas o catálogo clássico da banda, da década de 70.
O show
Nota-se o cuidado na escolha do repertório, que abrange todas as fases da banda e foca nas músicas que soariam melhor no formato. Não foi uma compilação de hits que eram tocados normalmente nos shows – até porque as canções que aparecem nas apresentações normais não se encaixariam bem por aqui.
Tecnicamente falando, a performance foi irretocável. Paul Stanley e Gene Simmons viviam suas melhores fases como músicos, enquanto Bruce Kulick e Eric Singer são visivelmente mais habilidosos que os originais Ace Frehley e Peter Criss – embora não tenham o mesmo carisma e malemolência que eles.
O que dizem os músicos
O livro “Kiss Por Trás das Máscaras” traz declarações dos músicos envolvidos sobre “Kiss Unplugged”. Algumas falas de destaque:
Paul Stanley: “O objetivo daquele álbum não foi o de provar nada a alguém ou de ganhar fãs. Fomos nós, na verdade, fazendo aquilo por nós, mostrando como as músicas eram boas. Ele foi feito durante as convenções do Kiss. Tantas músicas foram compostas em violões, feitas de uma maneira muito mais simples que quando tocadas. […] ‘Sure Know Something’ é uma das minhas músicas prediletas nesse álbum.”
Ace Frehley: “Só trabalhei com algumas músicas. Foi muito legal. Eu me diverti tocando ‘Beth’ no acústico. Eric e eu nos tornamos amigos bem próximos.”
Peter Criss: “Embora eu não tenha tocado em muitas músicas, eles conseguiram pegar muito bem a parte acústica, sem os eletrônicos. Foi um momento mágico para mim.”
Eric Singer: “Foi um dos trabalhos mais legais que eu fiz com a banda. Finalmente mostramos ao público que sem a maquiagem, sem a fumaça e os espelhos, conseguíamos tocar e cantar de uma maneira decente. […] Durante a passagem de som, estávamos melhor do que na hora da apresentação. Para mim, Gene parecia estar muito nervoso, porque os ensaios com os quatro originais foram um pouco estremecidos e tensos. […] Como fã de Kiss desde a década de 1970, tocar com os quatro rapazes da banda original foi uma experiência muito legal.”
Bruce Kulick: “O show fez com que eles passassem as coisas a limpo e fizessem as pazes com Ace e Peter, o que era muito aguardado, especialmente porque Ace e Peter não faziam o mesmo sucesso que gostariam de ter. E mesmo que o Kiss ainda conseguisse sobreviver comigo e com Eric, ainda gerava muitos lucros comparado com os outros dois. Chegaram a um ponto em que teriam de conversar.”
Kiss original se reúne de vez
A reação geral ao show no “MTV Unplugged” foi tão boa que não só o material foi lançado oficialmente, como “Kiss Unplugged”, como, também, Ace Frehley e Peter Criss acabaram retornando para a banda, que voltou a usar seus clássicos figurinos e maquiagem. Era a volta do Kiss original.
As negociações aconteceram de forma curiosa. Paul Stanley e Gene Simmons tratavam sobre o retorno dos outros dois músicos enquanto mantinham Bruce Kulick e Eric Singer, gravando o álbum “Carnival of Souls” enquanto tudo acontecia nos bastidores.
Bruce e Eric acabaram demitidos e o disco, que trazia uma sonoridade mais próxima do grunge e do rock/metal alternativo, foi engavetado. As voltas de Ace e Peter foram anunciadas em 1996. Porém, as músicas estavam sendo bastante pirateadas, então o Kiss resolveu lançar o disco oficialmente um ano depois, em 1997.
A reunião com Frehley e Criss não durou tanto tempo. Os músicos ficaram até o início dos anos 2000, quando saíram, em meio a brigas, especialmente por questões ligadas a dinheiro – eles voltaram como funcionários, não como sócios.
A formação original também não gravou nenhum álbum de estúdio enquanto esteve junta nessa segunda ocasião. “Psycho Circus“, que saiu em 1998, trazia créditos aos músicos originais, mas Ace e Peter foram substituídos em boa parte das gravações por Tommy Thayer (guitarra) e Kevin Valentine (bateria).
O Kiss funciona de forma tão peculiar que a banda precisou realizar uma falsa turnê de despedida, a “Farewell Tour”, para dispensar Ace Frehley e Peter Criss – e olha que o segundo ainda ficou na banda por mais um tempo após o fim da tour. Thayer e Eric Singer assumiram as posições dos dois, respectivamente, em 2003 e 2004.
Como Ace e Peter não tocaram em quase nada de “Psycho Circus”, dá para dizer que “Kiss Unplugged” foi o último álbum do Kiss a trazer, sem maquiagem (figurativa e literalmente), a magia dos quatro integrantes originais.
Kiss – “Kiss Unplugged”
1. Comin’ Home
2. Plaster Caster
3. Goin’ Blind
4. Do You Love Me?
5. Domino
6. Sure Know Something
7. A World Without Heroes
8. Rock Bottom
9. See You Tonite
10. I Still Love You
11. Every Time I Look at You
12. 2,000 Man (cover dos Rolling Stones)
13. Beth
14. Nothin’ to Lose
15. Rock and Roll All Nite
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