sábado, 18 de fevereiro de 2023

black midi – Cavalcade (2021)

 

Dois anos depois do seu estrondoso disco de estreia, os black midi voltam, mais frenéticos, estranhos e maduros. Abram alas.

Parece que foi ontem que os black midi lançaram Schlagenheim, mas foi já há dois anos, quando ainda se davam concertos (lembramos, com saudade, o concerto no Paredes de Coura). Desde então o grupo publicou uma compilação de contos, antologia de gravações ao vivo, a sua imprevisibilidade contribuindo para o culto que entretanto se gerou à volta dos londrinos.

Não demorou para que a banda começasse a divulgar o seu segundo álbum, Cavalcade. “John L” e “Chondromalacia Patella” foram tocadas ainda aquando da promoção de Schlagenheim, os seus arranjos simplificados para poderem ser tocadas pelo quarteto. Ao abrir o álbum “John L” não nos permite respirar, uma parede de cacofonia a atropelar tudo excepto a voz sapuda de Georgie Greep. À décima escuta, ainda é difícil descortinar o que se está a passar. Ouvem-se passagens dissonantes de piano e um saxofone a tocar de forma arritmica, mas toda a canção é massa sonora. “Chondromalacia Patella” é mais jazzística, os seus acentos e tropeções rítmicos mais facilmente delineáveis e uma estrutura mais próxima do disco de estreia, com secções caóticas a interromperem a calma de forma explosiva. Mais para o final a música passa de rock troglodita para punk progressivo culminando num nível de frenesim que o grupo ainda não se tinha atrevido a experimentar.

“Slow”, o segundo single do disco, continua as explorações jazzísticas das músicas anteriores, funcionando um bocado como um resumo de tudo o que se ouviu até agora. O título da música talvez seja uma referência à sua progressão, um crescendo lento à moda de bandas como Godspeed You! Black Emperor ou Explosions in the Sky. Depois desse caos todo, “Diamond Stuff” é uma lufada de ar fresco. A sua percussão reichiana e o seu BPM baixo permitem ao ouvinte respirar um pouco depois da selvajaria do lado A do álbum. Como que para deixar a influência do rock progressivo bem assente, o grupo decidiu acabar o disco com “Ascending Forth” uma verdadeira viagem sinfónica, explorando universos que não haviam sido visitados desde o primeiro hiato dos King Crimson.

Cavalcade é, sem dúvida, um disco mais maduro que Schlagenheim. É também um disco mais “escrito” e mais rígido por causa disso. A adição de instrumentação nova distingue-o sonicamente do disco de estreia mas a estrutura das suas canções é mais repetitiva. Ainda assim, é um álbum entusiasmante e renova a confiança dos fãs neste grupo, deitando por terra as afirmações de que este não é uma das bandas de rock mais interessantes dos últimos anos.



Sem comentários:

Enviar um comentário

Destaque

Glass Harp - Glass Harp (1970)

  Power trio de hard rock formado em Ohio, Estados Unidos, composta pelo guitarista Phil Keaggy, baterista John Sferra e o baixista Daniel P...