sábado, 18 de fevereiro de 2023

Minta & The Brook Trout – Demolition Derby (2021)

 

Os Minta & The Brook Trout regressam com a delicadeza pop a que nos habituaram, um bálsamo em tempos confusos

Demolition Derby é o nome de uma competição redneck norte-americana, em que basicamente carros à beira da reforma compulsiva se confrontam numa arena com o objetivo de baterem forte e feio uns nos outros. Ganha o último a conseguir andar, como numa noite do Cais do Sodré nos anos 90. É um espectáculo com cheiro a cerveja, gasolina e provavelmente bastantes fritos, com fumo, fogo e barulheira. Ah, e é também o nome do novo disco dos Minta & The Brook Trout, que não é nada disto.

O sucessor de Slow, de 2016, não abandonou o universo sonoro da banda em troca de um qualquer southern rock desta vida. Na verdade – abençoados sejam – nada mudou no mundo de Minta & The Brook Trout. Temos em Demolition Derby oito canções, pouco mais de meia hora de música, feitas com a sensibilidade e o bom gosto que há tanto tempo estimamos.

Somos novamente embalados pela lenta mestria pop, pelos temas acústicos, pela voz serena, bonita e understated de Francisca Cortesão, rodeada de suaves harmonias vocais e arranjos enganadoramente simples mas muito eficazes. Tudo como cama para letras cada vez mais bem construídas. Um oásis sonoro nestes tempos conturbados de gritaria e grandes proclamações.

Esta malta não quer mudar o mundo, está cansada e é demasiado tímida para tanto. Parece apenas querer fazer sentido da vida, das coisas, do dia a dia. Sempre houve algo de encantadoramente nerd neste projecto, que pede para ser ouvido sentado, num sofá confortável, com uma camisola de malha, de preferência tirada de um filme de Wes Anderson. Quiet is the new loud, como diziam os Kings of Convenience? Cada vez mais, dizemos nós.

Para os fanáticos da (r)evolução, este Demolition Derby pode desiludir, porque o mundo que os Minta & The Brook Trout habitam é o mesmo de sempre, um quarto de um adolescente já sem idade para o ser, uma pessoa sozinha a contemplar uma montanha, perdida em pensamentos e emoções. Mas o mundo está cada vez mais cheio de revolucionários instantâneos, de teclado ou de outra estirpe. Rara é a constância, a intimidade, a suavidade e o gosto pela beleza.

Valorizemos estas qualidades quando nos são oferecidas com tamanha delicadeza.



Sem comentários:

Enviar um comentário

Destaque

Horacee Arnold - 1973 [2011] "Tribe"

  Arnold começou a tocar bateria em 1957 em Los Angeles, enquanto estava na Guarda Costeira dos Estados Unidos. Em 1959, ele começou a se ap...