Resenha
Morningrise
Álbum de Opeth
1996
CD/LP
Quando escuto os primeiros álbuns do Opeth, a única coisa que consigo diferir entre ele e os seus discos mais contemporâneos, digamos assim, é a produção, pois em termos de qualidade musical, a banda é alto nível desde sempre. Morningrise apresenta o estilo característico do Opeth, explorando a dinâmica entre a combinação de vocais de black metal e death metal e partes de guitarra com elementos acústicos e progressivos mais leves. Talvez a sensação de “black metal” seja um pouco demais, tanto que é o que chega incomodar algumas pessoas. Particularmente, não as vejo tanto assim. Como o lançamento do primeiro álbum foi adiado, eles já haviam escrito a maior parte de Morningrise quando Orchild foi lançado. Embora algumas partes do material gravado remontem a 1991, Mikael disse, "o material que estávamos escrevendo parecia realmente fresco e novo." De acordo com Mikael, gravar Morningrise foi "muito chato" por causa das "tomadas de bateria sem fim, faixa de clique e coisas assim". A banda passava a maior parte do tempo no estúdio dormindo e fumando. Apesar do tempo de inatividade, Mikael e Lindgren – guitarrista da banda - escreveram uma peça instrumental que deveria aparecer no álbum, mas não tiveram tempo de finalizá-la. Mikael certa vez afirmou que após o sucesso de Morningrise, ele se cansou de seu estilo e do número de bandas "imitadoras" usando as melodias de contraponto encontradas neste álbum e em seu antecessor. Ele também diz que acha certas seções de Morningrise "inaudíveis" e foi compelido a mudar o som do Opeth em seu próximo disco – mas esse é um outro assunto para uma outra resenha. “Advent” já começa o disco de maneira destruidora, riffs imponentes de guitarra, linhas de baixo pulsantes e bateria com bumbo duplo, mas que, logo em seguida é tomada por uma construção musical de marcação elegante e suave, mas que não dura muito e a banda regressa com o seu peso habitual e Mikael por meio dos seus rosnados canta os primeiros versos da faixa. A variação entre vocais ásperos e guturais está presente, assim como as mudanças de andamentos que variam entre tempestuosos e bonanças. A parte acústica que inicia por volta dos 6 minutos é uma das mais belas já criadas pela banda. Mesmo Mikael ainda não estando na sua melhor fase como vocalista de passagens mais suaves, aqui ele conseguiu entregar um vocal lindo e cheio de sentimento. A banda então regressa para o tema que estavam tocando antes da parte acústica entrar. Apesar da agressividade dos vocais, não considero essa base instrumental tão pesada, parece algo feito por uma banda de heavy metal comum. Mas então ela se transforma em death metal puro e aí sim eu vejo os vocais ser acolhido por algo realmente pesado. A parte final da música é bastante triste, um arpejo direciona uma seção rítmica tocada em ritmo lento, quase uma marcha fúnebre. “The Night And The Silent Water”, Mikael escreveu essa música sobre a morte do seu avô. Uma atmosfera incrível é lançada junto de algumas harmonias limpas e umas linhas secas de baixo, além de uma bateria de toques firmes e ao mesmo tempo relaxante. Impressionante como é facilmente perceptível a dor de Mikael refletida nas belas e tristes melodias distorcidas da guitarra da introdução e nos versos que vem em seguida. Por volta dos 3 minutos, a melodia acústica que entra na peça é linda, seguindo assim até por volta dos 5 minutos, quando os violões dão lugares para as guitarras gêmeas que “duelam” em uma sonoridade barroca, com as seções rítmicas mantendo o mesmo ritmo e Mikael trocando as vocais suaves pelos guturais. A peça então silencia, com apenas uns violões espaçados a mantendo “viva”, mas aos poucos alguns acordes vão surgindo e com isso o volume se elevando, fazendo a música entrar em uma crescente, a bateria também começa a emergir, então que a música explode em uma sonoridade pesada, até que por último, Mikael canta os seus últimos versos impregnados de dor. “Nectar”, não é uma faixa necessariamente fraca, mas dentro do disco é a minha música menos preferida. Quando falamos de Opeth e ouvimos o começo dessa música, certamente estranhamos um pouco o quão ela soa animada inicialmente, onde nem mesmo os vocais rosnados de Mikael é o suficiente para lhe tirar essa aura. A peça então fica sustentada apenas por alguns arpejos de violão antes de regressar novamente agora em um ritmo mais lento, com guitarras gêmeas bem ao estilo Iron Maiden. A bateria então fica mais rápida, com direito a bumbo duplo, as guitarras continuam melódicas tanto na base quanto no solo. Gosto muito do baixo dessa música, extremamente perceptível em vários pontos por meio de linhas muito criativas, principalmente a partir da parte acústica que inicia por volta dos 7:00 e que depois se intensifica para uma sonoridade mais pesada, permanecendo assim até encerrar a música. “Black Rose Immortal” é uma peça que possui pouco mais de 20 minutos, mas mesmo assim não consegue me dar a sensação de que estou ouvindo um épico. Não entendeu? Explico, simplesmente não existe temas dentro da música, nenhuma das melodias são repetidas uma vez que seja, com isso, em momento algum o ouvinte se sente dentro de uma jornada, porém, continua sendo uma faixa fantástica que em meio aos seus grandes momentos tem até mesmo Mikael cantando à capela durante um interlúdio centrado nos vocais, um dos melhores solos de guitarra já produzido pela banda, passagem acústica extremamente assustadora e alguns riffs de guitarra influenciado pelo folk. Mesmo que, como já dito, não possua as características de um épico, não deixa de ser uma realização e tanto, uma excelente e ambiciosa peça de death metal progressivo. “To Bid You Farewell” é a música de encerramento do álbum. Mesmo com os seus quase 11 minutos, não possui nenhum rosnado sequer. A suavidade com que a peça é desenvolvida chega a ser inacreditável se pararmos para pensar em tudo que ouvimos no álbum até o momento. Os violões são de tirar o fôlego, as harmonias são muito bem trabalhadas e a maneira com que Mikael desempenha os vocais parece que cada palavra vem diretamente da alma. “To Bid You Farewell” é um tipo de música que poderia ser lançado tranquilamente em Damnation. Por volta dos 5:00, a música entra em um ritmo constante, mas que vai se tornando mais pomposo conforme vai se desenvolvendo, até explodir em uma atmosfera pesada. O uso de guitarras gêmeas nesse disco é algo mais constante do que o normal da banda. Um final de disco que não poderia ser melhor. Se eu fosse oferecer três discos para alguém começar a ouvir Opeth, Morningrise não seria nenhum deles, mas não por eu ter algum problema com ele, longe disso, mas sim, por talvez sua música apesar de ótima, ser menos palatável a primeira ouvida do que as de discos mais maduros da banda. Assim como Orchild, o considero um disco subestimado. Acho muito válido e até mesmo obrigatório os primeiros álbuns do Opeth, pois considero conhecer a história de uma banda que gostamos algo essencial, ver onde seus grandes trabalhos começaram a tomar forma. Por isso, coloque Morningrise pra tocar, pegue alguns bons fones de ouvido, relaxe e deixe a escuridão te abraçar.
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