segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Resenha Optical Race Álbum de Tangerine Dream 1988


Resenha

Optical Race

Álbum de Tangerine Dream

1988

CD/LP

1988 foi um ano complicado para o Tangerine Dream. A banda de Berlim, pioneira no uso de sintetizadores como base de composições no meio do caminho entre o rock e o minimalismo acadêmico, estava lotada de serviço em trilhas sonoras. Eram extremamente requisitados por Hollywood e mal davam conta da oferta de trabalho. Seja pelo cansaço, pelo sucesso, por falta de expressão pessoal na música do grupo ou por todos esses motivos juntos, dois membros importantíssimos -  Johannes Schmölling e Christoph Franke - saíram para carreiras solo. 

Embora o fundador Edgar Froese, com sua personalidade dominante, representasse a alma da banda, estava claro que a sua produção musical sofreria sem aqueles dois gigantes. Ele não estava, porém, sozinho: já havia contratado o jovem tecladista austríaco Paul Haslinger, que carregaria boa parte do peso do piano dali até o ano de 1990. Com formação clássica, Paul trouxe ainda mais forma comercial às criações do TD, que até não muito tempo atrás eram uma mistura de suítes progressivas em múltiplas partes com drones minimalistas e canções estranhas que se recusavam a seguir uma estrutura convencional.

A pressa em entregar produto pode explicar um pouco da estranha dependência da banda, antes tão experimental na instrumentação, em apenas um punhado de timbres digitais, com destaque para um cravo eletrônico de som áspero e estridente e corais femininos sintetizados. Com isso, os discos do TD dessa fase soam fora do convencional, mas num mau sentido. As composições em si mesmas nada têm de ruim e frequentemente alcançam o lirismo de tempos passados, mas a sonoridade é dura de encarar hoje. Reconhecendo ela mesma a fraqueza desses arranjos, a banda retrabalharia algumas obras nos anos seguintes.

Este disco forma dupla com o muito superior 'Lily On The Beach', lançado pouco depois e feito com temas e sons similares, mas contém algumas composições criadas quando Franke ainda atuava no grupo, enquanto 'Lily' é dominado por criações solo de Haslinger. A melhor de longe é "Mothers of Rain", que possui um tema indígena norte-americano, assim como várias outras faixas do mesmo LP. A faixa mais diferente é 'Sun Gate', uma composição calma que tem colaboração de Ralf Wadephul, um membro temporário. Em 2006, o TD lançou um disco inteiro de composições de Edgar e Ralf, chamado 'Blue Dawn', que vale a pena para quem se interessa por esse estilo. Diz a gravadora que são músicas originalmente gravadas em 1988 e deixadas inéditas no imenso baú de peças inacabadas de Froese.

Em resumo, 'Optical Race' é um álbum divisivo, porque parte dos fãs do TD o admitem e outros o desprezam, seja pela falta de uma direção mais inovadora para a banda depois de perder dois membros importantes, seja pelos arranjos relativamente sem graça. Ainda assim, recomendo uma audição crítica dele. As trilhas sonoras que o grupo concluiu nesse período têm, naturalmente, exatamente o mesmo tipo de som.

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