Em um país continental como o Brasil, culturas e costumes locais são muito comuns. Assim como artistas que possuem status de lendas em determinadas regiões e são totalmente desconhecidos em outras. É o caso de Julio Reny, um dos nomes mais celebrados do rock gaúcho.
Na estrada desde o início dos anos 1980, o cantor, compositor e guitarrista lançou diversos álbuns solos ou em colaborações com bandas como Expresso Oriente e Irish Boys. Além disso, fez parte dos Cowboys Espirituais, supergrupo que contava também com Frank Jorge (Graforréia Xilarmônica) e Márcio Petracco (TNT).
A Estrada Corre para Sempre é um lançamento exclusivo da Produto Oficial, loja especializada em rock gaúcho que é um oásis para quem curte e coleciona as bandas do sul (acesse aqui) e reúne canções dos três últimos álbuns de Julio – Diários da Chuva (2006), A Primavera do Gato Amarelo (2008) e Bola 8 (2010). Ao todo temos quatorze canções de uma fase onde a maturidade caminha lado a lado com o lirismo sempre presente nas letras de Reny, que se orgulha de cantar apenas aquilo que viveu, transformando suas experiências pessoais em belas canções.
Para ter o primeiro contato com a obra de Julio Reny, canções de uma beleza inerente como “Chove no Sul” (gravada quando o músico enfrentava uma depressão), “Casaco de Lã” (primeira parceria entre Reny e Frank Jorge), “O Segundo Fim” e “Tenha Fé” são ótimos cartões de visita. O groove meio reggae de “Rainha das Ruas” é pop na medida certa, enquanto um piano sacana dá o tom no rock puro de “Linda Menina”.
Humberto Gessinger, a maior de todas as lendas do rock gaúcho, participa de duas faixas. A primeira é “Noite em São Sepé”, onde o líder dos Engenheiros do Hawaii toca viola caipira. Já em “Tenha Fé”, Humberto faz um dueto com Julio e toca também gaita de boca.
Musicalmente, o que temos é um rock inspirado por bandas dos anos 1960, desde ícones como Beatles até movimentos nacionais como a Jovem Guarda, influências essas que ganham elementos da música popular gaúcha em alguns momentos.
A Estrada Corre para Sempre é um ótimo retrato da fase mais recente de um dos maiores e mais influentes nomes do rock produzido no Rio Grande do Sul. Poeta de mão cheia, Julio Reny transforma as casualidades do dia a dia em canções que conversam de forma imediata com o ouvinte, como a deliciosa “O Dólar e A Rosa”, em que divide os vocais com Alexandra Scotti e conta o caso da garota que esbarrou nele em uma partida de sinuca. Destaque para a bela capa, que traz uma ilustração feita por Gabriel Renner.
As coisas são simples. O rock é simples, ele não precisa ser complicado. E Julio sabe disso, cantando sobre as coisas simples da vida, que transforma em contos musicais deliciosos.
Não à toa, é a lenda que é.
Sem comentários:
Enviar um comentário