Quarta viagem cósmica de uma banda que soa cada vez mais segura do seu caminho.
Depois de aparecerem quase como um projecto paralelo dos portugueses Hipnótica, pela mão de João Branco Kyron, os Beautify Junkyards ganharam peso, fôlego e velocidade, chegando já ao quarto disco com este Cosmorama.
Para quem acompanha este grupo, não é novidade esta sonoridade densa e onírica que surgiu mais desenhada ao segundo disco, já que o primeiro é um caso à parte (covers de músicas de outros artistas que foram alvo do “filtro Beautify”). O que se sente a cada trabalho é um passo mais decidido dado bem para dentro desta floresta vitoriana-futurista, que tanto vai beber à natureza mais pastoral como a uma visão de futuro com recurso a sons do passado, sejam eles instrumentos antigos ou simples samples de outros tempos.
Tirando o seu nome a um espectáculo da Londres vitoriana que, com recurso a luzes, espelhos e ilusões de óptica, levava os visitantes a mundos distantes e exóticos, Cosmorama não foge do universo habitual dos Beautify Junkyards. Pelo contrário, reforça-o convictamente. O grupo ainda busca, porque isso faz parte da sua filosofia e do seu modus operandi, mas já não tacteia afastando os ramos. Abraça o desconhecido como forma de vida.
Cada música é uma viagem e o caminho vai-se revelando à nossa frente. Lentamente, às vezes obsessivamente, sob camadas e camadas de efeitos e de arranjos, num mosaico bricabraque multicolorido. De salientar ainda a participação da sempre estimável Nina Miranda, cantora brasileira dos saudosos Smoke City. A Tropicália, influência assumida da banda, é muitas vezes referida para caracterizar o seu som, mas o seu alcance é mais filosófico que necessariamente identificável nas músicas.
Como de costume, Cosmorama é um disco para se consumir por inteiro. Não tem, nem tenta ter, qualquer single que nos vicia. É a repetição, a obsessão lenta e progressiva, que nos conquista, depois de lentamente nos cercar. Mais uma vez, essa força é também, de certa forma, uma forma de fraqueza. Esse efeito hipnótico acaba por nos fazer deparar com uma espécie de parede sonora, dificultando a distinção ou afirmação dos temas individuais. Esta é uma viagem para levar como um todo, e até ao fim.
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