Entre o final dos anos 1970 e começo dos anos 1980, Djavan era um jovem astro da MPB em ascensão com quatro álbuns na sua discografia e sucessos tocando no rádio e na TV. O alagoano revelava-se não só um grande cantor, mas também um compositor talentosíssimo, dono de uma linha poética bastante rebuscada e refinada nas canções. Não foi à toa que isso acabou chamando a atenção de artistas consagrados como Maria Bethânia, Nana Caymmi, Roberto Carlos e Elis Regina que gravaram as suas canções naquele momento.
Após a sua passagem pela Som Livre onde gravou o seu primeiro disco em 1976, Djavan iniciou uma fase promissora na gravadora EMI-Odeon, a partir do segundo álbum, que leva o seu nome, lançado em 1979. Além do segundo, lançou mais dois álbuns, Alumbramento (1980), do megassucesso “Meu Bem Querer”, e Seduzir (1981), álbum que emplacou a faixa título e “Faltando Um Pedaço”.
O ano de 1981 foi bastante positivo para Djavan. A partir do álbum Seduzir, o cantor passou a ter a sua própria banda de apoio, a Sururu de Capote. Naquele ano ele conquistou o prêmio de “Melhor Compositor”, pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), graças ao êxito comercial de Seduzir, um álbum no qual Djavan se mostra influenciado pelo pop, R&B e o jazz, influências e que nortearão os seus próximos trabalhos.
Aquele momento promissor de Djavan na gravadora EMI-Odeon despertou a atenção da concorrente CBS (atual Sony Music), que passava por uma reformulação para superar uma crise, e precisava dar uma “oxigenada” no seu cast. Ela via no cantor alagoano uma boa aposta, e a ele fez uma proposta irrecusável. Tinha planos para ele, dentre os quais, uma carreira internacional. Apesar dos laços fortes com a EMI-Odeon, Djavan aceitou a proposta da CBS. Pouco depois de assinar contrato coma a CBS, Djavan e sua banda viajaram para Los Angeles, nos Estados Unidos para gravar o seu quarto álbum, o primeiro pela CBS, Luz. A gravadora apostou todas as fichas em Djavan, bancando todo o custo da produção do álbum.
O norte-americano Ronnie Foster, renomado produtor de discos no campo da soul music e do R&B, ficou a cargo da produção do álbum. Apesar de ter levado a sua banda, Djavan contou também com a participação de músicos norte-americanos na gravação do novo álbum, entre eles o baixista mexicano radicado nos Estados Unidos, Abraham Laboriel, que já havia colaborado em álbuns de várias estrelas da música como George Benson, Al Jarreau, Henry Mancini e Stan Getz. Mas a grande participação no álbum de Djavan foi nada mais nada menos do que a de Stevie Wonder. Djavan e Wonder se conheceram durante as gravações do álbum do brasileiro em Los Angeles. Wonder estava lá nas sessões de gravação para uma participação na faixa “Samurai” fazendo solos de gaita.
![]() |
Stevie Wonder e Djavan nas sessões de gravação do álbum Luz, em Los Angeles, Estados Unidos, em 1982. |
Lançado em agosto de 1982, Luz começa com a ótima balada romântica “Pétala”, cujos versos são uma bela declaração de amor. Os solos de saxofone realçam o espírito romântico da canção, uma das mais bonitas que Djavan já compôs. “Luz”, música que dá nome ao álbum, é a faixa seguinte, onde Djavan faz uma associação dos sentimentos humanos coma a natureza. “Nobreza” é uma canção que trata de uma amizade entre dois homens, mas que sutilmente, sugere um relacionamento homossexual: “Um doce descascado pra mim / Eu guardo pro fim / Pra comer demorado / Uma grande amizade é assim / Dois homens apaixonados”. Em “Capim”, Djavan faz uma associação entre a flora e as lendas do folclore brasileiro, e toma emprestado um verso de um antigo sucesso de Jackson do Pandeiro, “O Canto da Ema”: “A ema gemeu no tronco do Juremá”.
O ijexá pop “Sina” encerra o lado A de Luz. Mostra Djavan e sua capacidade de criar versos ricos em sentidos metafóricos. A música ainda traz uma homenagem a Caetano Veloso, transformado num verbo: “Como querer Caetanear / O que há de bom”. Curiosamente, no mesmo ano que Djavan lançou Luz, Caetano Veloso lançou o álbum Cores, Nomes onde ele gravou “Sina”. Na sua versão de “Sina”, Caetano teve Djavan como convidado, e o trecho “caetanear” foi trocado por “djvanear”.
“Samurai” é uma das grandes faixas do álbum, tendo a presença mais do que especial de Stevie Wonder nos solos de gaita. A música é uma das melhores demonstrações da veia pop de Djavan. Com um belo arranjo de cordas e um violão “Banho de Rio” fala de solidão e de um amor que foi embora.
![]() |
Fantasia: álbum que traz a primeira versão de "Açaí". |
“Açaí” foi gravada antes por Gal Costa, em 1981 para o seu álbum Fantasia, e aparece em Luz na versão do seu criador. Foi através de “Açai” que Djavan ganhou a fama de escrever canções com “letras sem sentido”, dado ao elevado emprego de metáforas que o cantor alagoano costuma empregar em suas canções. Durante muitos anos, o refrão “Açaí, guardiã / Zum de besouro um ímã / Branca é a tez da manhã” chegou a virar motivo de piada para uma parcela do público que não conseguia entender o significado dos versos. Mais tarde, Djavan afirmou que o refrão da canção faz uma alusão à cultura da região norte do Brasil, onde o fruto açaí é muito consumido.
A balada romântica em tom jazzístico “Esfinge”, é outra canção do álbum também carregada de significados metafóricos na letra. Os primeiros versos da canção parecem descrever um quadro surrealista de Salvador Dali: “O mar / Vazou de uma paixão / Atravessou meus olhos / Encheu a minha mão / Caiu no chão / Em doces gotas de amor”.
“Minha Irmã” é um samba estilizado que fecha o álbum. Com versos curtíssimos, a música leva a crer que Djavan a compôs remetendo aos seus tempos de infância em Alagoas, lembrando da irmã mais velha Djanira: “Mãe disse que eu botasse o olho em você / Então, passa pra dentro, menino vai chover”. É bem aquela típica bronca de irmã mais velha para irmão mais novo mandando passar para dentro de casa.
Luz teve uma grande recepção da crítica e do público. O álbum foi lançado não só no Brasil como também nos Estados Unidos, Portugal, Espanha, Itália e França. “Samurai”, Pétala” e “Sina” foram bastante executadas no rádio e na TV, fazendo o álbum vender cerca de 450 mil cópias. O excelente êxito comercial de Luz marcou a estreia em grande estilo de Djavan na CBS. Logo ele se transformaria num dos campeões em vendas de discos na gravadora e numa das maiores estrelas da MPB.
Uma curiosidade no álbum Luz é que nas versões em CD as faixas “Pétala” e “Samurai” trocaram de lugar: “Samurai” passou a ser a primeira faixa e “Pétala” a sexta.
Faixas
Lado A
- "Pétala "
- "Luz"
- "Nobreza"
- "Capim"
- "Sina"
Lado B
- "Samurai " ( participação especial de Stevie Wonder na gaita )
- "Banho de Rio"
- "Açaí"
- "Esfinge"
- "Minha Irmã"
Todas as faixas são de autoria de Djavan.
Ouça o álbum Luz na íntegra.
Sem comentários:
Enviar um comentário