Entrevista
Ruben Claro
Um jovem grupo com influências de grunge/stoner, além de raízes no rock clássico dos anos 70 e da safra 90, esse é o BAD BONE BEAST. O grupo vem chamando a atenção da cena europeia com seu som cheio de energia e frescor. “Extravaganza” (2021), debut do trio, foi uma grande estreia de uma promissora banda. Entre o EP "Water Into Wine" (2019) e o debut “Extravaganza” (2021) vocês conseguiram chamar a atenção da mídia, houve a saída do batera Felix Krüppel e pouco depois veio a pandemia. Como foi para vocês vivenciar esse curto, mas intenso, período? Boas Mário, sim, foi um período intenso com a saída do Felix. Mudanças destas nunca são fáceis, ainda por cima porque encontrar um baterista demorou muito. Felizmente foi uma separação que correu amigavelmente. Tivemos sorte porque o Klaas (novo baterista) estava à procura de um novo desafio. Algumas músicas já estavam 99% finalizadas e até já tínhamos tido oportunidade de as tocar ao vivo. Mas a maior parte do “Extravaganza” (2021) foi escrito em conjunto com o baterista novo. Em 2019 fomos tocar aos Países Baixos e na Franca com a atual formação e com bastante êxito. A partir daí, entramos em estúdio e gravámos o álbum no nosso estúdio/sala de ensaio. A pandemia obrigou tudo a parar: casas de shows fechadas, bandas em casa, lançamentos suspensos, mas parece que vocês fizeram um bom uso desse tempo ocioso. O disco foi todo composto durante essa pausa forçada? O disco foi escrito já durante a produção do “Water Into Wine” (2019). Precisávamos de mais músicas para tocar concertos de mais duração e assim as músicas que mais tarde apareceram no álbum, já foram escritas em 2019. A entrada do Klaas ofereceu-nos novas perspectivas e deu-nos novas forças. O Klaas é um baterista com excelentes dotes de composição. Mas claro, músico que não toca ao vivo tem que encontrar outra ocupação e no nosso caso foi escrever e gravar o (resto do) álbum. Falando em composição, como é o processo de vocês? Sendo um trio, preferem ir construindo as músicas juntos ou cada um vai pensando em algo e depois juntam tudo? A maior parte das vezes o nosso guitarrista Alex leva uma ideia gravada no seu celular e a gente trabalho nisso em conjunto. Também há vezes que as ideias já estão mais avançadas e outras em que eu tenho uma ideia no baixo ou até na guitarra. Acho mais fácil quando chego a sala de ensaios com a ideia já mais avançada, dependente da música a composição a três pode ser uma mais valia. No caso da (faixa) “Truth Or Dare”, foi a ideia do riff que eu tive a fazer teste de som nos ensaios e a música foi escrita quase toda num espaço de tempo de uma hora. Isso são momentos raros em que há uma certa magia que não se consegue explicar e que tudo encaixa bem e todos se entendem sem olhar um para o outro. Prefiro esses momentos. Quais foram as maiores diferenças entre gravar um EP e um disco cheio? A gravação de “Extravaganza” (2021) ficou muito boa, li no encarte que vocês praticamente assumiram a gravação e produção do disco. No nosso caso, o EP foi composto por músicas que o Alex e eu já tínhamos a vários tempos para lançar. Os main riffs (riffs principais) já existiam e o groove. Eu até já tinha textos quase completos e temas de letras que passavam bem com as músicas. Assim só tivemos de ensaiar com o baterista e entrar para o estúdio. O álbum já foi bem diferente. 70% foram escritas depois de lançar o EP (“Truth Or Dare”, “Me, U And I”, “Fade” já existiam) e gravamos na nossa sala de ensaio. A decisão foi fácil porque devido a ausência de concertos não tínhamos dinheiro para arrendar nem estúdio, nem técnicos. Como mudámos a pouco tempo para aquela sala de ensaio (antes era a sala do Klaas) e sentíamos uma atmosfera de inspiração, decidimos gravar lá. Serviu de refúgio e de laboratório. O Alex tem excelentes dotes de técnico de som e foi ele quem fez o pre-mix das gravações antes de serem finalizadas (main mix/mastering) pelo Chris Mock, técnico de som de vários grupos de nome. Para o próximo álbum, gostava de arrendar um estúdio e trabalhar com um produtor externo que possa trazer novas ideias. Vocês escolheram uma data pouco comum para lançar um disco, bem na virada do ano - no caso, 31 de dezembro de 2021. Algum motivo especial nela? Queria ver o mundo completo celebrar a existência desse álbum ano após ano. E o lançamento do disco no Brasil, como tem sido a receptividade? Ele chegou a ser lançado em outros países da América Latina? Vi que houve boa receptividade na Europa. Parece-me que o Brasil até agora não esteve preparado para um grupo de rock vindo da Alemanha. Mas as respostas que chegaram até cá foram de muito entusiasmo. A família dos BAD BONE BEAST está a crescer cada vez mais e a alastrar-se pela Europa. A França já está intifada e partes da Alemanha também. Agora vamos procurando outros caminhos para levar a nossa música pela Europa fora. Foram lançados três vídeos para divulgar o disco. Vocês preferem se envolver diretamente na produção deles ou nessa parte preferem deixar com os diretores mesmo? Nestes três vídeos nós tivemos as ideias iniciais. Os diretores de vídeo gostam que a banda dê a primeira ideia e daí os diretores vão desenhando o resto da imagem. Um ponto que logo me cativou foram os vocais: marcantes, mas ainda assim com uma certa delicadeza, me lembrou em algumas passagens Chris Cornell (SOUNDGARDEN). Já houve algum tipo de comparação nesse sentido? Sim, a comparação ao Chris Cornell já foi feita algumas vezes e sempre me alegre. Mesmo assim, devido ao fantástico cantor que ele era, eu não gosto que me ponham ao mesmo nível dele. Ele é meu ídolo e estará sempre acima de mim. Na resenha que fiz do disco, senti que além da pegada forte de rock/hard rock, traços de grunge/stoner e de gente como BLACK CROWES, LYNYRD SKYNYRD, GRAND FUNK RAILROAD, ZZ TOP, e afins. O que vocês sempre estão ouvindo e o que podem indicar para nós? Nós partilhamos o mesmo gosto em música. Grunge/blues-rock/metal… Gosto de meter um CD dos ALICE IN CHAINS ou dos BLACK SABBATH ou até dos STONE TEMPLE PILOTS. Qual música eu quero ouvir depende da hora do dia, de como me sinto ou como me quero sentir. A música tem essa energia que depois passa para todos nós. Na época do natal, acordava e ouvia logo músicas de natal. Os clássicos. E muito Jazz. Para mim, o jazz faz parte do natal. Esses estilos de música e essa caraterística de aceitar música pela energia que ela traz ouve-se tudo também na nossa música. O que fazemos é o espelho daquilo que ouvimos. E a escolha em regravar "Old Man", música do NEIL YOUNG de 1972, como surgiu? Achei que ficou excelente a versão. Muito obrigado. Sim, eu também acho que a nossa versão ficou bem e que demos um tom mais moderno à versão original. A ideia de meter um cover foi do Alex. Eu até nem fui grande fã da ideia, mas, um dia, quando estava em casa do Alex, peguei na guitarra acústica dele e comecei a tocar o “Old Man”. Era uma das primeiras músicas que aprendi na guitarra, já que não toco á muito tempo. Ele estava noutro quarto e ouviu-me tocar. Veio logo a correr a perguntar o que estava a tocar e desde desse momento a questão de meter um cover no álbum estava resolvido. Em meados de 2021, entrevistei o Marcel 'Celli' Mönning, do grupo de rock/metal CROSSPLANE, e ele me disse que a cena alemã está bem variada e aberta ao rock e metal nas suas muitas vertentes. E ao estilo de som seus, como tem sido a aceitação? Temos tido experiências bastante positivas. Melhor do que pensávamos, já que o nosso estilo de rock tem lados virados um pouco para o soul, para o blues e para o grunge. Eu também não sou cantor típico do rock alemão, já que tenho sido inspirado muito mais pelo estilo americano e por estilos á parte do rock como o soul, o bossa nova, o R’n’B ou o grunge. Ok Ruben, muito obrigado por atender ao 80 Minutos, deixe uma mensagem para os nossos leitores e, quem sabe, um dia não veremos vocês por aqui no Brasil. Obrigado pelo vosso apoio. Ouçam o nosso novo disco e se tiverem perguntas entrem em contato conosco através do nosso site badbonebeast.com. Um grande abraço aos seguidores do 80 Minutos e da Whiplash. "Extravaganza" (2021) foi lançado no Brasil via Shinigami Records em parceria com Valhall Music/Drakkar Entertainment. Confira o vídeo para “Me, U And I”:
Sem comentários:
Enviar um comentário