O retrospecto de 2016 não foi nada favorável para o nosso cotidiano mas no que se diz respeito ao progressivo brasileiro, tivemos gratas novidades. O retorno do Quaterna Requiem aos palcos foi uma realização pessoal, indo direto para a lista dos memoráveis shows aos quais tive a oportunidade de assistir e não foram poucos...
O surgimento do projeto Cena Carioca de Música Progressiva, muitas vezes divulgado por aqui, também é um claro exemplo de que nem tudo está perdido. Desse projeto foram reveladas bandas de alto nível, lançando materiais impecáveis, proporcionando também o ressurgimento de alguns competentes músicos, muito respeitados por aquelas terras e que merecem o devido destaque.
Desse projeto, divulgo hoje o primeiro disco lançado pela banda Arcpelago que, na minha modesta opinião, foi a mais grata surpresa de 2016. Trabalho com produção impecável e notável preocupação com a qualidade de cada arranjo executado nas seis belas faixas que compõem o disco.
Antes mesmo do processo de finalização do CD para gravação, tive acesso a algumas faixas demo que hoje guardo com muito apreço. São gravações ao vivo em estúdio que naquela época já me aguçava a curiosidade do que viria pela frente. O resultado final foi certeiro. Foram lançadas 200 cópias que rapidamente se esgotaram e a banda teve que providenciar uma nova leva para atender aqueles que ainda procuravam pelo disco, destacando também uma certa notoriedade em países como Inglaterra, Canadá e Japão.
Foto: Patricia Soransso
Arcpelago nos remete ao que há de melhor no progressivo sinfônico, com fortes influências a importantes bandas como Pink Floyd, King Crimson e Eloy. Apesar dessa formação mais clássica, torna-se clara a inovação em suas composições, com variações em conjunto onde cada instrumento se funde em perfeita harmonia. Infelizmente sou leiga quanto a assuntos técnicos e não toco nenhum instrumento, procuro apenas prestar atenção naquilo que escuto e creio que posso dizer que estamos vivendo a era do progressivo moderno, sem perder aquela nuance do progressivo setentista.
A primeira faixa vem com certo impacto. Introdução de Moog muito bem arranjada pelo tecladista Ronaldo Rodrigues, que no decorrer da faixa intercala lindas passagens de Hammond, entrelaçadas a bela guitarra de Eduardo Marcolino. As fortes linhas de baixo de Jorge Carvalho também são um show a parte, afinal não é qualquer músico que domina um baixo poderoso e imponente como o Rickenbacker.
'Sopro Vital' é a mais longa do disco, seus onze minutos de duração sofrem variações instrumentais bastante precisas e de extrema qualidade. Mais para o fim, entra o delicado porém um tanto proeminente vocal de Ronaldo Rodrigues, que dá um toque a mais de beleza a abertura deste belo trabalho.
A segunda faixa, predomina o dueto entre o forte baixo Precision e os solos de guitarra nos remetendo a uma fase mais 'Crimsoniana', por assim dizer. Principalmente nos minutos iniciais, surge uma atmosfera mais obscura fazendo lembrar algumas passagens do álbum 'Red' de 1974. Ao fundo, um suave piano elétrico apenas como um luxuoso acompanhamento para a quebradeira que se segue.
O maestro responsável por conduzir a banda com uma habilidade e destreza invejáveis, fica por conta do baterista Renato Navega. Não conheço outros trabalhos do Renato mas sem dúvida existe aí fortes influências a Bill Brufford e Carl Palmer. O primeiro por sua técnica bastante característica e o segundo pela habilidade com o instrumento, qualidades estas que escuto de longe no Renato.
A terceira faixa 'Ebulição dos Tempos' é a menos progressiva do disco, quebrando um pouco a complexidade do gênero e partindo para um estilo mais pesado com nítidas influências ao Rush no início dos anos 80.
As faixas 'Cidade Solar' e 'Universos Paralelos' são inteiramente instrumentais e, de novo, muito bem executadas, sendo a segunda um composição exclusiva de Eduardo. O que impressiona é a dedicação e o alto nível de detalhes como escolha de timbres, composições e arranjos que nitidamente foram selecionados a dedo para que saíssem como planejado.
Para encerrar, entra a minha faixa favorita do disco. 'Dentro de Si' aparece como uma atmosfera calma e melancólica para depois evoluir a uma instrumentação mais complexa. O curioso dessa faixa é a ênfase dada a cada instrumento. O solo final de Hammond e Moog é de tirar o fôlego, fechando o disco com extrema maestria.
Vale destacar também a arte gráfica de muito bom gosto que ficou por conta da gravurista e fotógrafa Fernanda Pio.
Foto: Carlos Vaz
Espero sinceramente que este seja apenas o começo de uma longa carreira. Qualquer um sabe o quão difícil é manter uma banda desse nível nos dias atuais. Já cansei de ver, não só bandas nacionais a lançarem um disco maravilhoso, muito bem recebido pelo público e depois desaparecer. Espero que com o Arcpelago seja diferente. Mesmo com algumas mudanças enfrentadas pela banda nos últimos meses e por mais triste que tenha sido a saída do Eduardo da banda, os músicos logo trataram de correr atrás de outro guitarrista que se encaixou perfeitamente a proposta estabelecida. Creio que o jovem talentoso Diogo Albano tenha vindo para ficar e já está correspondendo muito bem durante os shows feitos no Rio, aos quais tiveram sua lotação esgotada.
Confio muito no projeto Cena Carioca de Música Progressiva que tem servido como um alicerce para manter um gênero musical ao qual agrada a poucos mas esses poucos são completamente apaixonados pelo o que ouvem e valorizam por demais as boas e escassas bandas nacionais.
TRACKS:
1. Sopro Vital
2. Distância Entre Um Dia E Outro
3. Ebulição dos Tempos
4. Cidade Solar
5. Universos Paralelos
6. Dentro De Si
O surgimento do projeto Cena Carioca de Música Progressiva, muitas vezes divulgado por aqui, também é um claro exemplo de que nem tudo está perdido. Desse projeto foram reveladas bandas de alto nível, lançando materiais impecáveis, proporcionando também o ressurgimento de alguns competentes músicos, muito respeitados por aquelas terras e que merecem o devido destaque.
Desse projeto, divulgo hoje o primeiro disco lançado pela banda Arcpelago que, na minha modesta opinião, foi a mais grata surpresa de 2016. Trabalho com produção impecável e notável preocupação com a qualidade de cada arranjo executado nas seis belas faixas que compõem o disco.
Antes mesmo do processo de finalização do CD para gravação, tive acesso a algumas faixas demo que hoje guardo com muito apreço. São gravações ao vivo em estúdio que naquela época já me aguçava a curiosidade do que viria pela frente. O resultado final foi certeiro. Foram lançadas 200 cópias que rapidamente se esgotaram e a banda teve que providenciar uma nova leva para atender aqueles que ainda procuravam pelo disco, destacando também uma certa notoriedade em países como Inglaterra, Canadá e Japão.
Foto: Patricia Soransso |
A primeira faixa vem com certo impacto. Introdução de Moog muito bem arranjada pelo tecladista Ronaldo Rodrigues, que no decorrer da faixa intercala lindas passagens de Hammond, entrelaçadas a bela guitarra de Eduardo Marcolino. As fortes linhas de baixo de Jorge Carvalho também são um show a parte, afinal não é qualquer músico que domina um baixo poderoso e imponente como o Rickenbacker.
'Sopro Vital' é a mais longa do disco, seus onze minutos de duração sofrem variações instrumentais bastante precisas e de extrema qualidade. Mais para o fim, entra o delicado porém um tanto proeminente vocal de Ronaldo Rodrigues, que dá um toque a mais de beleza a abertura deste belo trabalho.
A segunda faixa, predomina o dueto entre o forte baixo Precision e os solos de guitarra nos remetendo a uma fase mais 'Crimsoniana', por assim dizer. Principalmente nos minutos iniciais, surge uma atmosfera mais obscura fazendo lembrar algumas passagens do álbum 'Red' de 1974. Ao fundo, um suave piano elétrico apenas como um luxuoso acompanhamento para a quebradeira que se segue.
O maestro responsável por conduzir a banda com uma habilidade e destreza invejáveis, fica por conta do baterista Renato Navega. Não conheço outros trabalhos do Renato mas sem dúvida existe aí fortes influências a Bill Brufford e Carl Palmer. O primeiro por sua técnica bastante característica e o segundo pela habilidade com o instrumento, qualidades estas que escuto de longe no Renato.
A terceira faixa 'Ebulição dos Tempos' é a menos progressiva do disco, quebrando um pouco a complexidade do gênero e partindo para um estilo mais pesado com nítidas influências ao Rush no início dos anos 80.
As faixas 'Cidade Solar' e 'Universos Paralelos' são inteiramente instrumentais e, de novo, muito bem executadas, sendo a segunda um composição exclusiva de Eduardo. O que impressiona é a dedicação e o alto nível de detalhes como escolha de timbres, composições e arranjos que nitidamente foram selecionados a dedo para que saíssem como planejado.
Para encerrar, entra a minha faixa favorita do disco. 'Dentro de Si' aparece como uma atmosfera calma e melancólica para depois evoluir a uma instrumentação mais complexa. O curioso dessa faixa é a ênfase dada a cada instrumento. O solo final de Hammond e Moog é de tirar o fôlego, fechando o disco com extrema maestria.
Vale destacar também a arte gráfica de muito bom gosto que ficou por conta da gravurista e fotógrafa Fernanda Pio.
Foto: Carlos Vaz |
Espero sinceramente que este seja apenas o começo de uma longa carreira. Qualquer um sabe o quão difícil é manter uma banda desse nível nos dias atuais. Já cansei de ver, não só bandas nacionais a lançarem um disco maravilhoso, muito bem recebido pelo público e depois desaparecer. Espero que com o Arcpelago seja diferente. Mesmo com algumas mudanças enfrentadas pela banda nos últimos meses e por mais triste que tenha sido a saída do Eduardo da banda, os músicos logo trataram de correr atrás de outro guitarrista que se encaixou perfeitamente a proposta estabelecida. Creio que o jovem talentoso Diogo Albano tenha vindo para ficar e já está correspondendo muito bem durante os shows feitos no Rio, aos quais tiveram sua lotação esgotada.
Confio muito no projeto Cena Carioca de Música Progressiva que tem servido como um alicerce para manter um gênero musical ao qual agrada a poucos mas esses poucos são completamente apaixonados pelo o que ouvem e valorizam por demais as boas e escassas bandas nacionais.
TRACKS:
1. Sopro Vital
2. Distância Entre Um Dia E Outro
3. Ebulição dos Tempos
4. Cidade Solar
5. Universos Paralelos
6. Dentro De Si
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