Não escapou do nosso radar berlinense, o sul-africano Daniel Biro. Nascido em Joanesburgo, mas um cidadão do mundo em sua expressão mais ampla. Ele treinou nos Conservatórios de Mônaco e Paris. Hoje ele mora em Londres. Membro de bandas de pop rock nas décadas de 80 e 90, incluindo Dennis Greaves & the Truth. Também com jazz-prog-psych, Mysteres of the Revolution. Já fez trilhas sonoras e músicas para documentários, dança contemporânea, teatro, TV e é dono de seu próprio selo de música experimental, a Sargasso Records.
Seu primeiro álbum instrumental, inteiramente de teclados, surgiu no final de 2017, "120 One Twenty". Daniel coleciona sintetizadores antigos e incorpora influências do jazz em seu estilo, devido ao seu amor pelo piano elétrico Fender Rhodes.
Abrindo com "Door" muito logicamente, uma faceta melódica muito pronunciada pode ser apreciada imediatamente em seu prog eletrônico. Algo como uma simbiose entre Michael Höenig e Patrick Moraz. Grande colecionador de sonhos descritivos, cria mundos fantásticos de uma estranha plasticidade sonora muito assimilável. Cada pincelada é um detalhe nada aleatório. Nota-se que possui um meticuloso estudo de composição, que funciona com natural eficiência.
Os temas-partes sucedem-se, "Ancient", "Nimbus", "Itinerarium", "Embark"......O maquinário sequencial bem oleado forma um todo com o contexto ambiental, perfeitamente integrado a alguns desenvolvimentos imaginativos e lindamente trabalhados, às vezes muito sinfônicos. Quase uma reminiscência do Projeto Alan Parsons nos dias de "Pyramid" ou "Eve". Certamente o Rhodes é uma parte substancial do estilo de Daniel Biro. Dá a ele aquele guia, uma trilha estilística que o diferencia dos demais. Ao minuto 19' - 20', recupere algumas das passagens mais brilhantes da atual Escola de Berlim. E isso vai aumentando com um vasto tecido melódico que o ritmo do sequenciador vai implantando e dirigindo. Ao mesmo tempo, aquele jazz rock subliminar é ouvido novamente, durante a suíte. Nível A. Isso é muito bom, meus queridos camaradas cibernéticos! Como um primeiro Boletim Meteorológico integrado à Escola de Berlim!
O sinuoso solo de sintetizador no minuto 30' poderia ser um sax em um contexto de jazz ambiente da marca Zawinul-Shorter. As partes da faixa continuam chegando ... "Levitator", "Barren", "Immortal", "Returning" e "Outside". Agora com acenos borbulhantes para "Aqua" de Edgar Froese. Mas a relaxante Fender Rhodes avisa que se trata de música de Daniel Biro. Com um ligeiro atraso, consegue situações de melancolia e nostalgia em pouquíssimas notas. Peter Bardens vem à mente, quando Camel foi infectado com "loucura lunar". Também Dave Greenslade. Mas levadas a fantásticas paisagens espaciais esculpidas com imaginação ilimitada. Ouvir a iguaria kosmische por volta do minuto 45" é testemunhar algo inusitado nestes territórios. Puro escapismo reinventado com maestria.
Minuto 50" da partida e algo da escola francesa também se insinua aqui, piano Jarre + Rhodes que oferece uma nova dimensão à matéria. Porque Daniel Biro se propôs a renovar com este trabalho, sem perder nada da essência clássica. Não só consegue, é que colocou a fasquia muito alta. Nos últimos momentos desta suite de 65 minutos, assistimos, após uma explosão de cor orquestral, a um limbo cósmico digno de "Alpha Centaury", "Atem" ou " Zeit".
Um dos sintetizadores mais originais e frescos dos últimos anos. Jóia.
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