Resenha
Niemen Aerolit
Álbum de CzesŁaw Niemen
1975
CD/LP
Um disco de rock progressivo, mas que não é totalmente preso ao gênero, suas incursões de jazz rock/fusion, por exemplo, são sensacionais
Sempre achei a Polônia um país muito subestimado em relação ao rock progressivo. Se hoje temos o Riverside – citando só eles por serem indiscutivelmente o maior nome daquele país, mas claro que há várias outras bandas polonesas hoje em dia fazendo música boa - que levanta merecidamente a bandeira do país pelo mundo, acho válido que todos saibam que alguns nomes já faziam isso até mesmo no final dos anos 60 e durante toda a década de 70 e 80. Nomes como, SBB, Marek Grechuta, Klan, Exodus - não é o mesmo que você pode estar pensando -, Budka Sulfera e Czeslaw Niemen preencheram muito bem a participação da Polônia dentro do circuito progressivo de todas essas épocas. Escolhi um disco desse último nome citado – o meu preferido – para deixar algumas impressões e valorizar alguém desconhecido por muitos e bastante esquecido por aqueles que o conheceram um dia. Aerolit é daqueles discos capaz de surpreender muito o ouvinte já na sua primeira música. O álbum não é apenas de rock progressivo clássico, há também uma quantidade substancial de jazz-rock e fusion. Sua música varia entre excelentes trabalhos de sintetizadores e linhas fantásticas de guitarra como instrumentos guias, porém, estes não teriam a mesma força se não fossem amparados sempre por uma seção rítmica extremamente envolvente. Obviamente, jamais devemos esquecer de comentar sobre a voz incrível de Niemen. Se você não tiver nenhum problema com o idioma polonês, prepare-se para ouvir um vocalista sensacional, que canta de uma maneira muito emotiva e que se destaca tanto quanto a rica musicalidade do disco – embora eu acredite que algumas pessoas o possam achar meio exagerado. “Cztery Ściany Świata” inicia o disco por meio de uma seção rítmica que logo ganha a companhia de sintetizadores e guitarra que dobram entre si. Os primeiros vocais surgem e parece que mudamos de rock progressivo para o blues, porém, não demora muito e a faixa se redireciona para uma linha musical mais técnica, onde há um excelente revezamento entre solos de sintetizadores e guitarra. Eu também adoro o trabalho de Mellotron nessa música, que embora pouco apareça, sempre que acionado, emerge com ele uma atmosfera sinfônica maravilhosa. Na sua parte final, a peça fica intensa, com os instrumentos sendo tocados com muito fervor sob vocais fortes e que impressionam. “Pielgrzym” tem um começo lúgubre por meio de sintetizadores, então alguns vocais quase falados parecem fazer algum tipo de ritual. Os sintetizadores seguem com o ar atmosférico e até um pouco influenciado na música do Oriente Médio, enquanto os vocais quase a capela se mantem cheio de personalidade. A seção rítmica entra de forma suave somente por volta dos 5 minutos, enquanto as guitarras mais à frente ainda. É uma música muito mais difícil de digerir do que a anterior, porém, gosto da sua maneira quase perturbadora de se desenvolver. “Kamyk”, sintetizadores entregam um começo de música mais espacial, então que um rufo de bateria e o Mellotron se sustentam por alguns segundos. Esse começo é bastante sinfônico. O lado mais jazzístico de Niemen pode ser visto com clareza nessa música através de sua musicalidade cheia de groove. A seção instrumental central é excelente, todos os instrumentos estão incríveis, mas vou destacar a seção rítmica que faz qualquer um mexer as pernas ou bater o pé no chão, mesmo que seja involuntariamente. “Daj Mi Wstążkę Błękitną” é a balada do disco. Novamente, o Mellotron se faz bem presente e de forma muito intensa antes dos vocais – esses mais comedidos - entrarem pela primeira vez. As teclas e a guitarra entregam uma peça quase soul – o solo de teclado é maravilhoso e as linhas frenéticas de guitarra são excelentes. Em uma música com essa pegada é óbvio que Niemen não ia deixar de destilar vocais poderosos e enérgicos. “Smutny Ktoś I Biedny Nikt” começa por meio de uma musicalidade que é puro jazz-fusion e que logo ganha a companhia dos vocais, nessa parte a seção rítmica está reluzente. Apesar dos vocais – como em todo o álbum - serem maravilhosos, a música brilha mesmo é em suas passagens instrumentais, todos os instrumentos estão simplesmente triturantes. As teclas mais uma vez entregam alguns solos incríveis, com isso, Niemen mostra que não é apenas um excelente vocalista, mas instrumentista. Sempre que faço resenhas de discos cantados em idiomas que fogem do inglês ou de línguas de descendência latina, como, por exemplo, o espanhol ou italiano, em algum momento eu gosto de deixar claro que, se você é um ouvinte que coloca em si barreiras em relação idiomas “pouco convencionais”, fazendo com que isso o atrapalhe na hora de ouvir determinadas músicas, provavelmente 40% da experiência plena aqui será perdida, afinal, Niemen não é apenas um simples vocalista, ele muitas vezes grita em plenos pulmões em desempenhos brilhantes que fazem deste disco ser o que ele é, porém, em polonês e isso talvez não agrade algumas pessoas. Mas vamos deixar de lado esse preconceito – que considero bobo – em relação ao idioma que alguns ouvintes têm e vamos falar o que Aerolit entrega musicalmente. Um disco de rock progressivo sinfônico, mas que não é totalmente preso ao gênero, suas incursões de jazz rock/fusion, por exemplo, são sensacionais. Portanto, já que hoje existe uma facilidade enorme pra quem quer consumir música, que tal fazer com que Aerolit chegue em mais pessoas e se transforme em um clássico, ainda que tardiamente?
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