Associados à nova vaga psicadélica, os UMO sempre foram, porém, um bicho diferente: mais originais, esquivando-se aos lugares comuns do acid rock.
Em 2010, os Tame Impala lançam o seu álbum de estreia (Innerspeaker), o pontapé de saída de uma onda de revivalismo psicadélico (King Gizzard, Temples e demais trupe). Se o talento destas bandas é indiscutível, oferecendo-nos belíssimas canções, o seu excesso de nostalgia acaba por ser preguiçoso, caindo muitas vezes no mais descarado pastiche (Beatles, Syd Barrett e Zombies são alguns dos túmulos profanados). Talvez por isso gostemos tanto dos Unknown Mortal Orchestra, com alguns travos psicadélicos, é certo, mas sem nunca comprometer a sua originalidade.
O neo-zelandês Ruban Nielson, radicado em Portland, sempre foi o cabecilha criativo da banda. No álbum de estreia então nem se fala: é só Nielson que está a bordo, tocando sozinho todos os instrumentos. Só quando foi necessário levar o disco para os palcos é que o homem lá concedeu em arregimentar um baixista e um baterista. A chave para compreender os UMO estará sempre na singularidade criativa do seu fundador.
O disco de estreia é de uma economia encantadora: apenas meia hora, só filé mignon. As progressões de acordes são inesperadas, dando um colorido especial às suas bonitas melodias. O mesmo sucede com a sua guitarra, sempre fresca e inventiva. Em “Jello and Juggernauts”, há uma elegância barroca no seu dedilhado, Bach para drogados. No tema de abertura (a viciante “Ffunny Ffriends”), Nielson surpreende-nos com um solo percussivo à Toumani Diabaté. Muitas vezes, a melodia é anunciada na guitarra e depois repetida na voz, ardiloso estratagema para que a canção não nos saia da cabeça durante dias. Resulta.
Ao mesmo tempo, Nielson tenta sabotar ao máximo a qualidade do som para que tudo não fique bonitinho de mais. Não é só a guitarra que é distorcida; a voz e o baixo também são saturadas num granuloso fuzz, como se saísse terra dos amplificadores. O fel lo-fi corta a doçura da voz e das melodias, tornando tudo mais temperado.
Há mesmo sabores que nada têm a ver com o receituário psicadélico, como as batidas roubadas ao hip-hop e um certo balanço soul. Até na aparência Nielson se demarca do rebanho neo-hippie, recusando as túnicas e fartas cabeleiras da praxe. E, no entanto, os UMO estão mais próximos em espírito do “summer of love” original do que os seus colegas revivalistas. O psicadelismo nunca esteve num destino específico mas sim na incerteza da própria viagem…
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