Há 30 anos, o Camisa de Vênus lançava o seu primeiro álbum gravado ao vivo, o Viva, um dos discos que marcaram a minha adolescência. O Camisa foi a primeira banda da geração do rock nacional dos anos 1980 a lançar um álbum ao vivo. Ainda em 1986, poucos meses depois do Camisa, outros astros do rock nacional lançaram seus primeiros discos ao vivo como RPM e o seu Rádio Pirata Ao Vivo, Marina Lima com Todas Ao Vivo e o Kid Abelha com Kid Abelha - Ao Vivo.
Gravado durante um show da banda baiana no Caiçara Music Hall (já extinto), em Santos/SP, no dia 8 de março de 1986, Viva é um dos melhores álbuns gravados ao vivo do rock brasileiro. O disco captou muito bem como o Camisa era “matador” no palco naquela época. A gravadora não usou nenhum tipo de processo de pós-produção pra “retocar” o material gravado, nenhum overdub, nenhum tipo de correção, nada, diferente do que ocorreu com o Rádio Pirata Ao Vivo que segundo a turma do Camisa, o disco ao vivo do RPM teria sofrido uma “maquiagem”. O que se ouve no Viva é o som nu e cru, com microfonia, erros técnicos de som e tudo mais, como se o ouvinte estivesse no local do show.
Das dez faixas, metade era de inéditas como “Homem Forte”, “Solução Final”, “Rotina”, “My Way”(cover tosco de um antigo sucesso de Frank Sinatra) e "Silvia", esta última, capaz de fazer qualquer feminista subir pelas paredes de raiva. Mas os hits estavam lá como "Eu Não Matei Joana D'Arc”, "Bete Morreu” e “O Adventista".
O álbum causou muita polêmica pelo grande número de palavrões berrados pelo público, a tal ponto de ter oito das suas dez faixas proibidas de tocar no rádio. Houve situações hilárias por causa disso como a ocasião em que Marcelo Nova presenciou numa loja de discos, a Polícia Federal apreendendo dezenas de cópias de Viva. Foi então que ele se apresentou ao policial se identificando como vocalista do Camisa e autor das músicas do álbum, e perguntou a ele se não seria mais lógico prendê-lo ali do que apreender os discos.
Apesar da censura, Viva vendeu mais de 180 mil cópias. O sucesso da polêmica do disco fez a frase “Bota pra f...” entoada pelo público em todas as faixas do álbum gravado ao vivo, virar grito de guerra das torcidas de futebol na época.
A versão em CD de Viva, lançada no começo dos anos 1990, sofreu alterações. A faixa “Rotina” foi retirada. O discurso de Marcelo Nova “homenageando” o Dia Internacional da Mulher, foi cortado. Pra completar o tempo máximo do CD, a gravadora teve a cara de pau enxertar com algumas faixas originais de estúdio do primeiro álbum do Camisa e do segundo, o Batalhões de Estranhos, de 1985.
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Camisa de Vênus no Caiçara Music Hall, em Santos, no show que gerou o álbum Viva, em 1986. |
Viva foi um disco pra cumprir contrato com a gravadora RGE, pois, o Camisa já estava com seu passe acertado com a gigante americana Warner Music. A troca de gravadora fez parte dos fãs tacharem os membros do Camisa de “traidores”. O Camisa lançaria no final do mesmo ano, o seu primeiro disco na nova gravadora, Correndo O Risco. Mas isso, é uma outra história.
Camisa de Vênus: Marcelo Nova ( vocal), Karl Hummel (guitarra base), Gustavo Mullem (guitarra solo), Robério Santana (baixo) e Aldo Machado (bateria).
Faixas:
Lado A
1."Eu Não Matei Joana D'Arc" (Gustavo Mullem - Marcelo Nova)
2."Hoje" (Karl Hummel - Marcelo Nova)
3."Homem Forte" (Karl Hummel - Marcelo Nova)
4."Solução Final" (Karl Hummel - Marcelo Nova)
5."Rotina" (Karl Hummel/ Gustavo Mullem - Marcelo Nova)
Lado B
1."My Way" (Anka - François - Revaux - Thimbault - Marcelo Nova)
2."Bete Morreu" (Marcelo Nova - Robério Santana)
3."Silvia" (Marcelo Nova - Robério Santana)
4."Metástase" (Karl Hummel - Marcelo Nova)
5."O Adventista" (Karl Hummel - Marcelo Nova)
Ouça Viva na íntegra
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