É a intenção de explosão sonora que o duo carismático de Brooklyn, Light Asylum, promete e nos dá com o EP In Tension. Este trabalho viu a luz do dia há uma década, mas parece mais atual do que nunca.
A voz (e que voz) é de Shannon Funchess e as camadas sonoras estão ao encargo de Bruno Coviello. Já o trabalho lírico é repartido entre os dois.
Light Asylum assume-se como uma “live-band” do meio underground focada primariamente na performance ao vivo. Daí que o processo de criação e gravação dos temas seja ligeiramente atípico para esta banda. Aliás, Shannon e Bruno reforçam que primeiro atuam ao vivo e só depois tentam replicar a intensidade do concerto na gravação em estúdio dos temas.
Num rasgo pujante de darkwave, marcado pela presença constante de sintetizadores, a banda apresentou-se em grande com este primeiro trabalho, ainda que o seu lançamento tenha tido pouca cobertura, como a própria vocalista lamentou em entrevistas.
Este In Tension tem traços de génio e nasceu da determinação e criatividade do grupo, já que os custos da produção foram suportados por Funchess e Coviello, sem o suporte de nenhuma produtora. Conta com apenas quatro músicas, que se afiguram como uma ode aos eighties, com o que de melhor o goth, darkwave e o synth-pop nos podem dar.
A eletricidade quase fúnebre do tema “Dark Allies” parece pedir luzes néon, tornando quase impossível dissociar o som da imagem luminosa que este transporta. E a voz rouca de Funchess, o aparelho vocal, aquele primal scream tão presente neste tema, assombra.
“Aw, say three Hail Marys, turn around, pray about it
Aw, come on, nail me to the cross in the darkest alley”
Estas estrofes, parecem ser capazes de fazer tremer qualquer clube e a visão que se cria é imediata: um clube escuro, lotado de pessoas com os olhos esfumados a dançar frenéticas sob o comando de um instrumental que assim o ordena e onde só o prateado das correntes e os flashes luminosos contrastam com o cabedal e toda aquela aura negra.
O tema “Skull Fuct” começa com o ecoar de um sino, seguido por uma cadência rítmica que nos atira imediatamente para New Order, onde então se dissipa dando lugar a diferentes camadas de uma onda de sintetizadores.
As associações mais imediatas que podemos fazer a Light Asylum são Depeche Mode e Nine Inch Nails mas não podemos deixar de fora nomes mais contemporâneos como She Wants Revenge, Linea Aspera, Boy Harsher ou até os turcos She Past Away.
A palavra fúnebre parece-me apropriada para falar de In Tension, tanto pelo tom pesado e até zangado de Shannon, como pelo recurso ao embalo de sinos, passando pelo instrumental e por letras como esta:
“Sucking in, gaping mouth, breathing in the dust, Whipped flesh, broken bones, save us from the horror”.
Neste trabalho há espaço para tudo, se no tema“ Knights and Weekends” conseguimos sorrir com o despropositado de uma letra sem grande sentido acariciada por um instrumental interessante como fundo, já em “A Certain Person” e “Skull Fuct” as letras transportam-nos para um ambiente de perda, confusão e dor. Podemos dizer que se estas duas últimas faixas se situam ambas nas várias tonalidades do cinzento, então “Dark Allies” é um bombardeamento sensorial de glitter que passa por todas as cores do espectro cromático e nos impele a dançar.
Todas as faixas, com uma letra mais ou menos rica, permitem tirar uma conclusão: Light Asylum é uma banda com algumas provas dadas, bastante promissora, da qual queremos ver mais, sobretudo quando o último trabalho data já de 2012, com o álbum auto-intitulado.
A conclusão parece simples, o duo que “makes dance music for people to dance to” alcança uma bela simbiose entre o carisma e talento incontestáveis de Funchess e o crescendo instrumental, ao qual é impossível ficar indiferente, de Coviello.
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