sexta-feira, 19 de maio de 2023

The Byrds – Fifth Dimension (1966)

 

O disco que inventou o rock psicadélico. Uma síntese inspiradora entre sensibilidade pop e experimentalismo.

Nos seus dois primeiros discos, ambos de ’65, os Byrds inventaram o folk rock, electrificando o que então estava proibido por dogma. Nesse ano, muitos foram os que seguiram no seu encalço, penhorando as suas guitarras acústicas em troca de estridentes amplificadores. O próprio Dylan, que tinha tido a generosidade de emprestar aos Byrds muitas das suas canções, acabou por ser influenciado pelos seus discípulos, electrificando também a sua folk.

Tudo corria de feição até que Gene Clark – que escrevia a maior parte dos temas originais dos Byrds – decide abandonar o barco. De maneira que, para o terceiro álbum, Roger McGuinn e David Crosby não têm outra opção que não a de preencher esse vazio, descobrindo, surpresos, que também sabem escrever canções. Têm tanto sucesso na empreitada que Fifth Dimension se dá ao luxo de prescindir das já costumeiras versões do Dylan (o que não quer dizer que a sua influência não perdure: o tema-título, que abre o disco, é “dylanesco” até ao tutano).

A abordagem é, também, diferente: mais experimental, saltando para o desconhecido e inventando pelo caminho o rock psicadélico. “Eight Miles High”, com a sua guitarra nervosa e fragmentada como uma alucinação, foi um dos primeiros exemplares de acid rock (Roger McGuinn fala da influência de Coltrane e de Ravi Shankar sobre a nova estética mas suspeitamos que o consumo de ácidos tenha tido um papel bem mais decisivo). Com este visionário tema, os Byrds influenciaram tudo e todos, inclusive os Beatles (o single saiu antes de “Paperback Writer” e Fifth Dimension antes de Revolver, é bom lembrar).

Ao mesmo tempo que os Byrds se aventuram no futurismo psicadélico, lançam também as sementes do country rock com a divertida “Mr. Spaceman” (hippies cabeludos e “drógádos” tocando a música dos rednecks). Fifth Dimension é assim, explora uma coisa e o seu contrário, num desprezo olímpico por todas as convenções.

Tudo seria uma confusa manta de retalhos se não houvesse dois elementos unificadores: as doces harmonias vocais e a mão direita de Roger McGuinn. A beleza do seu dedilhado, desenhando elegantes arpejos melódicos na Richenbacker de 12 cordas, é a própria essência dos Byrds. Nunca ninguém antes tinha feito uma guitarra soar como uma caixa de música ou um carrilhão de sinos. R.E.M.Smiths e Teenage Fanclub seriam inspirados pela sua magia.

Mesmo com uma aposta forte em temas originais, há duas versões lindíssimas de clássicos da folk – “John Riley” e “Wild Mountain Thyme” -, trazendo um travo pastoral ao disco.

O tomo seguinte, Younger Than Yesterday, talvez seja mais coeso, mas Fifth Dimension, pela sua ousadia e influência, será sempre o nosso favorito.



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