terça-feira, 6 de junho de 2023

Resenha Matching Mole Álbum de Matching Mole 1972

 

Resenha

Matching Mole

Álbum de Matching Mole

1972

CD/LP

Eu adoro a cena progressiva de Canterbury, inclusive, já publiquei aqui vários títulos de bandas que ajudaram a construir por meio de discos excelentes, esse período fértil da vertente progressiva que pode ser considerada uma das mais sofisticadas e requintadas de todas – ainda que em alguns momentos mais experimentais, também pode soar muito estranha. Quando falamos de Matching Mole, falamos de mais um dos exemplos do quanto a cena de Canterbury é incestuosa. Fundada pelo vocalista e baterista, Robert Wyatt, depois de sair do Soft Machine, a banda também contava nesse primeiro álbum com Dave Sinclair, ex-Caravan, nos teclados, o ex-Delivery, Phil Miller na guitarra e o baixista Bill MacCornick, ex Quiet Riot. 

A reclamação que muitas pessoas têm em comum acordo quando falamos desse álbum é sobre a voz de Wyatt – ele pouco canta e mais faz algumas vocalizações durante todo o disco -, inclusive, eu não discordo e também acho um ponto negativo, muitas vezes a falta de naturalidade até me irrita um pouco, porém, há algumas virtudes aqui que podem fazer facilmente com que sejamos mais tolerantes em relação aos vocais muitas vezes não tão agradáveis como gostaríamos. Mesmo que seja claramente desigual, a banda entrega um disco com um número maior de material que podemos aproveitar do que descartar. 

Tenho em mente que chamar esse disco apenas de rock progressivo soa muito genérico - na verdade, multos discos da cena de Canterbury são assim -, afinal, sua música também é uma espécie de pop rock psicodélico em determinada parte, enquanto em outra tudo fica mais complicado por meio de alguns segmentos de improvisos de influências jazzísticas alucinantes – sendo esses momentos mais parecidos com a Soft Machine em seu disco Third. Com isso, quero dizer que quanto mais o ouvinte for aberto a sonoridades diferentes em um único registro, mais fácil dele apreciá-lo como um todo, no meu caso, confesso que a segunda metade tem mais materiais que me ganham – ainda que eu não ache a primeira metade necessariamente ruim. Inclusive, já me deparei com algumas pessoas que preferem a primeira metade.  

Uma dica importante para quem quer ouvir esse disco, é procurar a sua versão remasterizada – a de 2012, pois a de 1993 também não é boa -, pois apesar de ter sido gravado em uma gravadora de renome como a CBS Records, o resultado não é bom, às vezes me pergunto se eles não entregaram o álbum mal gravado de propósito, mas depois vejo que isso não faz nenhum sentido, ainda que estejamos falando de uma banda liderada por Robert Wyatt e suas muitas excentricidades que não medem esforços para expor suas peculiaridades bizarramente originais.  

Há discos mais fáceis para iniciar na cena de Canterbury? Sem pensar muito eu citaria dezenas deles, mas isso não quer dizer que essa estreia da Matching Mole não tenha o seu valor, apenas pode soar um pouco difícil aos menos doutrinados. Particularmente – e como já dito antes -, gosto mais da segunda parte dele, mas falando do álbum como um todo, durante os seus 40 minutos, o ouvinte vai lidar com linhas de free-jazz, instrumentais expandidos e bastante complexos e até intransigentes, acenos ainda que de longe para uma sonoridade agressiva, seção rítmica de às vezes construídas em moldes estranhos, guitarras ora padrão e ora mais incomum, ótimas paisagens sonoras, boas vibrações psicodélicas e harmonias muitas vezes sepulcrais, enfim, tudo isso é um atrativo e tanto para qualquer ouvinte disposto a abraçar tantas ideias em um mesmo álbum.   

Esse é daquele tipos de disco excêntrico que não é fácil agradar de forma instantânea ouvintes menos habituais com a música que é ofertada nele, porém, ele tem a capacidade de crescer naqueles que não desistirem após a primeira audição. Resumindo, está longe dos melhores álbuns da cena de Canterbury ou dos melhores trabalhos produzidos por Robert Wyatt, mas mesmo assim, consegue entreter com boa música encontrada na maior parte do disco. 

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