quarta-feira, 14 de junho de 2023

"The Clash" (CBS, 1977), The Clash

 


Da "santíssima trindade do punk rock", Ramones-Sex Pistols-The Clash, a mais politizada e engajada sem sombra de dúvidas era a banda The Clash. O grupo tinha um discurso politizado bastante coeso, e que não se restringia apenas nas letras das canções, mas também demonstrava tudo que pregava através de atos, como por exemplo, o apoio que a banda deu no final dos anos 1970 ao movimento Sandinista na Nicarágua e ao IRA na Irlanda.

O Clash foi formado em meados de 1976, em Londres, Inglaterra, quando o "furacão" punk começava a sacudir o reino da Rainha Elizabeth II e abalar as estruturas do mainstream do rock graças à rebeldia descontrolada dos Sex Pìstols. A banda capitaneada por Johnny Rotten serviu de inspiração para uma legião de jovens músicos formarem novas bandas com uma sonoridade e a estética fincadas no punk rock. Naquele ano, após verem um show dos Pistols, Joe Strummer (vocais e guitarra) e Keith Levene (guitarra), deixaram a banda 101'ers e se juntaram aos ex-London SS, Mick Jones (guitarra solo e vocais), Paul Simonon (baixo e vocais) e Terry Chimes (baterista e também conhecido como Tory Crimes) e formaram a banda The Clash.

Sex Pistols, ainda com Glen Matlock (segundo da esquerda para a direita): inspiração para The Clash.

Contando com Bernard Rhodes (ex-sócio de Malcolm McLaren, empresários dos Sex Pistols), o The Clash começou a fazer as suas primeiras apresentações. Pouco depois, Levene deixou a banda. No final de 1976, o Clash integra a turnê Anachy Tour, abrindo os shows dos Sex Pistols.

Em fevereiro de 1977, o Clash assinou contrato com a gravadora CBS Records e logo já estava entrando em estúdio para as gravações do seu primeiro álbum. Em março de 1977, sai o primeiro single do Clash, "White Riot". No mês seguinte, a CBS lança o primeiro e autointitulado álbum do Clash. E justamente após o lançamento do álbum, Terry Chimes deixa o Clash é substituído por Topper Headon. Em maio, sai o segundo single da banda, "Remote Control".

Apesar de quarteto, a capa do álbum de estreia do Clash traz apenas três integrantes. O baterista Terry Chimes não quis fazer as fotos para a capa porque havia previamente decidido deixar a banda após o lançamento do disco. A foto é de Kate Simon e a partir dela, foi concebida a arte da capa que ficou por conta do designer gráfico polonês Roslaw Szaybo. 

Na maioria das faixas de The Clash, o álbum, Joe Strummer é quem canta, enquanto é acompanhado pelos outros colegas fazendo os vocais de apoio. Mick Jones canta apenas em uma, e divide os vocais com Strummer em outras duas faixas. Se comparado com o primeiro álbum dos Sex Pistols e com o dos Ramones, este álbum de estreia do Clash mostra uma banda tecnicamente mais evoluída que as duas primeiras citadas. Mesmo se tratando de um álbum punk, o Clash já demonstrava que musicalmente tinha um arco de possibilidades mais variado que os Sex Pistols e Ramones, o que se confirmaria mais tarde em álbuns como London Calling(1979) e Sandinista(1980).

The Clash:, da esquerda para a direita: Joe Strummer, Paul Simonon, Topper Headon e Mick Jones.

O álbum começa com "Janie Jones", cujo título é nome de uma cantora pop inglesa que fez um relativo sucesso nos anos 1960, mas que na década seguinte, se envolveu num escândalo, acusada de agenciar prostitutas na Inglaterra. Com Strummer e Jones dividindo os vocais principais, "Remote Control" é uma crítica aos burocratas do show business, que ditam regras e impõem um controle a quem trabalha para eles.  Em "I'm So Bored With The USA", o Clash faz uma crítica direta aos Estados Unidos, destacando o consumo de drogas por parte dos soldados norte-americanos que estavam no conflito no Camboja, o apoio do governo norte-americano às ditaduras - sobretudo às da América Latina - e ao escândalo do Watergate que culminou com a queda do presidente Richard Nixon, em 1974.

"White Riot" trata do agravante problema das diferenças das classes sociais e raciais na Inglaterra: "Black men got a lot of problems / But they don't mind throwin a brick / White people go to school / Where they teach you how to be real thick" ("Os negros têm muitos problemas / Mas não temem atirar um tijolo / O povo branco vai à escola / Onde o ensinam a serem verdadeiros estúpidos..." ).  O ódio, a guerra, a violência e a intolerância são temas presentes em "Hate & War", e aqui, Strummer e Jones dividem os vocais principais mais uma vez. Em "What's My Name" o tema gira em torno de crise de identidade, enquanto que "Deny" fala de um sujeito mentiroso e enganador.

"London's Burning" fecha o lado A traça uma imagem da Londres do final dos anos 1970, em que o Clash fala do tédio e do tráfego da capital inglesa. A banda insinua que a necessidade de mudança, de sair do marasmo, da inércia.

Guerra no Camboja, nos anos 1970: conflito em que os Estados Unidos se envolveram e
que é citado em "I'm So Bored With The USA".

Abrindo o lado B do álbum, a faixa "Carrer Opportunities", na qual o Clash destaca a crise econômica e o desemprego que assolavam o Reino Unido no final dos anos 1970. "Cheat" fala de trapaça e de burlar regras. Com um título emprestado do nome de uma marca de preservativos, "Protex Blue" trata de sexo e prazer.

O Clash mostra o seu vínculo com o reggae em "Police & Thieves", regravação do sucesso do cantor jamaicano Junior Murvin, originalmente gravada por este em 1976 e que fala dos conflitos entre policiais e bandidos na Jamaica. A música entrou no álbum em última hora para ampliar o número de faixas do disco.

"48 Hours" busca a diversão intensa no final de semana enquanto a segunda-feira não vem. Encerrando álbum, "Garageland", uma resposta provocativa ao jornalista Charles Shaar Murray que havia afirmado que o Clash era "um tipo de banda de garagem que deveria ser devolvida imediatamente à garagem".

The Clash, o álbum, teve um desempenho comercial bastante modesto. No Reino Unido, alcançou o 12º lugar da parada britânica. A gravadora CBS, a princípio não lançou álbum imediatamente nos Estados Unidos por achá-lo pouco atraente ao mercado norte-americano. O só foi lançado nos Estados Unidos em 1979, e assim mesmo, com algumas alteração na lista de faixas. A edição norte-americana substituiu cinco faixas da verão inglesa por cinco faixas lançadas anteriormente apenas em singles. Ficaram de fora da edição norte-americana "Deny", "Cheat", "Protex Blue", "48 Hours", "White Riot"(versão álbum), e substituídas por "Clash City Rockers", "Complete Control", "White Riot" (regravação para single), "I Fought The Law" e "Jail Guitar "Doors".   

Faixas

Edição inglesa

Lado A
"Janie Jones"  
"Remote Control"
"I'm So Bored with the USA"
"White Riot"
"Hate and War"
"What's My Name" (Joe Strummer - Mick Jones - Keith Levene)
"Deny"
"London's Burning" 

Lado B
"Career Opportunities"
"Cheat"
"Protex Blue"
"Police & Thieves" (Junior Murvin - Lee Perry)
"48 Hours"
"Garageland"

Edição norte-americana

Lado  A
"Clash City Rockers"
"I’m So Bored with the USA"
"Remote Control"
"Complete Control"
"White Riot"
"(White Man) In Hammersmith Palais"
"London's Burning"
"I Fought The Law" (Sonny Curtis)

Lado B
"Janie Jones"
"Career Opportunities"
"What's My Name" (Joe Strummer - Mick Jones - Keith Levene)
"Hate & War"
"Police & Thieves" (Junior Murvin - Lee Perry)
"Jail Guitar Doors"
"Garageland"

Todas as faixas são de autoria de Joe Strummer e Mick Jones, exceto as indicadas.

The Clash: Joe Strummer (vocal e vocais de apoio - guitarra base - guitarra solo em "48 Hours" )
Mick Jones (guitarra, vocais principais e vocais de apoio)
Paul Simonon (baixo)
Terry Chimes (creditado como Tory Crimes) (bateria)
Topper Headon (bateria) nas faixas 1, 4, 6, 8, 14 na versão americana



Confira o álbum The Clash - edição inglesa




Confira o álbum The Clash 
edição norte-americana




"I Fought The Law" (vídeoclipe)




"Complete Control" (vídeoclipe)




"White Riot" (vídeoclipe)

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