O trio inglês Emerson Lake & Palmer estava em plena ascensão naquele começo de anos 1970 no nascente rock progressivo. Os três jovens músicos integrantes da banda eram oriundos de bandas de rock famosas. O tecladista Keith Emerson vinha da banda Nice, o vocalista, baixista e guitarrista Greg Lake saiu do King Crimson, enquanto que o baterista Carl Palmer havia integrado a banda Atomic Rooster. Em 1970, os três uniram forças e formaram o supergrupo Emerson Lake & Palmer, uma tendência que estava em voga naquela virada dos anos 1960 para os anos 1970, e inaugurada pelo Cream, quando músicos consagrados se juntavam para formar novas bandas.
Ainda em 1970, o trio assinava contrato com a gravadora Island Records. Naquele mesmo ano, o trio se apresentou no Festival da Ilha de Wight de maneira apoteótica, com direito a disparos de canhões, algo que AC/DC faria mais tarde. Três meses depois, lançou o primeiro e autointitulado álbum, emplacando o primeiro sucesso, “Lucky Man”. Em 1971, sai Tarkus, o segundo álbum do Emerson Lake & Palmer, que alcança o 1º lugar no Reino Unido, e o 9º nos Estados Unidos. Sucedem-se uma série shows sempre concorridos, onde a banda mostrava o seu som que era uma fusão de referências de música erudita, jazz e rock. No final de 1971, o trio lança um álbum gravado ao vivo no qual fez uma adaptação para o rock progressivo de Pictures At A Exhibition, uma suíte para piano de Modest Mussorgsky (1839-1881), de 1874. Batizado com o nome da obra de Mussorgsky, o álbum fez um grande sucesso chegando ao 2º lugar no Reino Unido e 10º lugar nos Estados Unidos.
Greg Lake (acima) e Keith Emerson (centro) no Festival da Ilha de Wight, em 1970. |
Enquanto Tarkus e o ao vivo Pictures At A Exhibition iam bem nas paradas de vendas de álbuns, a banda já estava desde outubro de 1971 no estúdio em processo de gravação do próximo álbum, Trilogy. Se as sessões de gravação de Tarkus foram cercadas de muita tensão entre Keith Emerson e Greg Lake, durante a gravação de Trilogy o clima era bem mais ameno, o que acabou se refletindo no novo álbum.
Terceiro álbum de estúdio do Emerson Lake & Palmer, Trilogy teve Greg Lake como produtor. Foi ele quem produziu os dois primeiros álbuns de estúdio, e o álbum gravado ao vivo, revelando-se além de músico talentoso, um exímio produtor.
As três primeiras faixas de Trilogy são praticamente uma. São três partes interligadas. “The Endless Enigma (Part One)”, faixa que abre o álbum, começa silenciosamente, um tanto quanto sombria. De repente, um som agudo de sintetizador dá o sinal seguido por um piano tenso que cria um clima de suspense, e que a partir daí a música vai numa crescente, aparecendo outros instrumentos até disparar num ritmo de jazz-rock contagiante com solos de órgão Hammond de Keith Emerson. “The Endless Enigma (Part One)” possui andamentos diferentes, vocais de Lake e termina com solos de piano de Emerson que se emendam com a introdução de “Fugue”, uma faixa curta e instrumental na qual o tecladista mostra toda a sua habilidade. Ela serve de conexão para “The Endless Enigma (Part Two)”, que é um complemento de The Endless Enigma (Part One)” e que possui um final imponente.
“From The Beginning” é uma bela balada folk rock, com violão dedilhado de Greg Lake na introdução e uma melodia agradável. Lake canta de maneira tranquila, faz a base rítmica ao violão. Os solos melódicos de guitarra são também de Lake, enquanto Emerson finaliza com um som “assobiante” dos teclados.
Carl Palmer faz uma introdução sensacional com sua bateria em “The Sheriff”, faixa que conta a história de um xerife que segue os passos de um fora da lei. A música termina animadamente ao som de piano de saloon de cidadezinha do velho oeste norte-americano.
Aaron Copland: autor de "Hoedown". |
Fechando o lado A de Trilogy, a instrumental “Hoedown”, uma adaptação de uma peça de música clássica do compositor erudito norte-americano Aaron Copland (1900 -1990). Originalmente, foi composta por Copland para o balé Rodeo, em 1942. Trinta anos depois, a música ganhou uma versão para o rock progressivo através de Emerson Lake & Palmer, com destaque para os solos alucinantes de Keith Emerson no órgão Hammond e no sintetizador Moog, e para a bateria frenética de Carl Palmer.
O lado do B traz três faixas, duas delas com pouco mais de oito minutos cada uma. A primeira é a faixa que dá nome ao álbum, cujo tema tem um caráter romântico falando sobre um amor que chegou ao fim. Começa com um piano melódico de Emerson acompanhando o canto delicado de Lake. Solos de piano se sucedem até a entrada de outros instrumentos juntos, tendo um sintetizador fazendo longos solos. Palmer se mostra um baterista habilidoso, preenchendo todos os espaços da música, e Lake segue cantando e fazendo uma linha de baixo bem marcado.
No hard rock “Living Sin”, Lake surpreende ao cantar de maneira agressiva, parecendo querer vomitar toda uma raiva acumulada, enquanto que Emerson e Palmer mostram todo o virtuosismo como instrumentistas.
“Abaddon’s Bolero” encerra o álbum e é mais um exemplo de música em que o trio buscou inspiração na música erudita. A faixa começa num volume muito baixo, quase inaudível, mas que lentamente vai aumentando e logo se percebe um som de bateria acompanhado de um sintetizador simulando uma flauta, produzindo um som que lembra a de uma banda marcial. No decorrer da música, enquanto o volume vai aumentando, mais instrumentos vão surgindo, o que indica que “Abaddon’s Bolero” foi gravada com várias camadas (overdubs). A repetição melódica e o andamento marcial de “Abaddon’s Bolero” foram inspirados no Bolero de Maurice Ravel (1875-1937), composta pelo francês em 1928.
A criação da capa de Trilogy ficou a cargo do estúdio Hipgnosis, que se especializou na produção de capas de discos e que fez as fotos para Trilogy, uma delas a da paisagem que serve de fundo para a ilustração com os três membros da banda, de autoria do desenhista Phil Crennel. Originalmente, Trilogy foi lançado com capa dupla.
Parte interna da capa dupla original de Trilogy. |
Trilogy chegou às lojas em 6 de julho de 1972. O álbum foi 2º lugar no Reino Unido na parada de álbuns e 5º lugar na Billboard 200, nos Estados Unidos. “From The Beginning” foi o grande hit do álbum, alcançando o 38º lugar nos Estados Unidos, sendo o single mais vendido da carreira do Emerson Lake & Palmer. Os violões e os teclados de “From The Beginning” foram inspiração para Rita Lee e Roberto de Carvalho fazerem os arranjos de “Mania de Você”, sucesso da “rainha do rock brasileiro”, em 1979. “Hoedown” foi a música de abertura dos shows da turnê de Trilogy e da do álbum seguinte, Brain Salad Surgery, de 1973.
O lançamento de Trilogy foi sucedido por uma turnê que passou pela Europa, Estados Unidos e Japão. Com o sucesso de Trilogy e a turnê, o Emerson Lake & Palmer foi ganhando mais projeção e se consolidando como uma das principais bandas do rock progressivo através do álbum Brain Salad Surgery que levaria o trio inglês ao topo. Depois disso, a banda optou pelas extravagâncias e megalomanias que a tonaram um alvo mortal dos punks.
Faixas:
Lado A
- “ The Endless Enigma (Part One)” (Keith Emerson - Greg Lake)
- “Fugue” (Keith Emerson)
- “The Endless Enigma (Part Two)” (Keith Emerson - Greg Lake)
- “From The Beginning” (Greg Lake)
- “The Sheriff” (Keith Emerson - Greg Lake)
- “Hoedown (Taken From Rodeo)” (Aaron Copland - Keith Emerson - Greg Lake – Carl Palmer)
Lado B
- “Trilogy” (Keith Emerson - Greg Lake)
- “Living Sin” (Keith Emerson - Greg Lake – Carl Palmer)
- “Abaddon’s Bolero” (Keith Emerson)
Emerson, Lake & Palmer: Keith Emerson (órgão Hammond C3, piano, sintetizador Mini Moog Modelo D, sintetizdor Moog III C ), Greg Lake (baixo, guitarras, vocais) e Carl Palmer (bateria e percussão).
“From The Beginning”
“Hoedown (Taken From Rodeo)”
"Abaddon's Bolero"
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