Quando você ouve falar sobr Avant-Garde Music, o que você pensa? Eu sempre via um bando de doidos tocando música de doidos, e jamais entendia o por que disso existir. Depois de muito ouvir free jazz, um dos estilos que mais gosto, resolvi me adentrar nas maluquices e obras ligadas às experimentações e inovações (ou seriam deboches e desaforos) registradas para a posteridade em incontáveis álbuns que estão no mercado há algum tempo, aliás, escondidos, pois a maioria não vendeu praticamente nada.
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As escolhidas talvez sejam as que menos preparação o ouvinte deva ter, apesar do estado mental das criaturas que as gravaram (ou o nível de chapação) não ser dos mais recomendáveis para um ser humano, mas ouvidos atentos descobrirão a genialidade / absurdez que é a Avant-Garde Music, mas principalmente, o choque que ela causa em ouvidos acostumados a ouvir música apenas com ritmos e melodias. Prepare seus cogumelos, amarre sua camisa de força e deixe a loucura entrar em sua mente.
Um dos maiores representantes da cena Avant-Garde foi o casal John Lennon e Yoko Ono. Quando eles se uniram, seus primeiros álbuns geraram muitas polêmicas entre apreciadores dos Fab Four e também com a imprensa, que não entendeu as ideias malucas do inglês e da japonesa. O primeiro nome que veio à mente para a lista foi Wedding Album, terceiro disco da dupla, que consta no lado A com a estranhíssima "John, Yoko", peça de 23 minutos onde um grita/geme o nome do outro enquanto mastigam. Mas o lado B tem uma peça de 25 minutos, "Amsterdam", que trata-se apenas de conversas em um passeio pela cidade holandesa, além de algumas passagens acústicas, e portanto, não trata-se realmente de um registro musical. Mas a estreia do casal sim, é o suprassumo do que podemos definir de Avant-Garde Music. Composto apenas pela faixa-título, a qual é dividida em 10 partes, e com uma breve participação de Pete Shotton fazendo os tradicionais tape loops (ficar repetindo uma gravação em uma fita), nos pouco mais de trinta minutos do LP temos assovios, gravações, barulhos diversos, notas e acordes soltos e irritantes de piano e baixo, gemidos de Lennon e muitos vagidos, choros e gritos histéricos de Yoko, em uma insanidade brutal. A EMI, gravadora dos The Bealtes na época, recusou-se a lançar o disco, considerando-o anticomercial e sem fundamento. Unfinished Music n° 1: Two Virgins saiu por gravadoras independentes, e hoje é considerado uma peça de colecionador, principalmente em sua versão original, com a polêmica capa do casal nú, sendo um disco muito complicado de se ouvir, assim como seus sucessores, mas que com o passar do tempo, ganha seu sabor. Outro detalhe é que o álbum foi gravado em uma única tomada, durante a madrugada do dia 19 de maio de 1968. Na época, John Lennon estava casado com Cynthia Lennon, que naquele dia estava de férias na Grécia. Cynthia acabou voltando antes, e pegou o casal dormindo junto após as gravações. Foi o estopim para a separação, e o início de um dos casamentos mais famosos do rock.
John Lennon (vocais, piano, órgão, percussão, efeitos, loops), Yoko Ono (vocais, loops)
Participação especial
Pete Shotton (loops)
1. Two Virgins
Considero esse o melhor álbum dos aqui apresentados, sendo que inclusive já escrevi sobre ele aqui. O grupo Cromagnon foi uma experiência magnífica da dupla Austin Grasmere e Brian Elliot, que acompanhados por uma banda de apoio e por pessoas que foram "raptadas" pela dupla enquanto passavam na frente do estúdio de gravação, pariu um dos discos mais raros da história. São oito faixas regadas de distorções, barulhos, gritos e efeitos em geral que arrepiam e muito, com destaque fica para a estripação gratuita de "Ritaul Feast of the Libido", a insanidade de "Fantasia" e os dez minutos alucinantes minutos de "Toth, Scribe I", a qual é a mais perfeita canção do álbum, com seu início totalmente progressivo nos acordes de sintetizador e explosões, percorrida então por uma trilha sonora angustiante, com as explosões e o sintetizador explodindo os miolos do ouvinte. Há alguns momentos de racionalidade no disco, mas esses não devem atingir um minuto de duração se somados. O resto, é experimentação em seu estado bruto. Orgasm chegou a ser apresentado na íntegra, tendo no centro do palco um gigantesco útero com a banda em seu interior. Pelo palco, pessoas semi-nuas passeavam sob luzes estroboscópicas, enquanto a sonoridade fervilhava, e o ponto de êxtase da apresentação ficava para a explosão do útero com um lança-chamas, ainda em "Caledonia", permitindo que a banda saísse para executar o resto do álbum, com todos os "instrumentos" que pudessem obter naquele dia. Orgasm saiu pelo famoso selo EPS, responsável por muitos lançamentos ousados, e aos poucos, vem sendo descoberto nas mais profundas estantes de especialidades em obscuridades, e sinceramente, é só para os fortes.
Austin Grasmere (vocais), Brian Elliot (vocais), Peter Bennett (baixo), Jimmy Bennett (guitarra), Vinnie Howley (guitarra), Sal Salgado (percussão), Mark Payuk (vocais), Gary Leslie (vocais)
1. Caledonia
2. Ritual Feast of the Libido
3. Organic Sundown
4. Fantasia
5. Crow Of The Black Tree
6. Genitalia
7. Toth, Scribe I
8. First World Of Bronze
Damião Experiência - Planeta Lamma [1974]
Não podia deixar de jeito maneira essa obra-prima da Avant-Garde brasileira de fora. A estreia de Damião Experiência é uma obra conceitual, que trata do Planeta Lamma, o destino final de todo ser humano, localizados obviamente sete palmos debaixo do chão. É uma experiência sonora única. Ou você se contamina com a insanidade, ou acaba descobrindo que sempre pode ter algo pior do que você considerava a pior coisa que você já ouviu. Entre grunhidos, vagidos e gritos alucinantes e doentios de Damião, cantando em Lammês (?!), a língua do Planeta Lamma, acompanhado por uma gaitinha de boca sem vergonha e um violão de apenas uma única corda, desafinada ainda por cima, além de um chocalho que foi amarrado ao violão, o registro foi feito em uma gravação de fita k7, e depois virou um raríssimo LP prensando, embalado e vendido pelo próprio Experiência, que ainda era responsável pelo layout da capa, gerando seguidores como os Novos Baianos, que consideraram Damião um dos maiores gênios da música nacional, mas por outro lado, conquistou uma legião de detratores, que amaldiçoam o disco - e a carreira do artista - sem se quer ter se dado o trabalho de ouvir, e quando ouvem, acabam concluindo que aquilo que imaginavam é ainda pior. Entre tapas e beijos, há vários destaques entre as 13 e nada convencionais canções do álbum, como o ritmo dançante de "Planeta Bicho", a alucinação da faixa-título, a doentia "Linguagem do Planeta Lamma Música do Planeta Lamma", "Linguagem do Povo do Infinito ao Universo de Rose 1999" e principalmente a paulada "Minha Dor", e material descartável, como "Que Dor Eu Sinto", ou a insanidade dos gritos de "A Vida É Sempre Assim", sendo inegável que as primeiras audições são um choque e tanto. Um álbum para ser ouvido sem pré-conceitos, e que seus ouvidos e coração deem o veredicto final. E também aconselho a buscar a obra de Experiência, pois existem muitas pérolas escondidas nos mais de trinta discos que ele já gravou.
Damião Experiência (voz, grunhidos, violão e gaita de boca)
1. 1308 Registrou Gravou Rose Olíria Experiença
2. Que Dor Eu Sinto
3. A Vida é Sempre Assim
4. Linguagem do Povo do Infinito ao Universo de Rose 1999
5. Loucura total 1999 a Damião Experiença
6. Amente Astrologica 1999
7. Planeta Lamma
8. Minha Dor
9. Som Planeta Lamma
10. Planeta Bicho
11. Mundo no Espaço
12. Meu Passado? Meu Presente
13. Linguagem do Planeta Lamma música do Planeta Lamma
Damião Experiência - Planeta Lamma [1974]
Não podia deixar de jeito maneira essa obra-prima da Avant-Garde brasileira de fora. A estreia de Damião Experiência é uma obra conceitual, que trata do Planeta Lamma, o destino final de todo ser humano, localizados obviamente sete palmos debaixo do chão. É uma experiência sonora única. Ou você se contamina com a insanidade, ou acaba descobrindo que sempre pode ter algo pior do que você considerava a pior coisa que você já ouviu. Entre grunhidos, vagidos e gritos alucinantes e doentios de Damião, cantando em Lammês (?!), a língua do Planeta Lamma, acompanhado por uma gaitinha de boca sem vergonha e um violão de apenas uma única corda, desafinada ainda por cima, além de um chocalho que foi amarrado ao violão, o registro foi feito em uma gravação de fita k7, e depois virou um raríssimo LP prensando, embalado e vendido pelo próprio Experiência, que ainda era responsável pelo layout da capa, gerando seguidores como os Novos Baianos, que consideraram Damião um dos maiores gênios da música nacional, mas por outro lado, conquistou uma legião de detratores, que amaldiçoam o disco - e a carreira do artista - sem se quer ter se dado o trabalho de ouvir, e quando ouvem, acabam concluindo que aquilo que imaginavam é ainda pior. Entre tapas e beijos, há vários destaques entre as 13 e nada convencionais canções do álbum, como o ritmo dançante de "Planeta Bicho", a alucinação da faixa-título, a doentia "Linguagem do Planeta Lamma Música do Planeta Lamma", "Linguagem do Povo do Infinito ao Universo de Rose 1999" e principalmente a paulada "Minha Dor", e material descartável, como "Que Dor Eu Sinto", ou a insanidade dos gritos de "A Vida É Sempre Assim", sendo inegável que as primeiras audições são um choque e tanto. Um álbum para ser ouvido sem pré-conceitos, e que seus ouvidos e coração deem o veredicto final. E também aconselho a buscar a obra de Experiência, pois existem muitas pérolas escondidas nos mais de trinta discos que ele já gravou.
Damião Experiência (voz, grunhidos, violão e gaita de boca)
1. 1308 Registrou Gravou Rose Olíria Experiença
2. Que Dor Eu Sinto
3. A Vida é Sempre Assim
4. Linguagem do Povo do Infinito ao Universo de Rose 1999
5. Loucura total 1999 a Damião Experiença
6. Amente Astrologica 1999
7. Planeta Lamma
8. Minha Dor
9. Som Planeta Lamma
10. Planeta Bicho
11. Mundo no Espaço
12. Meu Passado? Meu Presente
13. Linguagem do Planeta Lamma música do Planeta Lamma
O quinto álbum solo de Lou Reed é considerado por muitos como o pior disco da história. Depois de três álbuns muito bons (Lou Reed, Transformer e Berlin) e do aclamado Sally Can't Dance, Reed brigou com a sua gravadora, a RCA, e então decidiu gravar em sua casa as microfonias de duas guitarras, tocadas com diferentes tipos de distorção pelos próprios amplificadores, para lançar por conta das obrigações contratuais com a RCA. Sim, isso mesmo, nenhum ser humano toca nas guitarras. O que temos é o registro das guitarras no centro de grandes amplificadores, os quais, ligados em um volume considerável, fizeram as cordas vibrarem. Com os instrumentos afinados em afinações distintas, o efeito gerado é incrível e inovador, e Reed só se deu o trabalho de gravar as microfonias e depois, mixá-las. Mas não foi isso que fãs e mídia pensaram. As quatro longas faixas, em torno de 16 minutos cada uma, ocupam cada lado de um vinil duplo, renegado e linchado até mesmo pelo mais ardoroso seguidor da antiga banda de Reed, o Velvet Underground, que também tem seus momentos Avant-Garde. O que ficou para a história é um álbum de revolta, ou de deboche, mas esquizofrênicos e pirados em geral ouviram as microfonias com ouvidos calorosos, e acabaram divulgando o álbum para outras gerações, que influenciados pelo disco, o qual na contra-capa traz destaque para os amplificadores Sunn, acabou influenciando a geração de um novo estilo, o Drone, e não por acaso, o nome de uma das principais bandas desse novo estilo, Sunn O))). Metal Machine Music tem vário fatos curiosos, como o de vendido mais de 100 mil cópias, pois ao que parece, as pessoas não acreditavam nos comentários da imprensa, de que o disco fosse tão ruim, mas o mais interessante está na capa, a qual fazia ênfase que no álbum não havia sintetizadores, teclados, e o mais curioso de tudo, música!! Esse realmente é para poucos, e detalhe, sugiro pegar a versão em CD, pois assim, não haverá distinção de uma faixa para outra!
Lou Reed (guitarras, distorções, efeitos)
1. Metal Machine Music Part 1
2. Metal Machine Music Part 2
3. Metal Machine Music Part 3
4. Metal Machine Music Part 4
Lou Reed (guitarras, distorções, efeitos)
1. Metal Machine Music Part 1
2. Metal Machine Music Part 2
3. Metal Machine Music Part 3
4. Metal Machine Music Part 4
Zappa sempre foi um apreciador e divulgador da Avant-Garde Music. Vários discos seus trazem o estilo em voga, como Lumpy Gravy (1967), Weasels Ripped My Flesh (1971), Orchestral Favorites (1979) ou Francesco Zappa (1984), sendo que o último por algum tempo foi o principal nome para entrar nessa lista. Porém, decidi trazer um material construído pelo próprio Zappa. O lado A de Studio Tan o responsável pelo LP estar aqui. Afinal, "Greggery Peccary" é uma maluca história sobre o pequeno javali genial que inventa um calendário revolucionário, acaba trazendo caos ao mundo, e que exigiu a Zappa a contratação de mais de músicos para poder concluí-la, já que ela começou a ser gravada em 1972, mas só foi finalizada em 1974. Entre um humor sarcástico e comentários políticos muito ácidos, Zappa mistura música clássica, barulhos, cacofonia e efeitos enquanto narra a história com profundidade e certo exagero, parecendo mais uma trilha sonora de um desenho animado cujo tema central é a suspense. Há seus momentos de "racionalidade", com algumas melodias soltas nos mais de vinte minutos da faixa, mas a sensação geral é de uma maluquice total. As experimentações Avant-garde continuam no lado B, em diversas passagens desconcertantes na belíssima "Revised Music for Guitar & Low Budget Orchestra", com deliciosas misturas de orquestra, percussão e guitarras, mas há canções bastante ortodoxas, como o rock animado de "Let Me Take You to the Beach" e a comovente faixa de encerramento "REDUNZL", fácil um dos Top 10 dos melhores solos de Zappa, mas que também possui seus momentos de experimentalismo. Se você deseja entrar nesse mundo, dos cinco aqui citados comece SEM DÚVIDAS por esse.
Frank Zappa (guitarra, vocais, percussão), George Duke (teclados), John Berkman (piano), Tom Fowler (baixo), James "Bird Legs" Youmans (baixo), Edward Meares (baixo), Terry Bozzio (bateria), Paul Humphrey (bateria), Davey Moire (vocais), Eddie Jobson (teclados), Max Bennett (baixo), Don Brewer (bongo), , Ruth Underwood (percussão, sintetizadores), Pamela Goldsmith (viola), Murray Adler (violino), Sheldon Sanov (violino), Jerry Kessler (violoncelo), Bruce Fowler (trombone), Don Waldrop (trombone), Jock Ellis (trombone), Dana Hughes (trombone), Earle Dumler (oboé), JoAnn Caldwell McNab (baixo), Mike Altschul (flauta), Ray Reed (flauta), Graham Young (trompete), Jay Daversa (trompete), Malcolm McNab (trompete), Victor Morosco (saxofone), John Rotella (instrumentos de sopro), Alan Estes (percussão), Emil Richards (percussão)
1. Greggery Peccary
2. Let Me Take You to the Beach
3. Revised Music for Guitar & Low-Budget Orchestra
4. REDUNZL
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