terça-feira, 4 de julho de 2023

FADOS do FADO...letras de fados...

 



A chave esquecida

António José / Manuel Viegas
Repertório de Ada de Castro 

Quantas vezes já de madrugada
E cansada das horas contar
Eu ouvia os teus passos na escada
Logo corria pra te abraçar

Meus tormentos calavas com beijos
Nesse tempo ainda era tua
Mas agora tens mais uma chave
De outra porta que há na mesma rua

A minha chave que tens esquecida num bolso qualquer
Vai deitar fora, que entre as outras chaves só faz confusão
É muito fácil mudar de novo a fechadura
Nem a chave que tens abre a porta do meu coração

Eu não quero perder o costume
De morar onde sempre morei
E fingir que não tive ciúme
Nas poucas vezes que os encontrei

E sorri ao ver-te embaraçado
Com surpresa também vi depois
O remorso a bailar nos teus olhos
Por vingança sorri para os dois

A chegada dos navios

Ary dos Santos / Martinho d’Assunção
Repertório de Maria da Fé

Chegam heróis e jovens de mãos dadas
Chegam rapazes loiros como o estio
E partem as palavras censuradas
No penacho de fumo do navio

Chegam esperanças, medos e ciladas
Em que a aventura nos embosca o cio
E partem as angústias exiladas
No penacho de fumo do navio

Ao ritmo dos guindastes, estremecemos
Portos abertos ao que nos deslumbra
Somos apenas o que não sabemos
Barcos de sol rumados à penumbra

Piratas d'abordagem que trazemos
A latejar nas veias, que se cumpra
A palavra que nós nunca dissemos
Rosa de sangue a rebentar de sombra

A cidade

Ary dos Santos / Nuno Nazareth Fernandes
Repertório de Maria Armanda

Em Lisboa, não morro mas espero
O Tejo, a água, a ponte, e o rossio
Em Lisboa, não morro mas espero
Um pouco menos Tejo e menos frio

Em Lisboa, vendendo a minha fruta
De azeite e mel e ódio de saudade
É dentro de mim próprio que eu tropeço
Num degrau de ternura da cidade

Em Lisboa, gaivota que navega
No Terreiro do Paço, por acaso
Encontro a dimensão da minha entrega
No aterro onde me encontro a curto prazo

Limoeiro limão do mar da Palha
Palha pobre de tédio, rio surpresa
Desta Lisboa de água que não falha
Quando do céu azul sobra tristeza

Lisboa meu amor, minha aventura
Em cada beco só uma saída
Alfama meu mirante de lonjura
Má fama que a nós todos dá guarida

Mas nesta angústia que eu canto
Lisboa não vem ao caso



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