Michael Quatro nasceu em sua terra natal, Michigan, em um matriarcado cheio de irmãs. Mas enquanto elas, Patti, Suzy e Nancy preferiam rock'n'roll/soul, ele optou pelo clássico. Onde adquiriu formação acadêmica e ingressou na Orquestra Sinfônica de Detroit, como proeminente pianista.
Por outro lado, suas irmãs travessas estragaram tudo com The Pleasure Seekers, depois Cradle. Então Patti entrará na valiosa Fanny. Assim como Suzy terá sucesso no emergente glam rock britânico de meados dos anos 70.
Em 1972 estreou-se a Mike Quatro Jam Band, em pleno êxtase progressivo teresiano. Mike envolve-se com os hulks do momento, como um pioneiro dos chamados "magos do teclado". Terry Mullen é o baterista. Vocal principal de John Finley. Pat e Nancy Quatro nos backing vocals. Imagino a conexão foda, já que eles foram a banda de abertura de Bob Seger e Ted Nugent. Assim, o Detroit Tiger intervém de forma surrealista ao longo deste álbum sympho-prog com denominação de origem.
Temos uma entrada hiper-prog com "Paintings" (8'00) e todo o seu arsenal a arder. O próprio Rick Wakeman admitiu que Mike Quatro o influenciou por suas "Seis Esposas". É dito. Certamente este corte tem aquela linha sinfônica barroca que logo estaria na moda. O clássico em mistura natural com rock de teclado de vanguarda. Essa foi a base de muitas outras descobertas posteriores. Mellotron imperator e Mini-Moogs como guarda pretoriano.
É assim que se serve “Time Spent in Dreams” (4'39), com romantismo europeu digno de Faithful Breath (nos seus primórdios), Novalis, SFF ou o próprio Vangelis.
As duas seguintes são compostas com sua irmã Suzy Quatro. E claro, algo muda. A alma negróide da Motown entra em ação em “Circus” (3'55), sem que os teclados percam destaque. O motor principal será a percussão diabólica e um estilo entre Sly and the Family Stone e Keith Emerson. "Cada dia eu quero mais você" (3'25) retorna ao lado romântico próximo ao prog italiano por seu tratamento vocal rasgado. John Finley brilha no microfone.
De regresso ao rock-soul com "Life" (3'22), numa vibe tipo Billy Preston / Buddy Miles. Enquanto um pacote de teclados ilumina a folia e um contido Nugent acompanha...... até que seu inconfundível feedback matador sobre os Amboy Dukes define sua assinatura.
Em "Rachmaninoff's Prelude" (6'45) imagino um animado Wakeman dizendo... "Isso, isso é o que eu quero fazer!". A pompa progressiva e o esplendor são aqui aquecidos em seu molho picante. Os fãs do ELP ficarão entusiasmados.
Mudança abrupta de direção para "Detroit City Blues" (3'00) com um piano Emersonian barrelhouse cheio de ragtime-boogie, e algumas intenções tímidas de Nugent. O final é grande com uma versão apocalíptica de "In the Court of the Crimson King" (5'26), agora cantada pelo próprio Mike. Mellotronic e majestoso como a ocasião exige. Um daqueles momentos bizarros da história do rock, com Ted Nugent envolvido entre a fiação modular Moog e os mellotronismos saturados de música clássica. Delirante. Sua guitarra adiciona efeitos psicodélicos que contribuem e preenchem uma crítica muito completa e respeitada. Com um acabamento fuzz do tio Ted.
Ambos "Look Deeply into the Mirror" (1973) e "In Collaboration with the Gods" (1975), continuaram nesta linha magnífica. Para "Dancers, Romancers, Dreamers & Schemers" (1976), Michael Quatro (agora com esse nome) vai se desviar para o Pomp rock, (com David Surkamp do Pavlov's Dog como convidado). Um excelente tecladista esquecido demais. Com uma série de álbuns verdadeiramente realizados que valem a pena a sua pesquisa. Ele lançou bases inegáveis para o desenvolvimento do synth-rock.
Sem comentários:
Enviar um comentário