Caetano Veloso - Cê 2006

Ao longo da sua longa carreira, que se estende por cinco décadas, Caetano Veloso conseguiu manter uma consistência notável, ano após ano compondo músicas belas, inventivas e, muitas vezes, simplesmente engenhosas. Seu álbum anterior,  A Foreign Sound , onde Caetano interpretou clássicos da cena musical popular americana, foi muito aplaudido no exterior e principalmente nos EUA, mas os ouvintes brasileiros ficaram bem menos impressionados. E verdade seja dita, pelos altos padrões de Caetano e com exceção de algumas músicas, como a versão reggae-rap de  "It's Alright Ma", de  Bob Dylan , A Foreign Sound faltou muito da inspiração habitual de Caetano. Cê, embora muito mais leve e despretensioso, sofre da mesma falta de inspiração lúcida que sempre foi marca registrada de Caetano. Não é de forma alguma um álbum ruim, mas depois de ter sido mimado por tanto tempo com a marca única de magia e brilho musical de Caetano, Cê simplesmente não entusiasma. Para a gravação, Caetano se juntou a um trio de jovens músicos, formando assim uma banda de rock tradicional contando com guitarra elétrica, baixo, bateria e teclados ocasionais. O som é afinado e ainda ajudado pela excelente produção do filho de Caetano,  Moreno  e  Pedro Sá. A música vai do punk-pop leve e despreocupado de faixas como "Outro" e "Odeio" até as descontraídas e sentimentais "Não Me Arrependo" e "Minhas Lágrimas". "Musa Híbrida" é uma interessante mistura de samba e rock, com um toque de funk dos anos 70. Em "Não Me Arrependo", Caetano usa influências de  Lou Reed  e  Peninha , e é talvez a música mais melodicamente impressionante do álbum. Em "O Herói", Caetano, com voz falante, recita a letra em um groove rock esparso e levemente inspirado no hip-hop. A suave e doce “Um Sonho” é outro destaque. Cê é um álbum agradável, bem elaborado e executado com elegância, mas ao mesmo tempo muito longe do melhor de Caetano.

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