Laura Marling continua a fazer das suas e nós continuamos a deleitar-nos com as canções irrepreensíveis que nos atira.
Há cinco anos, aqui no Altamont, Tiago Freire escrevia “Começam a faltar palavras para qualificar Laura Marling.”, na sua crónica sobre Short Movie (2015). Antes disso, há sete anos, o mesmo escriba, nas palavras dedicadas a Once I Was an Eagle (2013) cataloga o disco como “uma obra verdadeiramente madura de uma artista que, suspeito, andará por cá durante muitos e muitos anos.” Pois bem caro Freire de 2013 e de 2015, aqui estamos em 2020, para te dar toda a razão.
Song for Our Daughter é o sétimo disco de Marling, o que é impressionante para quem só tem 30 anos. Sempre demonstrou maturidade bem acima da média, rapariga decidida e confiante, o que a levou inclusive a mudar radicalmente de poiso em 2013, deixando para trás as terras de Sua Majestade e indo atrás do ouro californiano. Foi sol de pouca dura, em 2015 voltou a viver debaixo dos céus cinzentos londrinos, e por lá está desde então. Será esse cinzento que a ajuda na melancolia que carrega e nos transmite em “The End of the Affair” e “Fortune”?
Esta “canção para a sua filha” é em tudo ficcionada, já que Marling ainda não é mãe, mas inspirou-se no livro de Maya Angelou (“Letter to Our Daughter”) para deixar, desde já, essa herança. A literatura foi sempre uma das suas grandes fontes de inspiração, conta-nos Marling, que por vezes vai até livrarias, compra um livro e por lá fica a lê-lo, com uma caneca de café como única companhia. “The End of the Affair” é também o nome de um livro de Graham Greene e já em álbuns anteriores foram incorporadas várias referências literárias nas suas canções.
As comparações de Marling com pesos pesados da história da Música proliferam, sendo talvez o nome de Joni Mitchell o mais consensual. Mas há quem se atira ainda mais para fora de pé e queira fugir à fácil comparação dentro do mesmo sexo (não faz sentido a separação) e assim juntá-la a nomes como Nick Drake ou, se quisermos ir aos mais recentes, Bonnie Prince Billy ou um Callahan. Será exagero? Só o teste do tempo o dirá. Para já está a ser um prazer total deixar Marling passear-se pelos nossos ouvidos.
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