A banda foi formada em 1964, na cidade de Detroit, no estado do Michigan, Estados Unidos, a mesma cidade onde três anos depois surgiria outra banda explosiva, The Stooges, liderada pelo vocalista e “dublê” de contorcionista Iggy Pop. O grupo contava na sua primeira formação com Rob Tyner (vocais), Fred "Sonic" Smith (guitarra), Wayne Kramer (guitarra), Pat Burrows (baixo) e Bob Gaspar (bateria). No início, a banda era chamada de Motor City Five, por causa da fama da indústria automobilística da cidade natal, mas logo o nome foi abreviado para MC5.
Em 1965, o quinteto passa a explorar uma sonoridade mais pesada, suja e agressiva, o que motivou a saída de Pat Burrows e Bob Gaspar. No lugar deles, entraram o baixista Michael Davis e o baterista Dennis Thompson. Com a nova formação, o quinteto tornou-se a grande sensação no circuito de clubes de Detroit e arredores. O Grande Ballroom, em Detroit, era a principal casa de shows onde o MC5 se apresentava, sempre com apresentações arrebatadoras, tocando num volume ensurdecedor e arrastando uma legião de fãs. Além de tocarem de maneira agressiva e veloz, os integrantes do grupo se apresentavam bêbados ou “chapados”.
As apresentações acachapantes do MC5 chamaram a atenção do poeta e ativista John Sinclair, fundador e líder do grupo político de esquerda White Panthers (Panteras Brancas), de Detroit, que ao contrário do que se possa imaginar, nada tinha a ver com ideais de supremacia branca tão comuns nos Estados Unidos. Não só não tinha a ver como o grupo de militantes apoiava a causa dos Black Panthers (Panteras Negras) na luta pelos direitos civis dos negros. Os White Panthers defendiam o fim do capitalismo, a liberdade sexual e a liberação das drogas, principalmente a maconha. Sinclair se interessou no MC5 e se propôs a agenciar a carreira na banda. Além do talento, Sinclair parecia acreditar que a rebeldia e a popularidade da banda em Detroit seriam úteis para difundir a ideologia dos White Panthers. E não demorou muito para o MC5 se engajar na filosofia propagada por Sinclair e seus militantes.
Em 1966, o MC5 lança o seu primeiro single, “I Can Only Give You Everything”, e no ano seguinte, o segundo, “One Of The Guys”. O MC5 se mostrava cada vez mais envolvido no engajamento político dos White Panthers, tocando nas convenções promovidas pelos militantes e também nos protestos contra a Guerra do Vietnã como o que ocorreu em Chicago, em 1968, que reuniu milhares de hippies.
Ainda em 1968, após uma apresentação no Yippies’ Festival Of Life, em Chicago, o MC5 foi sondado por um representante da gravadora Elektra Records. Em pouco tempo, a banda de Detroit estava assinando contrato com aquela gravadora. Nos dias 30 e 31 de outubro do mesmo ano, o MC5 se apresentou no Grande Ballroom, em Detroit. As apresentações foram gravadas para o primeiro álbum da banda.
John Sinclair, em 1969: líder dos White Panthers e empresário do MC5. |
Somente em fevereiro de 1969, chegou às lojas Kick Out The Jams. Álbum de estreia do MC5, gravado ao vivo no Grande Ballroom, Kick Out The Jams captou muito bem a energia avassaladora do quinteto cuspida no palco como poucas bandas de rock daquela época faziam.
O álbum começa com um discurso exaltado de John Sinclair, líder dos White Panthers e empresário do MC5. Em seguida, a banda ataca com a primeira música, “Ramblin’ Rose”, um rock forte e vigoroso, um som caótico, cantado pelo guitarrista Wayne Kramer. Uma frase polêmica e que virou grito de guerra do MC5, “Kick Out The Jams, Your Motherfuckers!”(Algo como “Vamos detonar, filhos da puta!”), é a senha para dar início à porrada sonora “Kick Out The Jams”, faixa que dá nome ao álbum, na qual o vocalista Rob Tyner parece vomitar tudo que sente nas entranhas. Sexo é um tema constante nas músicas do MC5, como em “Come Together”, onde Tyner canta a plenos pulmões “Nipples stiffen mama / Let me give tongue to it yes…”(“Mamilos endurecem mama / Deixe-me dar língua para ele sim...”). A pesada e veloz “Rocket Reducer Nº 62 (Rama Lama Fa Fa Fa)” encerra o lado A do álbum com louvor.
Quem poderia imaginar que em meio àquela massa sonora ensurdecedora do MC5, era possível falar de amor? Em “Boderline”, faixa que abre o lado B, foi possível falar de amor sob uma base sonora caótica “I'm at my borderline / Love you girl, but I just don't know why / I, have to love you so.” (“Estou no meu limite / Te amo garota, mas eu não sei por que / Tenho que te amar tanto.”).
A faixa seguinte, “Motor City Is Burning”, havia sido gravado primeiramente pelo bluesman John Lee Hooker, em 1967, para o seu álbum Urban Blues. “Motor City Is Burning” diz muito a respeito da cidade natal do MC5. A música fala sobre um confronto monumental entre a polícia e a comunidade negra de Detroit, cujo estopim foi a prisão de 82 negros num bar que funcionava ilegalmente. O confronto ganhou grandes proporções que chegou a envolver a Guarda Nacional e até tanques do Exército. Com o MC5, “Motor City Is Burning” virou um blues rock. Nem precisa pensar muito pra saber de que lado daquele confronto o MC5 ficou.
Conflito racial ocorrido em Detroit, em 1967, e que virou tema abordado na letra da música “Motor City Is Burning”. |
“I Want You Right Now” tem andamento lento, mas é pesada e traz guitarras distorcidas ao extremo e um canto rasgado e ensandecido de Rob Tyner, que em alguns momentos parece estar sendo espancado.
A longa e lisérgica “Starship” fecha o álbum. Conta sobre o desejo da banda em viajar numa nave espacial e percorrer o espaço sideral. Da metade para o fim da música, é puro experimentalismo psicodélico. Os músicos criam toda uma atmosfera psicodélica através dos ruídos de guitarra e bateria, levando o público a “viajar” naquela loucura sonora de pouco mais de 8 minutos.
Grande Ballroom, casa de shows onde o MC5 gravou ao vivo o álbum Kick Out The Jams, em 1969. |
Kick Out The Jams comercialmente não foi lá grande coisa. Conquistou um modesto 30º lugar na Billboard 200, nos Estados Unidos. O single da faixa-título alcançou o 82º Billboard Hot 100.
Logo após o lançamento de Kick Out The Jams, o MC5 se meteu em várias confusões, e muito por conta da sua postura radical e agressiva. O seu famoso bordão “Kick Out The Jams, Your Motherfuckers!” havia se tornado um incômodo para setores mais conservadores. Até a própria gravadora, a Elektra Records, ficou chocada com a frase e tentou convencer a banda a trocar o bordão por outro: “Kick Out The Jams, Brothers and Sisters!” (“Vamos detonar, irmãos e irmãs!”).
Anúncio do MC5 publicado numa revista alternativa contra as lojas Hudson's. |
Algumas lojas chegaram a boicotar o álbum do MC5, dentre elas a loja de departamentos Hudson’s. Respondendo ao boicote da Hudson’s, o MC5 publicou um anúncio de página inteira numa revista alternativa, onde incentivava os fã chutarem a porta da loja que não vendesse o álbum da banda. O anúncio finalizava com uma frase que pôs mais lenha na fogueira: “Fuck Hudson’s!”. O fato de o anúncio trazer a logo da Elektra Records, foi interpretado pelo Hudsons’s como se a gravadora estivesse conivente com aquela propaganda desaforada. A rede de lojas decidiu tomar uma atitude radical: não só manteve o boicote ao álbum do MC5, mas também aos discos de todos os artistas da gravadora Elektra. Atitude do MC5 revoltou os executivos da Elektra que não havia autorizado o uso de sua marca no tal anúncio polêmico. Por causa do prejuízo e da imagem arranhada perante a opinião pública provocada pelo anúncio do MC5, a Elektra reincidiu o contrato com quinteto de Detroit.
Para completar o “pacote de problemas” do MC5, ainda em 1969, o empresário da banda e líder dos White Panthers, John Sinclair, foi preso por ter oferecido dois cigarros de maconha a um policial disfarçado. Certamente, Sinclair já estaria na mira das autoridades norte-americanas por causa do seu ativismo em defesa da liberação da maconha. Sinclair foi jugado e condenado a dez anos de prisão. A condenação de Sinclair gerou protestos, e o ativista recebeu apoio de astros da música como John Lennon e Stevie Wonder pedindo a liberdade do agora ex-empresário do MC5. Em 1971, John Sinclair foi libertado.
Quanto ao MC5, a banda seguiu sem Sinclair, assinou um contrato com a gravadora Atlantic Records em 1970, por onde lançou dois álbuns, Back In The USA(1970) e High Time(1971), ambos álbuns de estúdio. Em 1972, o MC5 encerrou as suas atividades. Rob Tyner faleceu em 1991, vítima de ataque cardíaco, aos 46 anos. Pelo mesmo motivo, morreu três anos depois Fred “Sonic” Smith, aos 45 anos, que era casado com a cantora e poetisa Patti Smith.
Mesmo com toda a polêmica e confusões que provocou, o álbum Kick Out The Jams deixou um legado inquestionável. Ao longo do tempo, tornou-se uma obra relevante para a história do rock, por ter pavimentado caminho para as vertentes roqueiras que vieram eram depois do seu lançamento e que primavam pelo som agressivo e sujo, como o punk rock e o grunge rock. Não à toa, a crítica, numa atitude revisionista da história do rock, passou a classificar anos mais tarde o som do MC5 e de bandas semelhantes de sua geração como Stooges, de proto-punk, ou seja, seriam os precursores do punk rock.
Faixas
Lado A
- “Ramblin' Rose” (Fred Burch - Marijohn Wilkin)
- “Kick Out the Jams”
- “Come Together”
- “Rocket Reducer No. 62 (Rama Lama Fa Fa Fa)”
Lado B
- “Borderline”
- “Motor City Is Burning” (Al Smith)
- “I Want You Right Now” (Colin Frechter - Larry Page)
- “Starship” (MC5 - Sun Ra)
Todas as faixas são de autoria do MC5, exceto as indicadas.
MC5: Rob Tyner ( vocais), Wayne Kramer (guitarra solo, vocal de apoio e vocal principal em “Ramblin' Rose”), Fred "Sonic" Smith (guitarra base e vocais de apoio), Michael Davis (baixo) e Dennis Thompson (bateria).
“Ramblin' Rose”
"Kick Out The Jams"
"Kick Out The Jams"
"Come Together"
"Rocket Reducer No."
"Boderline"
"Mother City Is Burning"
"I Want You Right Now"
"Starship"
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