Ano: 2023
Selo: Domino
Gênero: Experimental, Pop Psicodélico
Para quem gosta de: Panda Bear e The Flaming Lips
Ouça: Magicians from Baltimore e Defeat
Com o avanço da pandemia de Covid-19, o tempo definitivamente foi bagunçado. Trabalhos inicialmente previstos para uma data específica tiveram de ser reagendados e a dinâmica dentro de estúdio precisou ser revista. Não por acaso, ao revelar o mais recente disco de inéditas da carreira, os membros do grupo norte-americano Animal Collective levantam a pergunta: “Não é agora?“. Originalmente concebido em meados de 2019, durante uma imersão em uma cabana em Leiper’s Fork, Tennessee, o registro teve de ser posto em espera até que os integrantes da banda pudessem mais uma vez se encontrar presencialmente.
E a julgar pelo repertório entregue em Isn’t It Now? (2023, Domino), isso faz bastante sentido. Diferente do material apresentado no antecessor Time Skiffs (2022), que foi concebido em paralelo, o registro de nove faixas substitui as marcações da obra revelada há poucos meses por um resultado essencialmente fluido. São canções montadas a partir de pequenos improvisos entre os quatro integrantes da banda, os músicos Avey Tare, Panda Bear, Geologist e Deakin. O resultado desse processo está na entrega de um álbum que segue em uma medida particular de tempo, por vezes arrastada, mas que encanta na mesma proporção.
Com quase 22 minutos de duração, Defeat sintetiza de forma bastante eficiente tudo aquilo que o grupo busca desenvolver ao longo da obra. Inaugurada em meio a ambientações sutis, a canção traz de volta a mesma abordagem contemplativa explícita em registros como Campfire Songs (2003) e Here Comes the Indian (2003), quando o quarteto decidiu mergulhar na entrega de faixas marcadas pelo uso de texturas e sobreposições. É somente no meio da composição, durante um curtíssimo intervalo de tempo, que esse direcionamento se altera, trazendo de volta o mesmo caráter festivo de Merriweather Post Pavilion (2009).
Essa mesma ausência de pressa acaba se refletindo em diversos outros momentos ao longo do material. É o caso de Magicians from Baltimore, canção que se espalha em um intervalo de mais de nove minutos, utiliza da lenta inserção dos elementos para capturar a atenção do ouvinte, porém, sustenta no encontro entre as guitarras e bateria sempre destacada uma fuga de qualquer traço de conforto. É como se cada instrumento pudesse ser apreciado com maior clareza, efeito direto da produção caprichada de Russell Elevado, artista conhecido pelo trabalho em colaboração com nomes importantes como Kamasi Washington e D’Angelo.
Claro que esse caráter imersivo e busca por composições cada vez mais extensas em nenhum momento interfere na construção de canções resolvidas em um intervalo de tempo bastante reduzido. Com pouco mais de três minutos, Gem & I não apenas funciona como uma eficiente representação desse resultado, como destaca a capacidade do quarteto em transitar por entre estilos, indo do pop litorâneo da década de 1960 à música caribenha. O mesmo pode ser percebido na curtinha All the Clubs Are Broken, criação que muda de direção a todo instante, destacando a riqueza de elementos e versatilidade do grupo em estúdio.
Pena que nem todas as canções do disco partilham do mesmo refinamento e força criativa do quarteto. Música de encerramento do álbum, King’s Walk talvez seja a principal representação desse resultado. São harmonias de vozes e texturas ocasionais que não levam a lugar algum, soando como um registro ainda incompleto. O mesmo pode ser percebido em Genie’s Open, canção que apresenta boas ideias, porém, se perde na extensa duração e uso desnecessário de pequenos acréscimos. Um exercício que oscila entre o experimentalismo e a confusão, como uma síntese clara de tudo aquilo que caracteriza o som da banda.
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