Não tem jeito: os principais nomes da soul music brasileira são Tim Maia, Jorge Ben e Wilson Simonal.
Nos anos 1970, alheios à panfletária música de protesto, Jovem Guarda e ‘nova MPB’, esses artistas deram impulsão a uma cena que se fortificou e até hoje se mantém como uma das mais referenciais, tanto no Brasil quanto no estrangeiro.
O pernambucano Di Melo bem que poderia ter encontrado um espaço no protagonismo dessa cena. Talvez por desinteresse da EMI-Odeon de fazer uma divulgação mais ampla, o disco homônimo de Di Melo reúne e aprimora as características essenciais de uma soul music de qualidade: tem swing, boas composições, arranjos finérrimos (graças à direção musical deMaestro José Briamonte e orquestrações de Maestro Geraldo Vespar) e, o melhor, identidade própria.
O álbum já começa com o groove escaldante de “Kilario”, que evoca à dança ao traçar os elementos da natureza. “A Vida em Seus Métodos Diz Calma” conta com as participações dos mestres Hermeto Pascoal e Heraldo do Monte em teclados e guitarras, levando o samba-rock para possibilidades musicais mais abertas. Aí, o som de Di Melo vai de encontro à música de Sly Stone com o humor de Jorge Ben.
Ainda que os elementos da soul music sejam muito bem explorados, Di Meloescapa de qualquer catalogação. O músico permite trabalhar tensão e psicodelia em “Aceito Tudo” e entrega composições com sérias chances de figurarem entre as melhores de toda a década de 1970: é o caso de “Conformópolis”, em que rotina, trabalho e luta formam a tríade que clama por mudança numa grande metrópole sentimental (‘Mecanicamente ela mostra ter fé/Na proximidade de um dia qualquer/E na liberdade ela toma um café’); e a igualmente tensa “Ma-Lida”, que conta a crônica de um ‘surrado’ que trabalha ‘como um condenado’ – personagem usual em um momento em que o Brasil ainda estava ‘sofrendo calado’ por conta da repressão da Ditadura.
As duas canções supracitadas exploravam o tango e o lamento da chacona, mas não eram exceções estéticas do disco. “Sementes” também resgatava um tanto desses elementos, com a pontuação do baixo instigando a cadência. “Pernalonga” faz uso do samba como ponto de partida e o lindo arranjo de cordas de “Minha Estrela” ponderava entre a balada e a música de pista.
Dialogando com o que Gilberto Gil fez no mesmo ano com Refazenda, “Alma Gêmea” narra a trajetória de um ‘fantasma errante’ que, com o passar dos anos, teria forte assimilação com a carreira de Di Melo.
Depois de gravar o disco, o músico voltou para Pernambucano e acabou ‘sumindo’ em suas perambulações. Pouco tempo depois, ele sofreu um grave acidente de moto. Muitas pessoas acharam que ele tinha morrido, algo que não aconteceu. A partir de então, Di Melo assumiu a alcunha de ‘imorrível’, permanece cultuado em alguns locais da Europa, teve breve aparição num clipe do Black Eyed Peas e, atualmente, está para lançar um novo disco com novas participações ilustres – inclusive, a de Emicida. Ah, e em breve deve sair um filme sobre a sua carreira.
Faixas do álbum:
1. Kilariô
2. A Vida Em Seus Metodos Diz Calma
3. Aceito Tudo
4. Conformópolis
5. Ma Lida
6. Sementes
7. Pernalonga
8. Minha Estrela
9. Se a Mundo Acabasse Em Mel
10. Alma Gêmea
11. João
12. Indecisão
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