terça-feira, 24 de outubro de 2023

NUNO CÔRTE-REAL LANÇA DISCO COM A ORQUESTRA SINFÓNICA DE MILÃO

 

Nuno Côrte-Real lança disco com a Orquestra Sinfónica de Milão. Rock Symphonies” é uma coleção de cinco obras sinfónicas, “Rock (tribute to Ligeti)”, “Concerto Vedras”, “Sinfonia Noa Noa”, “Todo o Teatro é um muro branco de música” e “Abertura Secondo Novecento”, escritas entre 2001 e 2018, de diferentes carácteres e durações.

O termo Symphonies é aqui usado não no sentido de Sinfonia como forma musical, mas no seu sentido grego, primordial, de sons soando ao mesmo tempo, remetendo para a sonoridade orquestral. Mais inusitado é o termo Rock, que para além de ser o título da primeira obra aqui apresentada, remete para o universo mais popular do rock and roll, onde a emoção, e não o estilo, se impõe de modo selvagem.

Sobre a peça “Rock (tribute to Ligeti)”, foi composta em 2003, no início da sua carreira, num período em que Côrte-Real procurava libertar-se do estilo académico e da estética «obrigatória» imposta pelas instituições musicais. Nesta, como noutras peças do mesmo período, o compositor procura a sua própria linguagem recuperando alguns elementos da antiga sintaxe musical e utilizando recursos musicais interditos pelo academismo de vanguarda. Nesta peça, em concreto, a ênfase é posta no elemento rítmico e na utilização de pulsação regular e da repetição como elemento estrutural. Toda a peça consiste num longo ostinato rítmico sobre uma harmonia estática que privilegia os intervalos consonantes. Apesar do título, não se trata de uma peça no estilo de Ligeti, mas de uma celebração festiva desse compositor que foi, na segunda metade do século XX, um notável exemplo de independência face ao sistema. Por outro lado, a escrita despretensiosa, minimal e pesada, e os ritmos primários e sincopados parecem remeter para o universo da música rock.

 

“Concerto Vedras”, escrito em 2001, num período de grande profusão criativa, é uma composição seminal no percurso de Nuno Côrte-Real, que coincide com o final da estadia do compositor na Holanda, após seis longos anos de estudo. Esta obra, como outras deste período, traduz uma libertação da estética académica e do estilo impessoal “imposto” pelas instituições musicais.  Por outro lado, do ponto de vista pessoal e expressivo é uma obra ditada por uma forte carga afetiva e emotiva, uma homenagem nostálgica à cidade de Torres Vedras, onde o compositor cresceu.

 

Em “Sinfonia Noa Noa”, Nuno Côrte-Real faz uma homenagem sinfónica ao pintor francês Paul Gauguin. Ainda que proveniente de outra esfera artística, Gauguin tem sido para Côrte-Real uma figura inspiradora e exemplar, um símbolo de liberdade, um farol, um mestre latente. A Sinfonia Noa Noa procura transpor para música o exuberante universo cromático, o exotismo e a fragrância taitiana (o «noa noa») que emana da pintura de Gauguin.

 

“Todo o Teatro é um muro branco de música”, abertura concertante, é inspirada na última secção do poema “Chuva oblíqua”, de Fernando Pessoa. O compositor confere ao clarinete e ao piano uma função concertante, em busca de uma expressão musical convencional, assente na dualidade melodia e ritmo, através da qual o compositor pretende restituir à música a dimensão humana e emotiva que a arte árida e geométrica das vanguardas havia suprimido.

 

Por fim, “Abertura Secondo Novecento” composta em 2006, é uma celebração da música da segunda metade do século XX em todo o seu pluralismo e diversidade. Segundo a visão académica essa é uma época dominada pelo absolutismo das vanguardas, uma época em que, a partir de um sistema de interdições, é suprimida a percepção auditiva e a emoção estética. Nuno Côrte-Real recusa essa visão estreita e propõe-se celebrar esse meio século de enorme riqueza e pluralidade, no qual coexistiram músicas tão diversas e compositores das mais variadas linhas estilísticas. Côrte-Real utiliza de forma criptográfica, escondidas na partitura, diversas técnicas ou referências estilísticas associadas ao Secondo Novecento, como, por exemplo, técnicas seriais ou simples evocações da música para cinema, mas recusa todas as interdições que se oponham a uma articulação musical sensível. E o resultado final é uma explosão de êxtase.

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