Salvador Dali & Igor Wakhevitch - Etre Dieu (1974)

 

Partitura de Igor Wakhevitch para o audiovisual «ópera poema» de Salvador Dali (inicialmente escrito em 1927, mas gravado em 1974). Esta é uma comédia musical obsessiva, decadente, surrealista, provocativa, grotesca, mística e erótica com narrativas e improvisações de Salvador Dali (em francês). A música serve perfeitamente as vozes de Dali e de outros atores com uma mistura de estranhos loops de sintetizador, ambientes lisérgicos assustadores, arranjos expressionistas de orquestra de cordas e abstrações percussivas. Este é claramente um trabalho visual para os ouvidos e maravilhosamente impregnado de imagens mentais e sugestões oníricas. Uma exposição audiovisual intrigante e ambiciosa que continua realmente vanguardista com muitas ideias e uma atmosfera diferente para cada cena. Não é um clássico do rock progressivo, mas um fenômeno histórico com uma pintura musical abstrata excêntrica e única. 

Esta não é uma travessura conceitual e brincalhona, mas um golpe de mestre musical sério e faraônico, carregado com uma cornucópia de ideias e práticas progressistas que respeitam a arquitetura sonora e a composição teatral. Uma das músicas religiosas mais aventureiras, desafiadoras, dinâmicas, etéreas, medonhas que já ouvi. Pense em Ghédalia Tazartès profundamente enraizada na tradição da música clássica de vanguarda europeia. Acredito que passei pelas batidas multidimensionais de Varèse, Xenakis glissandi, graça e pureza operística em assentos VIP, a mística sublime de cantos quase heréticos, a eloquência do fluxo de consciência dos dissidentes franceses, os primeiros burburinhos eletrônicos, drones hadesianos, uma horda de pessoas malucas (incluindo Ghédalia Tazartès) e sons perturbados, todos os tipos de climas inclementes e, o mais chocante, licks de guitarra progressivos que se estendem o suficiente para formar um número de rock psicodélico que lembra Hot Rats de Frank Zappa. Essa foi a minha palavra.