sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Arcadia “So Red The Rose” (1985)

O final da digressão mundial que se seguiu à edição do álbum “Seven and the Ragged Tiger” exibia entre os elementos dos Duran Duran alguns sinais de tensão que só umas férias podiam resolver. John e Andy Taylor começaram então uma série de sessões de gravações para as quais chamaram alguns outros músicos, desse corpo de trabalho emergindo uma nova banda – os Power Station – e um álbum de maior fôlego rock e animado por um interesse rítmico por heranças do funk que seria lançado logo no início de 1985. Por seu lado os três outros elementos dos Duran Duran – Simon Le Bon, Nick Rhodes e Roger Taylor (que colaborou no disco dos Power Station) – reuniam-se no estúdio La Grande Armée, em Paris e, entre abril e junho desse mesmo ano, e ao mesmo tempo que ultimavam a edição de “A View to a Kill”, criaram um conjunto bem distinto de canções. E, delas surgiria também uma banda – a que chamaram Arcadia – e um álbum que, com o título “So Red the Rose”, foi lançado a 18 de novembro de 1985.

So “Red The Rose” teve em “Election Day” um cartão de visita que desde logo sugeriu um trabalho meticuloso em estúdio numa canção de cenografia cuidada e nada minimalista e que, mesmo explorando novas ideias, não se afasta, como o fizeram os Power Station, dos caminhos recentes da obra dos Duran Duran. O trabalho protagonista das teclas, espalhado por várias camadas de acontecimentos e a presença vocal de Simon Le Bon garantem essa assinatura genética comum aos Duran Duran. A voz convidada de Grace Jones, uma utilização diferente das guitarras (onde colaborava Masami Tsuchiya, que acompanhara os Japan na sua etapa final) e toda uma construção visual que vincou sinais de uma admiração pela obra de Jean Cocteau, marcavam elementos distintivos.

O álbum aprofundaria uma vontade em explorar o detalhe cénico na produção e acrescentou ainda marcas da cultura latina (bem evidentes em “El Diablo” e na própria criação das imagens que acompanharam o grafismo que dá corpo ao disco), aproximando-se de caminhos comuns aos da música dos Duran Duran em vários momentos, não deixando contudo nunca de ensaiar novas possibilidades, como se escuta por exemplo nas atmosferas que desenham o instrumental “Rose Arcana”, “Missing” ou “Lady Ice”, que encerra o alinhamento. Temas como “Goodbye is Forever”, “The Flame” (ambos editados em single) e “Keep Me In The Dark” refletem outras afinidades naturais com os caminhos da pop com DNA funk que os Duran Duran trilharam em meados dos anos 80, tendo esta última conhecido natural herdeiro em “American Science” do álbum “Notorious” gravado no ano seguinte. “The Promise”, que chamou a estúdio colaborações como as de David Gilmour (Pink Floyd) ou Sting, representa outro dos momentos maiores do disco mas que, apesar de editado como segundo single na Europa, já não repetiu o impacte de “Election Day”.

Apesar de encarado com indiferença pela crítica da altura, o álbum representou um episódio de afirmação de uma das facetas mais cenograficamente elaboradas da obra da “família” Duran Duran, conhecendo descendências evidentes em vários discos posteriores do grupo e de projetos a solo, do single “Grey Lady of the Sea” de Simon Le Bon a projetos nos quais Nick Rhodes teve um papel preponderante. Encarado no corpo da obra total dos músicos envolvidos, e conhecidas as flutuações de formação que os Duran Duran conheceram de 1986 para cá, “So Red The Rose” só não consta na lista da discografia oficial do grupo porque de facto nasceu como projeto paralelo… Mas se em vez de Arcadia se lesse Duran Duran na capa, não haveria certamente sobressaltos de maior… Este é, de resto, um dos melhores títulos de toda a obra gravada por músicos dos Duran Duran. E não o único episódio em que um certo gosto exploratório entre eles se manifestou.



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