Mas David realmente queria dar um tempo durante os anos 1990. Seu próximo trabalho sairia apenas em 1997 com o título de Restless Heart, e a ideia original era de que fosse um álbum solo, porém a gravadora conseguiu colocar um Whitesnake em letras garrafais na capa. As novas edições, inclusive, já nem trazem o nome da David Coverdale na capa, com o disco se transformando, definitivamente, em um álbum do Whitesnake. Essa fase rendeu também o acústico Starkers in Tokyo, onde o vocalista apresenta versões acústicas de clássicos da banda ao lado do guitarrista Adrian Vandenberg, que tocou no aclamado Whitesnake (1987) e também em Slip of the Tongue e Restless Heart.
O último capítulo da tentativa de Coverdale em se descolar do Whitesnake foi Into the Light, lançado no final de setembro de 2000. Na prática, trata-se do seu terceiro álbum solo, fazendo companhia a White Snake (1977) e Northwinds (1978). Into the Light é um disco predominantemente baladeiro, com canções que, mesmo explorando esta abordagem, não escorregam para algo meloso demais, explorando influências como blues e soul que as deixam mais equilibradas e com um tom mais reflexivo e menos romântico. Coverdale se cercou de um timaço de músicos, incluindo nomes como o guitarrista Earl Slick (David Bowie, John Lennon), o baixista Marco Mendoza (Thin Lizzy, Journey e mais tarde integrante do próprio Whitesnake), Tony Franklin (David Gilmour, The Firm, Kate Bush) e o baterista Denny Carmassi (Montrose, Stevie Nicks, Sammy Hagar). O resultado foi um álbum com uma sonoridade bem característica, e que difere do que ouvimos nos discos do Whitesnake, sejam os trabalhos da fase chapéu-e-bigode ou os discos da era glam metal.
Into the Light traz doze canções, a grande maioria composta por David Coverdale ou em parceria com Slick, com direito a uma dobradinha com Vandenberg na faixa-título. Há momentos muito bons como “River Song”, a zeppeliana “She Give Me”, a linda “Love is Blind” e a poderosa “Don’t Lie to Me” ao lado de canções realmente ótimas como “Slave”, “Cry for Love” e belíssima música que batiza o disco.
Apesar de não ter sido um sucesso na época, Into the Light envelheceu maravilhosamente bem e é um álbum que teve suas qualidades acentuadas com o tempo, com uma performance vocal excelente de Coverdale, instrumental impecável e canções muito fortes, que mesmo esquecidas pelo artista e pelo próprio Whitesnake possuem força para cativar novos fãs e impressionar aqueles que, por ventura, ainda não colocaram os ouvidos nesse disco.
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