Foi editado em 1978 e representou um dos momentos de maior sucesso de uma ideia pop/rock criada por uma banda nascida na Europa de Leste.
A “cortina de ferro” não era coisa estanque e, apesar das tentativas de filtragem da informação, fluxos ocorriam entre uma Europa que vivia dividida em tempos de guerra fria. Um dos mais célebres exemplos desta vontade em comunicar, conhecer e partilhar ocorreu na Hungria, com os Omega, uma banda que, nascida em 1962, com vida longa até 2021 (e o fim foi ditado pela morte do seu vocalista e principal âncora criativa), representou uma das principais vozes da cultura pop/rock no leste europeu antes da derrocada dos regimes que ali tinham nascido depois do fim da II Guerra Mundial.
Começaram por tocar versões (chegaram mesmo a gravar e editar num single o Paint it Black dos Rolling Stones) mas, depois de 1967, a escrita de originais determinou a fixação de rumos, ao mesmo tempo que a música ia traduzindo ecos dos sinais do tempo da cultura pop/rock internacional. Cativaram primeiras atenções internacionais na Alemanha Oriental quando o psicadelismo estava na ordem do dia. Mas foi já sob um encantamento evidente pelos caminhos depois abertos pelo rock progressivo que encontraram o terreno que lhes deu não só os seus discos mais marcantes, como também lhes proporcionaram um alargamento a outras geografias, processo que em parte se deveu também ao facto de terem começado (depois de 1973) a criar versões bilingues dos seus discos, lançando por um lado as canções nas suas formas originais em húngaro, ao mesmo tempo apresentando, em discos criados em paralelo, as respetivas leituras em inglês.
Data da segunda metade da década de 70 uma etapa que ligou os Omega a uma ideia de rock cósmico, diretamente nascido do sentido de complexidade de sons e formas explorados já em terreno progressivo, mas juntando aqui não apenas temáticas de outras dimensões mas também a presença de sons criados por ferramentas electrónicas e um labor de sonoplastia que juntava às canções uma noção diferente de espaço.
Gravado na Hungria, depois com segunda vida (em língua inglesa, em sessões registadas na Alemanha), Csillagok Útján é o disco que fixa o momento maior desta etapa cósmica na obra dos Omega. O oitavo álbum do grupo nascido em Budapeste abre ao som de uma citação à Sinfonia Nº 5 de Beethoven e caminha depois, faixa a faixa, por espaços de progressiva surpresa, não repetindo ambientes entre si, construindo uma sucessão de momentos que vão do minimalismo de Lena (que convoca uma ideia de inverno russo) às dimensões ambientais de Égi Vándor, passando pelo flirt nas periferias do hard rock de Metamorfózis I. Sucessor do álbum de 1976 que internacionalmente chamou atenções na sua versão inglesa sob o título Time Robber (Időrabló no original), Csillagok Útján acabaria por se transformar no título de referência maior na obra dos Omega, estatuto depois reforçado pela versão traduzida que surgiu ainda em 1978 como Skyrover. Com afinidades com a paleta de sons de uns Pink Floyd e, como já foi notado em textos, com uma capa que ora faz lembrar a linguagem pop de uns Abba, ao que eu acrescentaria um certo glamour ao jeito do livro de estilo da patinagem artística, Csillagok Útján conquistou um lugar de destaque na história pop/rock cantada em línguas que não a inglesa.
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