Ah! Quel Cinéma! é o novo longa duração dos Stereo Total. É, sobretudo, um disco de verão para um verão que não chega. Talvez por isso soe tão bem este som rétro.
Os Stereo Total não são muito conhecidos por cá. Apesar de existirem há muitos e bons anos, a dupla que os compõe (Françoise Cactus e Brezel Göring) tem passado despercebida por muita gente lusa. No entanto, com novo disco na bagagem, o duo continua igual a si próprio, fazendo da música um manifesto multilinguístico e multiartístico, uma vez que, em relação a este último aspeto, parecem fazer música para um filme que apenas lhes corre na cabeça e não num qualquer grande ecrã e, em relação ao primeiro, são várias as línguas cantadas, destacando-se o alemão, o francês e o inglês. Com Ah! Quel Cinéma!, os Stereo Total estão de regresso. Tinham estado três anos em silêncio, mas hei-los de novo com o seu característico som festivo e cinematográfico. Pequenas canções cheias de ritmo, cheias de alma, feitas com um som e um tempo em que há muito habitam. Bem-vindos ao passado, Stereo Total!
Afinal, quem são e o que fazem há anos os Stereo Total? A resposta mais simplista dá-se em poucas linhas: uma banda franco-alemã que existe desde 1993. Parece que não se levam muito a sério, o que só lhes fica bem, e não estarão interessados em mais do que a terem direito à diversão, enquanto tentam divertir os outros. Parece pouco? Talvez seja, mas é assim que vão aparecendo no mundo desde o longínquo Oh! Ah!
É impossível não pensarmos nos The B-52’s, nas Deixei de Ser Sexy ou, de certa maneira, nas Chicks on Speed quando ouvimos os Stereo Total. No entanto, a frase anterior não pretende ser uma comparação, mas apenas uma referência para que se perceba um pouco melhor o que fazem Françoise e Brezel, sobretudo para aqueles que nunca passaram os ouvidos pelos discos da banda. Neste Ah! Quel Cinéma! há de tudo um pouco. Canções sobre problemas pessoais, sobre drogas e os seus efeitos, sobre desonestidades e traições, sobre vidas complicadas e sem rumo, sobre suicídios. Parece um filme. Imagine-se Godard como compositor e maestro de todos os sons, misto de colagens retiradas de Week-End, de Sauve Qui Peut (La Vie) com o toque de romance musical de Une Femme est Une Femme. Loucura e diversão em boa dose e poderemos passar uma bela tarde a ouvir as excentricidades de Ah! Quel Cinéma! Boas canções há muitas, a saber: “Ich Bin Cool”, “Mes Copines” (onde se rima “copine” com “aspirine”), “Cinemascope”, “My Idol”, “Hass-Satellit”, “Brezel Says” (com intro do histórico e mítico Casio VL-Tone lançado em 1979 e voz de Brezel a lembrar Lou Reed) ou “Dancing With a Memory”. Todas as restantes (elas são catorze no total) não desmerecem e vão ganhando o seu espaço a cada audição. A receita para ouvir os Stereo Total é irmos na onda sem fazermos grandes juízos de valor. Mas, se os fizermos, chegaremos à conclusão que os Stereo Total não serão tão descartáveis como se poderá julgar à partida. O mesmo é válido para Ah! Quel Cinéma!.
Que diabo, um título de um disco com dois pontos de exclamação não pode ser coisa para se menosprezar! Para mais, é um disco para o verão que ainda está para chegar. A estação pode estar mais silly do que nunca, mas o disco não.
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